Memórias e narrativas em risco

tecnocientismo, infocracia e a reexistência das bibliotecas vivas

Resumo

Este artigo analisa os processos de apagamento da memória na contemporaneidade, interrogando como o tecnocientismo e a infocracia — regimes baseados no domínio da informação e da técnica — operam como instrumentos políticos de espoliação do saber e da experiência vivida. Partindo da crítica aos arranjos simbólicos hegemônicos, que subordinam a cultura à lógica da eficiência e do controle, questiona-se: em um mundo dominado pela inteligência artificial, as bibliotecas universais e os saberes locais podem ser substituídos por ferramentas como chatbots? Para responder a essa provocação, o estudo explora a tensão entre conhecimento globalizado e oralidade, destacando as "bibliotecas vivas" como espaços de resistência e reancoragem do ser. Por meio de uma reflexão teórico-crítica, demonstra-se que a preservação da memória depende não apenas da técnica, mas da valorização de saberes ancestrais e da palavra como veículo de circulação sociocultural. O artigo conclui propondo caminhos para integrar tecnologias digitais à salvaguarda da oralidade e saber local, sem descaracterizar sua essência, e reafirma o conceito de "bibliotecas vivas" como um amálgama de potencialidades capaz de fomentar diálogos entre passado, presente e futuro. Por fim, sugere-se a necessidade de novas práticas que articulem diversidade cultural e avanços tecnológicos, evitando a homogeneização dos patrimônios imateriais.

Biografia do Autor

Edison Luís dos Santos, Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP)

Pesquisador do IEA/USP, bacharel em Linguística - FFLCH-USP (2003) e graduado em Biblioteconomia - ECA-USP (2009); concluiu Mestrado (2013) e Doutorado (2018) em Ciência da Informação, pela Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo. Em 2022 concluiu projeto de Pós-Doutorado no Instituto de Estudos Avançados, sob a supervisão do Prof. Dr. Teixeira Coelho (In memoriam). É colaborador do Grupo “Estudos Abertos em Ontologias” do CBD/ECA/USP e do grupo de pesquisa “Estudos Transdisciplinares das Heranças Africana e Indígena”, da Universidade Paulista (UNIP). Atualmente coordena projeto social da UNICEF/Criança Esperança, na formação e desenvolvimento do acervo digital da Biblioteca Multicultural Obá Biyi, além de realizar trabalho voluntário na Escola Pluricultural Odé Kayodê e participar do Coletivo Egbé Odé Kayodê, espaços culturais de matriz afro indígena, sediados no território simbólico de Vila Esperança (GO).

Publicado
2025-07-30