SEM NÓS, NÃO VALE
A RELEVÂNCIA DO PARENTESCO NA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO EM ANGOLA
Resumo
Este artigo analisa a centralidade do parentesco na celebração do casamento entre os Bakongo em Angola, com ênfase, na prática do alambamento como expressão simbólica de pertencimento coletivo. A partir de uma abordagem qualitativa, que combina pesquisa bibliográfica e relatos orais de anciãos e jovens Bakongo, investiga-se como as regras de parentesco moldam não somente a estrutura familiar, mas também o papel social do matrimônio. O alambamento, enquanto ritual de mediação entre famílias, revela-se fundamental para a legitimação da união conjugal, contrastando com o casamento civil, que privilegia o indivíduo e a lógica jurídica do Estado. Inspirando-se nas contribuições de Lévi-Strauss, Geffray e Domingos, o artigo argumenta que, no universo simbólico Bakongo, o casamento não pertence ao domínio do “eu”, mas do “nós” um sistema que incorpora vivos e ancestrais, natureza e espiritualidade. Assim, a escolha por ignorar o alambamento não representa somente um afastamento da família, mas uma ruptura com a cosmologia social do grupo.
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