SARTRE E A GÊNESE DO FENÔMENO NO CIRCUITO DA IPSEIDADE

  • Gabriel Gurae Guedes Paes

Resumo

Em O ser e o nada, para que haja o fenômeno, é preciso o concurso de um ser que seja suaprópria descompressão de ser, um ser que, sendo seu próprio nada, faça com que o mundo sefenomenalize enquanto assombrado (hanté) por este nada, em direção a uma totalização que nuncapode se totalizar, pois o fechamento em uma totalidade compacta seria anular a descompressão de serque é abertura do próprio fenômeno enquanto fenômeno. Este movimento de totalização que nunca sepreenche caracteriza a ipseidade do para-si. O fenômeno, quer o consideremos da perspectiva ôntica doque nos aparece no mundo cotidiano ou da perspectiva ontológica dos modos de ser implicados no queaparece, pressupõe a estrutura ontológica da ipseidade. Além disso, a questão do fenômeno em O ser eo nada não se resume a uma questão ontológica, pois, ao interrogar à gênese do fenômeno, Sartrecircunscreve o problema em uma metafísica que indaga sobre o que teria ocorrido para que o em-si,antes do surgimento da realidade-humana, se descomprimisse para tornar-se para-si. A concepção defenômeno como tendo origem no próprio modo de ser do para-si como ipseidade e a passagem entre aontologia e a metafísica marcam a originalidade do modo como Sartre assimila a fenomenologia em Oser e o nada. Com esta leitura, apoiada em Flajoliet e Bento Prado Jr, reforçamos as linhasinterpretativas que exigem o estudo da obra de Sartre em toda sua variedade de expressões, pois estavariedade não está circunscrita apenas na relação entre filosofia e ficção, visto que na própria obrafilosófica de Sartre há “modalidades” distintas de expressões filosóficas como a ontologiafenomenológica e a metafísica que, ao serem atravessadas, tornam mais profunda a compreensão daipseidade.
Publicado
2023-06-13
Seção
Artigos