Capoeira Ancestral, uma práxis Afro-Brasileira
Resumo
O presente estudo foi proposto seguindo o percurso metodológico qualitativo da revisão bibliográfica e tendo suas análises baseadas no processo construtivo e interpretativo, embasado pela Epistemologia Qualitativa. A capoeiragem pode ser uma das principais experiências históricas afro-brasileiras. A Capoeira Ancestral, que emergiu, aproximadamente, entre 1850 a 1920, se fundamenta em processos coletivos, éticos, conscientes, de resistência. Ela apresenta, até os dias de hoje, um caráter decolonial e sem fins capitalistas/mercadológicos. Os fundamentos da Capoeira Ancestral se constituíram a partir de saberes africanos. Seus ritos de guerra, de festejos e religiosos apresentavam um fazer comum, um eixo norteador: a condução do corpo, permeado pela música e pelo canto. A comunicação sempre se fez presente pelo som (tambores, palmas, corpos, vozes): a corpo-oralidade como método de preservação das identidades étnicas, dos valores e saberes ancestrais. O Recôncavo Baiano foi o berço da capoeiragem, agregando os fundamentos codificados no berimbau e nos cantos — e os Candomblés, os Sambas de Roda e o Batuque também se desenvolveram segundo a mesma episteme africana. Na Capoeira Ancestral, cada toque de berimbau tem função, cada formação de bateria codifica um saber corporal que precisa ser decifrado; o capoeirista tinha de aprender a ler carta de ABC. Resgatar a Capoeira Ancestral torna-se um passo importante na reparação das memórias e fundamentos ancestrais da capoeiragem, resistindo por décadas ao silenciamento e invizibilização, porém, ainda hoje, vivos.Referências
ABREU, Frederico José de. O batuque: a luta braba. Salvador: Instituto Frede Abreu: Gráf. LuriPress, 2014.
ABREU, Frederico José de. Nagé: o homem que lutou capoeira até morrer. Salvador: Barabô, 2017.
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito Nagô. São Paulo: Ed. Nacional, 1961.
BIANCARDI, Emília. Raízes musicais da Bahia. Salvador: Omar G., 2006.
BULE-BULE. Bença, a ética do samba segundo Bule-Bule. Trecho de entrevista com o repentista Bule-Bule, que faz parte do processo de montagem do espetáculo Bença. 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GPakdC848lU. Acesso em: 10 out. 2019.
CAPOEIRA, Nestor. Capoeira: os fundamentos da malícia. Rio de Janeiro: Record, 1996.
CARYBÉ. Jogo da Capoeira. In: HEBEISEN, K. P. Coleção Recôncavo: n. 3: capoeira. Salvador: Tipografia Beneditina, 1951.
CATUNDA, Eunice. Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos, São Paulo, ano 30, n. 5, p. 16-18, 1952.
COUTINHO, Daniel. O ABC da capoeira Angola: os manuscritos do Mestre Noronha. Brasília: DEFER: CIDOCA: Centro de Informação e Documentação sobre a Capoeira, 1993.
DIANNA, Eduardo Matheus de Souza. Salvador em revolta: alguns olhares para a revolta islâmica na Bahia em 1835. Revista Trilhas da História, Três Lagoas, v. 5, n. 10, p. 145-161, 2016.
DORING, Katharina. O samba de roda do recôncavo e o samba rural do agreste. In: SESC. Serviço Social do Comércio. Tambores e batuques: circuito 2013-2014. Rio de Janeiro: SESC. Departamento Nacional, 2013, p. 38-47.
DORING, Katharina. A cartilha do samba chula. Salvador: Associação Umbigada, 2016.
HALL, Gwendolyn Midlo. Escravidão e etnias africanas nas Américas: restaurando os elos. Petrópolis: Vozes, 2017.
JOGO de corpo: capoeira e ancestralidade. Produção, realização e direção: Richard Pakleppa (Land Productions). Co-produção, co-realização e co-direção: Matthias Rӧhring Assunção (Mangangá Produções) e Mestre Cobra Mansa. Pesquisador: Matthias Rӧhring Assunção. Etnomusicóloga e assistente de pesquisa: Christine Dettmann. Consultora: Mariana Candido. Intérpretes: Tchilulu Ntchongolola, Angelina Lombe. Narração: Mestre Cobra Mansa. Rio de Janeiro: Mangangá Produções; Johannesburg: On Land Productions. 2013. 1 DVD (87 min.), color.
LEITE, Fábio Rubens da Rocha. A questão ancestral: África negra. São Paulo: Palas Athena, 2008.
LOBO, Graça (org.). Terreiros de candomblé de Cachoeira e São Félix. Salvador: Fundação Pedro Calmon: IPAC, 2015.
