O lacre da memória: o arquivo sensível de Aurora Rodrigues e a resistência à ditadura portuguesa

  • Paula Godinho

Resumo

Neste artigo proponho uma reflexão a partir dos materiais produzidos e recebidos na prisão por uma prisioneira política maoista durante os anos finais da longa ditadura portuguesa (1926-1974). Através deles, com base na partilha do sensível, segundo a proposta de Jacques Rancière, acede-se ao conhecimento da experiência de resistência, assente nas suas memórias traumáticas. As memórias coletivas sensíveis, construtoras de sentidos de pertença, estão ligadas aos grupos, refletindo lugares sociais e perspetivas diferenciadas. Mercê de conjunturas determinadas, algumas podem ultrapassar as dimensões do grupo e implantarem-se como memórias da sociedade. Na linha de Rancière, a partilha do sensível, essa inscrição da ordem do mundo nas categorias do visível e do dizível – o que se pode ver e o que é invisível, o se ouve ou é mero ruído -, é interditada quando se recusa a ordem da dominação e a negação sensível de um mundo comum.

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Publicado
2021-01-15