TRABALHO EXTENUANTE

A PRÁTICA DO ATENDIMENTO REMOTO POR PSICÓLOGAS E AS IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES DE GÊNERO E TEMPO

Palavras-chave: Trabalho Remoto, Psicólogas, Gênero, Tempo

Resumo

Este artigo propõe investigar as complexidades e as múltiplas implicações do trabalho remoto no âmbito da prática profissional, nas mediações do tempo e subjetividades de psicólogas. A pesquisa, baseada nas experiências relatadas por dez psicólogas, revela que, embora o atendimento mediado por tecnologias digitais seja percebido como um formato eficaz, ele paradoxalmente impõe custos mentais elevados, exacerbando a sobrecarga das profissionais entrevistadas. A disseminada premissa da flexibilidade por vezes, se traduz em uma expectativa de disponibilidade constante, dificultando a mediação entre os tempos sociais. As narrativas das participantes destacam a tensão entre a autonomia e a pressão por produtividade. Esse cenário reflete e intensifica as desigualdades sociais e de gênero presentes na prática remota. Assim, o estudo conclui que o atendimento remoto não é apenas uma mudança técnica no fazer profissional, mas uma reconfiguração significativa que exige uma reflexão crítica urgente sobre as condições de trabalho e a própria formação profissional na área.

Biografia do Autor

Maria Elisa Gonçalves Muniz, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Assistente Social, graduação em Serviço Social pela Universidade de Brasília (UNB, 2022) e mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ, 2025). Atualmente é Assistente de Pesquisa e Ciência de Dados Júnior do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - DF. Pesquisadora participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Serviço Social no Capitalismo Dependente (GEDUSSC - UnB).

Referências

ÁVILA, Maria Betânia. O tempo e o trabalho das mulheres. In: COSTA, Ana Alice A. (Org.). Um debate crítico a partir do feminismo: reestruturação produtiva. São Paulo: CUT, 2002.

ARRAZOLA, Laura. O estado e os tempos sociais femininos: uma mediação da opressão de gênero das mulheres. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero. Anais eletrônicos. Florianópolis: UFSC, 2010.

BRUSCHINI, Cristina; LOMBARDI, Maria Rosa. Trabalho, educação e rendimento das mulheres no Brasil em anos recentes. In: HIRATA, Helena; SEGNINI, Liliana (Orgs.). Organização, trabalho e gênero. São Paulo: Editora Senac, 2008.

BRUSCHINI, Cristina; RICOLDI, Arlene Martinez; MERCADO, Cristiano Miglioranza. Trabalho e gênero no Brasil até 2005: uma comparação regional. In: COSTA, Albertina de Oliveira et al. Mercado de Trabalho e gênero: comparações internacionais. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasil); DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (Brasil). Levantamento de informações sobre a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho brasileiro. Brasília: Dieese, 2016.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasil). Quem faz a Psicologia Brasileira? um olhar sobre o presente para construir o futuro. Brasília, 2022.

CORREIA, Karla Carneiro Romero. Saúde Mental na Universidade: Atendimento Psicológico Online na Pandemia da Covid-19. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 43, 2023.

COSTA, Iabela. Controle em novas formas de trabalho: teletrabalhadores e o discurso do empreendedorismo de si. Cadernos EBAPE.BR, v. 11, n. 3, p. 462-474, 2013.

COSTA, Isabela. Teletrabalho: subjugação e construção de subjetividades. Revista de Administração Pública, v. 41, n. 1, p. 105-124, 2007.

DEDECCA, Claudio Salvadori. Regimes de trabalho, uso do tempo e desigualdade entre homens e mulheres. In: Mercado de trabalho e gênero: comparações internacionais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

GUEDES, Moema de Castro. A presença feminina nos cursos universitários e nas pós-graduações: desconstruindo a idéia da universidade como espaço masculino. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v. 15, p. 117-132, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.

JESUS, Jordana Cristina de; TURRA, Cassio M.; WAJNMAN, Simone. An Empirical Method for Adjusting Time Use Data in Brazil. Dados, v. 66, n. 4, e20210093, 2023.

MARCONDES, Mariana; YANNOULAS, Silvia. Práticas Sociais de Cuidado e a Responsabilidade do Estado. Revista Ártemis, v. 13, p. 174-186, 2012.

NEVES, Magda. Anotações sobre Trabalho e Gênero. Cadernos de Pesquisa, v. 43, n. 149, p. 404-421, 2013.

OLIVEIRA, Daniela. Do fim do trabalho ao trabalho sem fim: o trabalho e a vida dos trabalhadores digitais em home office. 2017. 196 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2017.

OLIVEIRA, Míriam Aparecida; PANTOJA, Maria Júlia. Perspectivas e desafios do teletrabalho no setor público. In: Congresso Internacional de Desempenho do Setor Público. Anais eletrônicos. Florianópolis: 2018.

ROSEMBERG, Fúlvia. Afinal, por que somos tantas psicólogas? Psicologia: Ciência e Profissão, v. 4, n. 1, p. 6-12, 19.

Publicado
2025-10-14
Como Citar
Muniz, M. E. G. (2025). TRABALHO EXTENUANTE: A PRÁTICA DO ATENDIMENTO REMOTO POR PSICÓLOGAS E AS IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES DE GÊNERO E TEMPO. Perspectivas Sociais, 11(02), e1129285. https://doi.org/10.15210/rps.v11i02.29285