MULHERES NEGRAS, LUTAS TRANSVERSAIS E AMBIGUIDADE DO RECONHECIMENTO

Palavras-chave: Desrespeito, Reconhecimento, Igualdade, Diferença, Mulheres negras

Resumo

A teoria de reconhecimento tem ocupado o centro dos debates recentes nas ciências sociais como uma ferramenta analítica e normativa para lançar luz sobre o fenômeno dos movimentos sociais contemporâneos. Na concepção de Axel Honneth, a teoria ajuda a pontuar a gramática moral que dá legitimação às reivindicações dos movimentos sociais. Porém, esse aspecto só se torna mais evidente ao partirmos de um dado anterior à luta por reconhecimento, isto é, a experiência desrespeito. Este artigo propõe a partir do conceito de desrespeito analisar a estrutura motivacional da luta das mulheres negras na Baixada Fluminense por reconhecimento, assim como pontuar a ambiguidade inerente na dinâmica de reconhecimento tal como evidenciada nas observações empíricas. Desse modo, este trabalho visa a apontar o alcance explicativo da abordagem honnethiana no contexto do Movimento de Mulheres Negras, assim como seus limites conceituais e práticos.

Biografia do Autor

Yans Sumaryani Dipatia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Possui mestrado em Ciências Sociais pela Pontificia Università Gregoriana-Roma (2015) e doutorado na mesma área pela PUC-RIO (2022), pesquisando principalmente os seguintes temas: justiça social, redistribuição, reconhecimento, interseccionalidade, feminismo negro e movimentos sociais. Membro do grupo de pesquisa GEDRED, PUC-RIO. Atualmente pesquisa sobre a interação do campo religioso pentecostal e neopentecostal com o campo político pelo programa de pós-doutorado do departamento das ciências sociais, PUC-RIO. 

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Publicado
2024-07-19