VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

UM OLHAR INTERSECCIONAL

Palavras-chave: Violência doméstica, Pandemia da Covid-19, Atenção Básica, Interseccionalidade

Resumo

A violência praticada contra as mulheres não é um problema recente, contudo, com a pandemia da Covid-19 houve um aumento descomunal dos casos de violência em decorrência das medidas de isolamento social adotadas em nível de mundo. Para muitas mulheres, tais medidas determinaram que elas ficassem em casa com seus agressores, além disso, quando se considera as dimensões raciais, constata-se que as mulheres negras são as maiores vítimas dessa violência, sendo relevante debruçar a atenção para essa realidade. No que tange a saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera a violência contra as mulheres como um problema de saúde pública a ser enfrentado, entretanto, prevalece no âmbito da política de saúde a subnotificação dos casos. Dessa forma, torna-se urgente trazer visibilidade para os casos de violência doméstica que ocorrem na “porta de entrada dos serviços de saúde”, ou seja, na atenção básica. Diante do exposto, o seguinte artigo apresenta uma discussão da violência doméstica através de uma análise interseccional, pois, ainda hoje, as mulheres negras são as maiores vítimas dessa violência e apresenta a importância da atuação da atenção básica à saúde no enfrentamento dessa problemática.

Biografia do Autor

Ana Cristina Guimarães de Jesus, Universidade Federal da Bahia
Mestre em Serviço Social pela UFBA, especialista em Saúde da Família pela modalidade residência multiprofissional - EESP (2017), especialista em Gestão Pública - UNILAB (2018). Atualmente integra o quadro efetivo de servidores da Prefeitura Municipal de Salvador e pesquisa temáticas relacionadas a gênero, políticas de saúde, violência, racismo e interseccionalidade.
Márcia Santana Tavares, Universidade Federal da Bahia
Professora associada no Curso de Serviço Social da Universidade Federal da Bahia. Professora permanente dos Programas de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Mulheres, Gênero e Feminismo - PPGNEIM/UFBA e de Serviço Social (PPGSS/UFBA); pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher - NEIM; coordenadora do grupo de pesquisa NEIM - Gênero Poder e Políticas Públicas (CNPq); membro do grupo de Estudos Desigualdades Sociais, Políticas Públicas e Serviço Social (UFBA) e do Observatório pela Aplicação da Lei Maria da Penha - OBSERVE/NEIM/UFBA. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Mulheres, Gênero e Feminismo - PPGNEIM/UFBA.

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Publicado
2024-07-19