SARTRE E A GÊNESE DO FENÔMENO NO CIRCUITO DA IPSEIDADE
Resumo
Em O ser e o nada, para que haja o fenômeno, é preciso o concurso de um ser que seja sua
própria descompressão de ser, um ser que, sendo seu próprio nada, faça com que o mundo se
fenomenalize enquanto assombrado (hanté) por este nada, em direção a uma totalização que nunca
pode se totalizar, pois o fechamento em uma totalidade compacta seria anular a descompressão de ser
que é abertura do próprio fenômeno enquanto fenômeno. Este movimento de totalização que nunca se
preenche caracteriza a ipseidade do para-si. O fenômeno, quer o consideremos da perspectiva ôntica do
que nos aparece no mundo cotidiano ou da perspectiva ontológica dos modos de ser implicados no que
aparece, pressupõe a estrutura ontológica da ipseidade. Além disso, a questão do fenômeno em O ser e
o nada não se resume a uma questão ontológica, pois, ao interrogar à gênese do fenômeno, Sartre
circunscreve o problema em uma metafísica que indaga sobre o que teria ocorrido para que o em-si,
antes do surgimento da realidade-humana, se descomprimisse para tornar-se para-si. A concepção de
fenômeno como tendo origem no próprio modo de ser do para-si como ipseidade e a passagem entre a
ontologia e a metafísica marcam a originalidade do modo como Sartre assimila a fenomenologia em O
ser e o nada. Com esta leitura, apoiada em Flajoliet e Bento Prado Jr, reforçamos as linhas
interpretativas que exigem o estudo da obra de Sartre em toda sua variedade de expressões, pois esta
variedade não está circunscrita apenas na relação entre filosofia e ficção, visto que na própria obra
filosófica de Sartre há “modalidades” distintas de expressões filosóficas como a ontologia
fenomenológica e a metafísica que, ao serem atravessadas, tornam mais profunda a compreensão da
ipseidade.
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