Arqueologia, lugar de fala e conexões afrodiaspóricas: experiências no território quilombola dos povos do Aproaga - Amazônia paraense

  • Irislane Pereira de Moraes Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)/ Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB-UNIFAP)/Rede de Arqueologia Negra https://orcid.org/0000-0002-7039-2797
  • Luciana Alves Costa Graduada em Arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia (PPGArq) MAE-USP. Integrante da Rede de Arqueologia Negra (NEGRARQUEO) e membra da Associação de Pesquisadores Negros (ABPN).
  • Luciana Lopes de Jesus Quilombola da comunidade de Benevides no território dos Povos Aproaga, nascida e criada às margens do rio Capim-Pará. Atualmente é estudante cotista-quilombola do curso de Sistema de Informação da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Palavras-chave: Arqueologia, Povos do Aproaga, Quilombolas, Amazônia

Resumo

Resumo: Neste trabalho nos reunimos para compartilhar pertencimentos e experiências de pesquisa arqueológica de base comunitária vivenciadas no território quilombola dos Povos do Aproaga, situado no nordeste paraense - Amazônia. Em parceria com a Associação Quilombola Unidos dos Rio Capim (AQURC) temos nos dedicado a reconhecer a memória e a existência quilombola, e a ressaltar os seus respectivos processos de aquilombamento da terra. Ao percebermos a arqueologia enquanto uma ciência branca e eurocêntrica permeada por racismo e colonialidades, tornou-se premente a concepção de formas alternativas à lógica colonial operante nos seus modos de pensar e pesquisar. Assumimos a afrorreferencialidade, a ancestralidade e a representatividade etnicorracial enquanto pressupostos da abordagem teórico-metodológica, dos objetivos e da equipe de pesquisa. Afinal, mais que descolonizar a arqueologia, trata-se da criação de espaços seguros para nossa atuação intelectual comprometida com nossas comunidades afrodiaspóricas junto à emergência de reconhecimentos de nossas histórias a partir das cosmopercepções e epistemologias negras. Abstract: In this work we gather to share relations of belonging and research experiences of community-based archaeology in the Quilombola territory of Povos do Aproaga, located in the northeast of Pará - Amazonia. In partnership with Associação Quilombola Unidos dos Rio Capim (AQURC) we have been dedicated to recognizing the memory and existence of Quilombola peoples, as well as highlighting their respective processes of land settlement. As we perceive archaeology as a white Eurocentric science permeated by racism and colonialities, it becomes urgent to conceive alternative forms than the colonial logic operating in ways of thinking and doing research. We choose the concepts of Afro-referentiality, Ancestrality and ethnic-racial representation as tenets of our theoretical and methodological approach, and of our research goals and team. After all, beyond decolonizing archaeology, it is about creating safe spaces for our intellectual activity that is committed to our Afro-diasporic communities along with the emergence of recognition of our histories and Black world-perceptions and epistemologies. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Irislane Pereira de Moraes, Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)/ Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB-UNIFAP)/Rede de Arqueologia Negra
Iris Pereira de Moraes Ewejimi possui doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia (PPGAN, concentração em Arqueologia) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2021). É Ekedji confirmada e Omo Orixá no Ilê Axé Yabá Omi (Belém-PA). Desde 2013 é docente Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) no curso de História. Pesquisadorie-fundadorie do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UNIFAP (NEAB-UNIFAP). Asssociade efetiva da Sociedade Brasileira de Arqueologia (SAB),da Associação Brasileira de Pesquisadories Negres (ABPN). Possui graduação em Ciências Sociais com ênfase em Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA, 2008). Especialista em Arqueologia (UFPA, 2010). Nos anos de 2003 a 2007 atuou no laboratório do Núcleo de Arqueologia de Marabá (NAM) da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM, Pará). Entre 2007 a 2014 atuou como pesquisadora colaboradora do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA). É mestre em Antropologia com concentração em Arqueologia (PPGA-UFPA, 2012), com dissertação de mestrado sobre o Patrimônio arqueológico e territorialidade quilombola no vale do rio Capim (PA), que no ano de 2013 recebeu o "Prêmio Luiz de Castro Faria" do Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (IPHAN) através do seu Centro Nacional de Arqueologia (CNA). Dedica-se a pesquisas de arqueologia de base comunitária, etnográfica e afrorreferenciada, tendo interesse e atuação nas temáticas da Diáspora Africana, Culturas e Patrimônios de Povos e Comunidades tradicionais Quilombolas na Amazônia. 

