LASTROS DE MEDEIA: O FEMININO MONSTRUOSO EM ANTICRISTO (2009), DE LARS VON TRIER

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Saulo Lopes de Sousa
http://orcid.org/0000-0001-6290-5954
Claudio Vescia Zanini
https://orcid.org/0000-0003-3688-324X

Resumo

O artigo coteja uma análise das reverberações do mito de Medeia na narrativa fílmica Anticristo (2009), do cineasta dinamarquês Lars von Trier, como aceno à estética da monstruosidade. Nossa intenção é refletir acerca da reconstrução do referido mito na obra audiovisual, cujo ponto de culminância incide sobre a personagem feminina e seus dilemas psíquico-emocionais, que a aproximam da persona trágica. Para tanto, o caminho de leitura considera os processos interiores por que passa a protagonista como vislumbre arquetípico da Mãe terrível (JUNG, 1997), perspectiva adotada para balizar a problematização do monstruoso-feminino (CREED, 1986) no horizonte fronteiriço do insólito. Sob tutela dos contributos teóricos da Narratologia cinematográfica, da Mitocrítica e dos Estudos de monstruosidade, buscamos rastrear, em cenas específicas, vestígios, símbolos e metáforas que sinalizam a presença intratextual do mito e da figura de Medeia como floração do “monstro de dentro”.

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Como Citar
de Sousa, S. L., & Zanini, C. V. (2023). LASTROS DE MEDEIA: O FEMININO MONSTRUOSO EM ANTICRISTO (2009), DE LARS VON TRIER. Caderno De Letras, (45), 73-94. https://doi.org/10.15210/cdl.vi45.22503
Seção
Dossiê
Biografia do Autor

Saulo Lopes de Sousa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Instituto Federal do Maranhão (IFMA)

Doutorando em Estudos de Literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPG Letras/UFRGS), mestre em Teoria Literária pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), membro do Grupo de Pesquisa Langage & Catharsis (CNPq/IFMA) e do GELITI - Grupo de Estudos Literários e Imagéticos (CNPq/UEMASUL). Docente do Instituto Federal do Maranhão (IFMA).

Claudio Vescia Zanini, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Professor adjunto de literaturas de língua inglesa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com atuação na graduação e vínculo como professor permanente no Programa de Pós-Graduação da UFRGS. É membro da International Gothic Association (IGA) e do Grupo de Trabalho Vertentes do Insólito Ficcional da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL). É membro-fundador do grupo de pesquisa Estudos do Gótico (CNPq), membro do grupo de pesquisa Vertentes do Fantástico na Literatura (CNPq), líder do núcleo de estudos GHOST (Gothic, Horror, Oneiric, Supernatural, Terror) na UFRGS, e líder do eixo Global Horror do projeto Progressive Connexions, sediado em Oxford, Inglaterra.

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