REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DO ESTIGMA NA PRODUÇÃO TEXTUAL NA PENITENCIÁRIA ESTADUAL DO RIO GRANDE

  • Cláudia Carneiro Peixoto Universidade Federal do Rio Grande
  • Luciana Paiva Coronel Universidade Federal do Rio Grande

Resumo

RESUMO: O presente trabalho, vinculado ao Projeto de Extensão de Remição pela Leitura “Ler é Liberdade”, desenvolvido com doze presos, em isolamento, nas celas do denominado “seguro”, destinado, via de regra, a presos condenados por crimes contra a liberdade sexual, que sofrem ameaças de morte, membros de facções, e LGBTs,  na Penitenciária Estadual do Rio Grande, objetiva, a partir da abordagem metodológica baseada na pedagogia de Paulo Freire, analisar a percepção do estigma provocado pelo sistema prisional. No primeiro encontro com os educandos do projeto, foi proposta uma atividade em cartolina, denominada “Meu mundo, minha palavra”, em que os educandos interagiam espontaneamente. As seguintes palavras foram aportadas: preconceito; respeito; atitude; compreensão; companheirismo; escutar; deserto; lembranças; carinho; solidariedade; cidadania; aprender mais; taxado; injustiça e impunidade. O léxico apresentado pelos educandos direcionou as reflexões nos encontros posteriores, seguidos pela leitura do livro O pequeno Príncipe. Destacamos a palavra “taxado”, conquanto tenha se sobressaído nas reflexões dos educandos além de estar presente em uma das imagens produzidas, na representação dos obstáculos enfrentados pelo egresso a fim de se inserir no mercado de trabalho. Em correspondência com a apreensão de estigma exposta por Goffman, os educandos percebem termo “taxado” no cotidiano prisional como um julgamento depreciativo que os define, inclusive para além da prisão e, em face do qual, um sentimento de impotência, injustiça, revolta e resignação se instala. Entendemos que a representação de sentimentos permite a apropriação da realidade e oportuniza uma pequena libertação simbólica do peso da experiência carcerária.

Biografia do Autor

Cláudia Carneiro Peixoto, Universidade Federal do Rio Grande
Mestre em Ética e Filosofia Política e Especialista em Filosofia do Direito. Possui experiência na área de Direito, Sociedade e Estado. Atua principalmente nos seguintes temas: Hannah Arendt, cidadania, educação, ética, Direitos Humanos, Direito e Literatura. Coordena o projeto de extensão "Direito e Literatura", na Faculdade Anhanguera de Rio Grande. Advogada em Rio Grande.
Luciana Paiva Coronel, Universidade Federal do Rio Grande
Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (2004), pós-doutora junto à Università degli Studi di Genova (Itália), com a supervisão de Roberto Francavilla (bolsista CAPES). É professora da área de Literatura Brasileira e do Programa de História da Literatura da Universidade Federal do Rio Grande. Faz parte do GT Literatura Brasileira Contemporânea da ANPOLL Tem experiência nas áreas de História e Letras, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura brasileira contemporânea, literatura de periferia, vozes marginais, escritos do cárcere, literatura e ditadura.
Publicado
2021-08-13