Referências

ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Letramento, Belo Horizonte, 2018.

ACEVEDO MARIN et al. Patrimônio e Territorialidade dos Quilombolas do Rio Capim. Belém: IPHAN, 2014.

BARBOSA, Betanha. Sistema de Uso Comum de Recursos em Comunidades Quilombolas no Vale do Rio Capim (Pa). Dissertação de mestrado. Núcleo de Altos Estudos do Pará, Universidade Federal do Pará. 2008.

BARROS, José Flávio P. de. A fogueira de Xangô. 3ª edição – Rio de Janeiro: Pallas, 2009. 256p.

BEZERRA, Marcia. Teto e afeto: sobre as coisas, pessoas e a arqueologia na Amazônia. 1ª ed. – Belém: PA: GKNoronha, 2017. 108p.

BERNADINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón. (Org.) Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. 2 ed. 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica Ed. 2019 (Col. Cultura Negra e Identidades).

CARNEIRO, Aparecida Sueli; A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005.Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2005.

CARVALHO, Patrícia Marinho de. Visibilidade do Negro: Arqueologia do Abandono na comunidade quilombola do Boqueirão -Vila Bela/MT. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo (USP), 2018.

COSTA, Luciana A.Aquilombamento as a Potentializing Praxis for Black Existences in Archaeology. In.: Society for Historical Archaeology: An Archaeological Decameron: Research, Interpretation, and Engagement in the Time of Pandemic, 1., 2021, Flórida. Conference virtual. Estados Unidos Unidos: SHA, 2021. Disponível em: <https://core.tdar.org/document/459240/aquilombamento-as-a-potentializing-praxis-for-black-existences-in-archaeology>. Acesso, 05.04. 2022.

EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, Fundação Biblioteca Nacional, 2016.

FRANKLIN, Maria; DUNNAVANT, Justin P.; FLEWELLEN, Ayana O.; ODEWALE, Alice. The future is now: archaeology and the eradication of anti-Blackness. International Journal of Historical Archaeology 24:753–766, 2020.

GARCIA, Maria de F. & SILVA, José Antônio S. (org.). Africanidades, afrobrasiliadades e processo (des)colonizador: contribuições a implementação da Lei 10.639/03. João Pessoa: Editora UFPB, 2018.

GNECCO, Cristobal; HABER, Alejandro F.; SHEPHERD, Nick. Arqueologia y Decolonialidad. Coleção El Desprendimento, 1ª ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Ediciones del signo, 2015. 180p.

HARTEMANN, Gabby. Voltar, contar e lembrar de Gangan: por uma arqueologia griótica afrodecolonial em Mana. Dissertação de mestrado: Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGAN-UFMG), 228p., 2019.

____. & MORAES, Iris P. de. Contar histórias e caminhar com ancestrais: por perspectivas afrocentradas e decoloniais na arqueologia. Vestígios - Rev. Latino-Americana de Arqueologia Histórica, 12(2), 9–34, 2019.

IKE, N., Miller, G., and Hartemann, G. O. (2020). Anti-racist archaeology: your time is now. SAA Archaeological Record 20(4): 12–16.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019[2008].

MACHADO, Adilbênia F. ODUS: Filosofia Africana para uma metodologia afrorreferenciada. Voluntas, Santa Maria, v. 10, p. 03- 25, set. 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/voluntas/article/view/39952. Acesso 21.09.2020.

