Memórias do “sonho desagradável”
Escravidão atlântica e musealização a partir da região do Valongo
Resumo
O Rio de Janeiro foi o maior porto escravagista das Américas. Esta afirmativa ganhou maiores proporções a nível local e global, a partir do reconhecimento do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial em 2017. Em torno do Valongo, um antigo complexo escravista, diferentes atores sociais vinham exigindo a criação de um museu público, de modo a narrar a presença negra na história do Cais, do Brasil e do mundo atlântico. Este artigo analisa tais demandas por musealização, visando identificar enquadramentos de narrativas de dor e sofrimento associadas a este lugar de memória sensível e utilizados em releituras do passado escravista desenvolvidas por diferentes agentes na cena pública. Para tanto, tem como foco de análise textos publicados em redes sociais virtuais e na imprensa, em janeiro de 2017, acerca da intenção da municipalidade de criar um museu sobre a escravização atlântica. Considera, por fim, que a complexidade da construção de narrativas públicas de dor e sofrimento transita entre o não reconhecimento social da violência política dos crimes da escravidão e do racismo, a dificuldade de suplantar memórias coloniais de desumanização e as lutas políticas históricas pela afirmação de resistências negras.
Palavras-chave: Musealização; Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), Cais do Valongo.