A CORPORIFICAÇÃO DO SOFRIMENTO E O TRÂNSITO ENTRE VÍTIMA E ALGOZ: NOVAS REFLEXÕES A PARTIR DE ETNOGRAFIAS COM POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.
Resumo
Resumo: Desafio-me, neste artigo, a revisitar antigos diários de campo, redigidos ao longo de quatro anos de pesquisa etnográfica com homens e mulheres em situação de rua em Pelotas, RS, valendo-me, neste retorno à experiência etnográfica, da categoria de vítima em sua dimensão socialmente construída. Tal retomada analítica possibilita refletir sobre como os referidos sujeitos apropriam-se da noção de vítima enquanto uma categoria maleável, situacional e relacional, usando-a como recurso performático, narrativo, corporal e biográfico rumo à constituição de vínculos com diferentes sujeitos do espaço público. Com isso, defendo que o discurso do sofrimento, no contexto da população em situação de rua, atua como propulsor de uma “identidade de miseráveis”, uma vez que é acionado no intento de sensibilizar e/ou agradar o senso moral dominante, conformando-se, em decorrência disso, como um agravante dos processos de subjetivação e sujeição em múltiplas dimensões.Abstract: In this article challenge me to revisit field journal, written over four years of ethnographic research with homeless in Pelotas, RS, using, in this return to the ethnographic experience, the victim category in its dimension socially constructed. Such analytical recovery enables reflect on how those persons is appropriated from the notion of victim as a flexible, situational and relational category, using it (in combination with other categories) as performative, narrative, body and biographical resource towards establishment of relationships with different actors of public space and even with state agents and groups of the Third Sector. Thus, I argue that the discourse of suffering in the context of homeless acts as a propellant "identity miserable" and, as a result, as an aggravating process of subjectivation and subjection in multiple dimensions.Referências
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