Memórias do “sonho desagradável”

Escravidão atlântica e musealização a partir da região do Valongo

  • Desirree dos Reis Santos Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
  • Elizabete de Castro Mendonça Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
  • Monica Lima e Souza Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo

O Rio de Janeiro foi o maior porto escravagista das Américas. Esta afirmativa ganhou maiores proporções a nível local e global, a partir do reconhecimento do Cais do Valongo como Patrimônio Mundial em 2017. Em torno do Valongo, um antigo complexo escravista, diferentes atores sociais vinham exigindo a criação de um museu público, de modo a narrar a presença negra na história do Cais, do Brasil e do mundo atlântico. Este artigo analisa tais demandas por musealização, visando identificar enquadramentos de narrativas de dor e sofrimento associadas a este lugar de memória sensível e utilizados em releituras do passado escravista desenvolvidas por diferentes agentes na cena pública. Para tanto, tem como foco de análise textos publicados em redes sociais virtuais e na imprensa, em janeiro de 2017, acerca da intenção da municipalidade de criar um museu sobre a escravização atlântica. Considera, por fim, que a complexidade da construção de narrativas públicas de dor e sofrimento transita entre o não reconhecimento social da violência política dos crimes da escravidão e do racismo, a dificuldade de suplantar memórias coloniais de desumanização e as lutas políticas históricas pela afirmação de resistências negras. Palavras-chave: Musealização; Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL), Cais do Valongo.

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Biografia do Autor

Desirree dos Reis Santos, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Doutoranda em Museologia e Patrimônio pelo PPG-PMUS (UNIRIO/MAST), com pesquisa sobre patrimonialização e musealização do sítio histórico e arqueológico Cais do Valongo, Patrimônio Mundial (UNESCO). Possui graduação em História (UFRJ) e Arquivologia (UNIRIO), Mestrado em História Social da Cultura (PUC-Rio) e treinamento em Metodologias de Pesquisa de Públicos em Museus (University of Leicester, UK). Foi coordenadora do projeto Territórios Negros: Patrimônio e Educação na Pequena África/RJ (Instituto 215NEGRAM UFRJ) e consultora UNESCO no projeto de concepção do "Museu de Território e gestão compartilhada do Cais do Valongo". Atuou como Gerente Técnica do Museu do Samba/RJ. Integra a Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (HN). E é pesquisadora do Observatório do Patrimônio Cultural do Sudeste, do Núcleo de História Oral e Memória (NUHOMTEMPO/UFRJ) e do Núcleo Multidimensional de Gestão do Patrimônio e Documentação em Museus (NUGEP/UNIRIO).
Elizabete de Castro Mendonça, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Graduada em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Mestra em Economia da Cultural e Gestão Cultural pela Universidad de Valladolid. Mestra e Doutora em Artes Visuais - com ênfase na linha de pesquisa Imagem e Cultura - pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desenvolveu pesquisa de Pós-Doutoramento intitulada "Documentação em Museus e Salvaguarda do Património Imaterial: desafios e potencialidades da Gestão Integrada do Património como instrumento de Democracia Cultural em museus portugueses e brasileiros", na área de Museologia, no Departamento de Ciências e Técnicas do Património, da Universidade do Porto. Atualmente é Professora Associada IV, com dedicação exclusiva, do Departamento de Estudos e Processos Museológicos (DEPM/UNIRIO) e do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS/UNIRIO-MAST). Coordenadora do Núcleo Multidimensional de Gestão do Patrimônio e Documentação em Museus (NUGEP), Unirio.
Monica Lima e Souza, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Professora de História da África, do Programa de Pós-graduação em História Social (PPGHIS) e do Programa de Pós-graduação em Ensino de História (PPGEH) do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IH-UFRJ). Coordenadora do Laboratório de Estudos Africanos(LEÁFRICA) no IH-UFRJ. Atua desde 1992 com ensino de história da África, da diáspora africana e dos africanos no Brasil, em cursos de graduação e pós-graduação. Pesquisou em arquivos e centros de documentação na África, na Europa e no Brasil. Ministrou conferências e publicou artigos, no Brasil e no exterior, sobre história da África, da diáspora africana e ensino de história da África e dos africanos no Brasil. Editora científica da área de Ciências Humanas da revista Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças. Foi professora de História na Educação Básica na rede pública estadual do Rio de Janeiro e no Colégio de Aplicação da UFRJ(1984-2010) - onde dirigiu a formação de professores por oito anos. Coordenou a pesquisa na área de História no grupo técnico que redigiu o dossiê do Cais do Valongo a Patrimônio Mundial e foi consultora do projeto de Museu de Território na Pequena África para o Instituto de História e Cultura Afro-brasileira (IHCAB). Integra a Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (HN). Coordenadora-Geral de Articulação de Projetos e Internacionalização do Arquivo Nacional desde setembro de 2023.
Publicado
2024-07-28