MEMÓRIAS do Recôncavo: Besouro e outros capoeiras. Argumento, roteiro e direção: Pedro Abib. Direção de produção: João Rodrigo Mattos. Produção executiva: Adler Paz. Direção de fotografia: Alexandre Basso. Som: Kico Povoas. Montagem: Bau Carvalho. Salvador: DOCDOMA Filmes, c 2008. 1 DVD (54 min), color.
MESTRE Gato Preto. Entrevista com Mestre Gato Preto (José Gabriel Góes): primeira parte. Entrevistador: Dorado Cajueiro, 1999 a 2001. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZnNiVktCLCE. Acesso em: 15 out. 2019.
MESTRE Gato Preto. l’Art du berimbau. França: Arion, 2001. Disponível em: http://velhosmestres.com/br/gato-2001. Acesso em: 15 out. 2019.
MESTRE Paraná. Capoeira. Rio de Janeiro: CBS, 1963. Disponível em: http://velhosmestres.com/br/destaques-14. Acesso em: 15 out. 2019.
MESTRE Traíra. Capoeira da Bahia. Salvador: Ed. Xauã, 1963. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_DP_ZnejqoI. Acesso em: 15 out. 2019.
MESTRE Waldemar. Corta-braço. Salvador, 1955. Disponível em: https://www.facebook.com/mestrenegoativo/posts/2219043544813041. Acesso em: 15 out. 2019. Áudio de um trecho de roda.
MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995.
OLIVEIRA, Josivaldo Pires de; LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Capoeira, identidade e gênero: ensaios sobre a história social da capoeira no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2009.
PALHARES, Leandro Ribeiro. O berimbau ensina!: o segredo de São Cosme quem sabe é São Damião, camará. Diamantina: UFVJM, 2018. Disponível em: http://acervo.ufvjm.edu.br/jspui/handle/1/1753. Acesso em: 1 out. 2019.
PALHARES, Leandro Ribeiro. Capoeira: o que queremos preservar? Revista Vozes dos Vales, Diamantina, v. 8, n. 16, a. 14, 2019. Disponível em: http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/volume-xvi/. Acesso em: 15 out. 2019.
PALHARES, Leandro Ribeiro; NONATO, Felipe Fernandes. Capoeira Ancestral: decolonizar para preservar. In: ENCONTRO DE ESTUDOS RURAIS – Guimarães Rosa e o Espaço Social Rural: narrativas interdisciplinares descolonizadoras, 1., 2018, Diamantina. Caderno de Resumos [...]. Diamantina: Programa de Pós Graduação em Estudos Rurais da UFVJM, 2018, p. 65-66.
PINHEIRO, Paulo César. [Compositor e Intérprete]. Capoeira de Besouro. Rio de Janeiro: Quitanda: Biscoito Fino, c 2010. 1 CD (ca. 58 min 37 s). 15 faixas.
PRIORE, Mary del; VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à história da África Atlântica. Rio de Janeiro: Campus Elsevier, 2003.
REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã 1968.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
REY, Fernando Luis Gonzáles. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico cultural. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2003.
REY, Fernando Luis Gonzáles. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de construção da informação. São Paulo: Cengage Learning, 2005.
ROCHA, José Geraldo da; SILVA, Cristina da Conceição. A transmissão do conhecimento nas culturas populares de matrizes africanas. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros/ABPN, Uberlândia, v. 7, n. 15, p. 240-254, 2014.
SANTOS, Marcelino. Capoeiras e mandingas: Cobrinha Verde. Salvador: A Rasteira, 1991.
SODRÉ, Muniz. Pensar Nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.
TINHORÃO, José Ramos. Os sons dos negros no Brasil: cantos, danças, folguedos: origens. São Paulo: Editora 34, 2008.
VADIAÇÃO. Direção de Alexandre Robatto Filho. Salvador, 1954. 1 vídeo (8 min. 11 seg.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dWzPaAqjeqU. Acesso em: 15 out. 2019.
VIEIRA, Lílian Cavalcanti Fernandes. O pensamento de matriz africana e sua influência no Brasil. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros/ABPN, Uberlândia, v. 1, n. 3, p. 239-243, 2010.
Copyright (c) 2020 Expressa Extensão
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
A revista se reserva o direito de efetuar nos originais alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores. As provas finais não serão enviadas aos autores. O Conselho Editorial não se responsabiliza por opiniões emitidas pelos autores dos trabalhos publicados. Os trabalhos aceitos para publicação passam a ser de propriedade da Expressa Extensão, não podendo, o autor, reclamar, em qualquer época ou sob qualquer pretexto,remuneração ou indenização pela publicação. A reimpressão, total ou parcial, dos trabalhos publicados é sujeita à autorização expressa da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura. OBS. Cabe(m) ao(s) autor(es) as devidas autorizações de uso de imagens com direito autoral protegido (Lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998), que se realizará com o aceite no ato do preenchimento da ficha de inscrição via web.
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.