MOMBAÇA, Jota. Não vão nos matar agora. 1 ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021, 144p.

MORAES, Iris P. de. Do tempo dos Pretos Dantes aos Povos do Aproaga: Patrimônio arqueológico e territorialidade quilombola no vale do rio Capim (PA). Dissertação de Mestrado. PPGA-UFPA, 2012.

_____. Arqueologia na ‘Flor da Terra’ Quilombola: Ancestralidade e Movimentos Sankofa no Território dos Povos do Aproaga – Amazônia Paraense. Tese de Doutorado. PPGAN – UFMG, 2021.

NASCIMENTO, Maria Beatriz do. Historiografia do quilombo. 1977. In: Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidades nos dias da destruição. UCPA - União dos coletivos Pan-Africanistas (Org.). São Paulo, 2018.

NOGUERA, Renato. Ubuntu como modo de existir: elementos gerais para uma Ética Afroperspectiva. Rev. da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), [S.l.], v. 3, n. 6, p. 147-150, fev. 2012a. ISSN 2177-2770. Disponível em: <https://abpnrevista.org.br/index.php/site/article/view/358>. Acesso em: 28 jul. 2020.

_____. O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639. Rio de Janeiro: Pallas: Biblioteca nacional, 2014.

OYÈRÓNKẸ Oyěwùmí. A invenção das mulheres: construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero. Tradução wanderson flor do nascimento. 1.ed. - Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021.

PNCSA (Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia). Povos do Aproaga - São Domingos do Capim. Fascículo 24. Belém: Universidade Federal do Amazonas / Universidade Estadual do Amazonas. 12p, 2008.

RAMOSE, Mogobe. Sobre a legitimidade e o estudo da filosofia africana. Trad. Dirce Eleonora Nigro Solis; Rafael Medina Lopes; Roberta Ribeiro Cassiano. In: Ensaios Filosóficos, Volume IV, out. 2011. Disponível em: http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo4/RAMOSE_MB.pdf. Acessado em: 20.02.2020.

RATTS, A. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Instituto Kuanza; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

RIBEIRO, Djamila. 2017. O que é lugar de fala? Belo Horizonte (MG): Letramento: Justificando, 112p. (Feminismos Plurais).

____. 2019. Pequeno manual antirracista. 1ª ed. – São Paulo: Companhia das letras, 135p.

SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino e na Pesquisa (INCTI), 2015, p.150. Disponível em: http://cga.libertar.org/wp-content/uploads/2017/07/BISPO-Antonio.-Colonizacao_Quilombos.pdf. Acessado 28.07.2020.

TOCCHETTO, Fernanda Bordin.; SYMANSKI, Luís Cláudio.; OZÓRIO, Sérgio Rovan.; OLIVEIRA, Alberto Tavares Duarte de.; CAPPELLETTI, ngela Maria. A Faiança Fina em Porto Alegre – Vestígios Arqueológicos de uma Cidade. Porto Alegre: Secretaria da Cultura/PMPA, 2001.

ZANETTINI, Paulo. “Pequeno roteiro para classificação de louças obtidas em pesquisas arqueológicas de sítios históricos” Arqueologia, Curitiba, 5: p.117- 130, 1986.

_______.; BAVA DE CAMARGO, Paulo. Cacos e mais cacos de vidro: o que fazer com eles? São Paulo: Zanettini Arqueologia, 1999.

Publicado
2022-06-30
Como Citar
Moraes, I. P. de, Costa, L. A., & Jesus, L. L. de. (2022). Arqueologia, lugar de fala e conexões afrodiaspóricas: experiências no território quilombola dos povos do Aproaga - Amazônia paraense. Cadernos Do LEPAARQ (UFPEL), 19(37), 55-74. https://doi.org/10.15210/lepaarq.v19i37.22762
Seção
Conexões Atlânticas: Arqueologias do Colonialismo