O presente número da Revista Caderno de Letras propõe focar em como se configura a função crítica enquanto distintiva de uma série de suportes discursivos difundidos na América Latina cuja definição se revela instável em relação a gêneros mais tipicamente definidos. Para dar conta da função crítica, uma das produções idôneas é a forma ensaística, que não se preocupa tanto com a fundamentação de seus enunciados nem se ajusta a uma estrutura precisa, mas antes se associa à deriva do pensamento que é própria do ensaio (Barthes, 1953; Grüner, 2014). A esta forma “lateral” da crítica é necessário agregar outros espaços em que ela se inscreve, como as correspondências que se tramam entre intelectuais e oferecem a alternativa de desenhar uma figura de crítico mais consistente do que aquela que permitem os livros e artigos dos autores envolvidos. Ademais, os epistolários permitem o acesso a uma área com frequência fechada ao leitor, como aquela que dá conta dos obstáculos e hesitações no exercício da crítica: postular ideias inovadoras, estabelecer polêmicas, fundar repositórios e promover diálogos. Algo semelhante acontece com os diários íntimos ou pessoais nos quais são registradas experiências de leitura. Outro género que repetidamente se prestou ao pronunciamento crítico é a crônica (quando se trata de textos e não de outro tipo de experiência), que por vezes é identificada com o ensaio por ambos suportarem uma definição excepcional no quadro das obrigatórias. Assim como o ensaio é “o centauro dos gêneros” (Alfonso Reyes), a crônica é “o ornitorrinco da prosa” (Juan Villoro). Mais próximas das formas tradicionais da crítica estão as revistas estão, embora aqui se proponha considerá-las não apenas como um lugar onde se recolhem artigos críticos, mas também como redes discursivas (Foucault) e formações (Williams) nas quais se manifestam grupos específicos com orientações críticas definidas e inclusive militantes.   Portanto, para este número da Caderno de Letras serão recebidas contribuições que tenham como foco os seguintes objetos latino-americanos, abordados tanto individualmente quanto em combinação entre si: -  Ensaios críticos -  Crônicas de livros - Experiências de leitura plasmadas em escrituras de si: epistolários, diários pessoais, confissões, autobiografias. -  Revistas marcadas por uma orientação crítica determinada (referentes a uma tendência pontual, difusoras de um fenómeno ou grupo de autores, articuladoras de conjuntos intelectuais, etc.).