Memórias e narrativas em risco
tecnocientismo, infocracia e a reexistência das bibliotecas vivas
Resumo
Este artigo analisa os processos de apagamento da memória na contemporaneidade, interrogando como o tecnocientismo e a infocracia — regimes baseados no domínio da informação e da técnica — operam como instrumentos políticos de espoliação do saber e da experiência vivida. Partindo da crítica aos arranjos simbólicos hegemônicos, que subordinam a cultura à lógica da eficiência e do controle, questiona-se: em um mundo dominado pela inteligência artificial, as bibliotecas universais e os saberes locais podem ser substituídos por ferramentas como chatbots? Para responder a essa provocação, o estudo explora a tensão entre conhecimento globalizado e oralidade, destacando as "bibliotecas vivas" como espaços de resistência e reancoragem do ser. Por meio de uma reflexão teórico-crítica, demonstra-se que a preservação da memória depende não apenas da técnica, mas da valorização de saberes ancestrais e da palavra como veículo de circulação sociocultural. O artigo conclui propondo caminhos para integrar tecnologias digitais à salvaguarda da oralidade e saber local, sem descaracterizar sua essência, e reafirma o conceito de "bibliotecas vivas" como um amálgama de potencialidades capaz de fomentar diálogos entre passado, presente e futuro. Por fim, sugere-se a necessidade de novas práticas que articulem diversidade cultural e avanços tecnológicos, evitando a homogeneização dos patrimônios imateriais.