Chamada para dossiê: Os fazeres arqueológicos em áreas protegidas

2024-08-05
Baseada na reflexão sobre o papel da arqueologia no mundo contemporâneo, a proposta para esse dossiê é contribuir para o debate sobre os cruzamentos desta disciplina e suas conexões com as políticas de conservação e gestão territorial. Áreas protegidas são instrumentos criados pelo Estado para reduzir perdas da bio e sócio diversidade face à degradação ambiental. Nesse sentido, serão abordadas as Unidades de Conservação (UCs) as quais têm diferentes classificações quanto ao uso e gestão territorial. Contudo, para além de sua geopolítica, muitos desses territórios são formados por configurações afetivas de pessoas com os lugares que habitam, mantêm e cuidam e, que, portanto, estão além de fronteiras físicas, formando parte de seus patrimônios culturais. Dados arqueológicos mostram que muitos desses lugares foram longamente ocupados e as paisagens que os formam são resultado dessas relações contínuas entre humanos,  não humanos e o meio ambiente. Refletir sobre o tema é importante diante do cenário global de mudanças climáticas, avanço do desmatamento e formulações de políticas públicas para a governança territorial. Na escala local, o Brasil nos últimos anos enfrenta oscilações nas políticas públicas socioambientais e das legislações nas diferentes esferas da administração pública, cujos efeitos reverberam nos órgãos de fiscalização e gestão, tornando frágeis os mecanismos de monitoramento e intensificando o contexto de conflito socioeconômico e territorial. Assim, colocar em perspectiva os aspectos políticos e ideológicos contemporâneos que tangenciam o tema das áreas protegidas é fundamental para uma avaliação reflexiva sobre a prática arqueológica em unidades de conservação. Portanto, nossa proposta é colocar em evidência as diferentes formas de fazer  arqueologia em UCs como eixo dessas questões, tendo-a como prática política e social. Nesse sentido, vemos como importante 1) um tensionamento entre campos disciplinares que costuram experiências coletivas e individuais em torno das relações das pessoas com os lugares e que colaborem para ampliar essa reflexão; 2) perspectivas etnográficas de como vestígios arqueológicos estão inseridos na vida de pessoas dentro das áreas protegidas e, assim devem compor as agendas de proteção ao patrimônio material e imaterial,  3) formas de organização de povos e coletivos tradicionais para manutenção de sua sociobiodiversidade e 4) construção de agendas mútuas para o fortalecimento dessas áreas, como o desenvolvimento de turismo de base comunitária, museus comunitários, ações educacionais, entre outras frentes.