TERRITORIALIDADE NEGRA NO ESPAÇO TRANSNACIONAL ENTRE BRASIL E GUIANA FRANCESA: O CASO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA KULUMBU DO PATUAZINHO (1990 A 2021)

Palavras-chave: Território, Quilombo, Kulumbu do Patuazinho, Amazônia, Fronteira franco-brasileira

Resumo

As fronteiras entre o Brasil e a Guiana Francesa, especificamente no município de Oiapoque, no estado do Amapá, constituem-se em espaços de diversidade sociocultural. No entanto, ainda são escassos os estudos sobre formações de comunidades negras ou quilombolas. Neste artigo, procuramos compreender o processo de formação da comunidade quilombola Kulumbu do Patuazinho e suas relações com o território ocupado. A pesquisa de campo foi pautada no uso de metodologias como história oral, observações etnográficas e caminhamentos pela comunidade. Nesse caso, os resultados da pesquisa permitiram compreender que a migração de um núcleo familiar negro vindo do estado do Maranhão na década de 1990 não pode ser explicada somente pela busca de melhores condições de vida, mas deve estar pautada nas relações com os guias espirituais de matriz africanaque impulsionaram a chegada a esse lugar, e as misturas com outros grupos que vivem na região e suas cosmologias.

Biografia do Autor

Jelly Juliane Souza de Lima, Universidade Federal do Maranhão
Jelly Juliane Souza de Lima é graduada História (licenciatura) pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP, 2013), mestra em Arqueologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2017). Atualmente é doutoranda em História e Conexões Atlânticas: culturas e poderes (linha de concentração em linguagens, religiosidades e culturas) pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Entre 2016 e 2017 foi Gerente Operacional do Núcleo de Arqueologia do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). É docente colaboradora no curso de História Licenciatura da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), desenvolvendo projetos de pesquisa, ensino, extensão e orientações de discentes. Atua na área da Arqueologia, com os seguintes focos: Arqueologia pré-colonial, Arqueologia Histórica, Arqueologia colaborativa em comunidades e Educação Patrimonial. Já na área da História, tem foco em: Ensino de História, História da Educação no Brasil e Amapá, Pesquisa documental, Memória institucional,, territórios e comunidades quilombolas/indígenas/tradicionais, representações sociais, etnicidade, etnogênese, território e antropologia histórica, História das Guianas e do Cabo Norte (XVIII-XIX). É sócia de associações científicas como: a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), Sociedade Brasileira de Estudos dos Oitocentos (SEO) e Associação Brasileira de História Oral (ABHO). Participa dos GTs de: Acervo da SAB e História ambiental (ANPUH).
Avelino Gambim Júnior, Universidade Federal do Maranhão
Doutorando  em  História  e  Conexões  Atlânticas:  culturas  e  poderes  (linha  de  concentração  em  linguagens,  religiosidades  e  culturas)  pelo  Programa  de  Pós-Graduação  em História  (PPGHIS)  da  Universidade  Federal  do  Maranhão  (UFMA).  Mestre  em  Arqueologia  (2016)  pelo  Programa  de  Pós-Graduação  em  Arqueologia  do  Museu  Nacional  da Universidade  Federal  do  Rio  de  Janeiro  (PPGArq/UFRJ).  Graduado  em  História  Bacharelado  pela  Pontifícia  Universidade  Católica  do  Rio  Grande  do  Sul  (2010).  Licenciatura em  História  na  Faculdade  IBRA  (2020).  Tem  experiência  na  área  de Arqueologia,  com  ênfase  em  Arqueologia  Pré-colonial,  colonial  e  pós  colonial,  atuando  na  área  de  História  Indígena,  Arqueologia  Amazônica, Arqueologia  na  foz  do  Amazonas,  Bioarqueologia  Social, Educação  Patrimonial,  Arqueologia Pública,  Arqueologia  Colaborativa,  Educação  Ambiental,  História  Amazônica,  Estudos  Sobre  Comunidades  Quilombolas  e  Mocambos,  Estudos  Interdisciplinares  de  Cultura Material,   Arqueologia  Histórica, História  da  América  Antiga  e  Colonial, História  Ambiental,  Desenvolve  projetos  de  pesquisa  acadêmica  em  arqueologia  ,  e  em  estudos interdisciplinares  em  História  Social.  É  sócio  de  associações científicas  como:  a  Sociedade  de  Arqueologia  Brasileira  (SAB),  Associação  Nacional  de  História  (ANPUH)  e  Society  for  American  Archaeology  (SAA).  Participa  do  GT  de Acervos da SAB.
Kathelin Thayssa Mendonça Carneiro, Universidade Federal do Amapá
Acadêmica do curso de História- Licenciatura pela Universidade Federal do Amapá
Edineth Alves da Silva, Universidade Federal do Amapá.
Acadêmica do curso de História- Licenciatura pela Universidade Federal do Amapá
Claudemir dos Santos Batista, Universidade Federal do Amapá
Acadêmico do curso de Intercultural Indígena, Universidade Federal do Amapá, Campus Binacional, Oiapoque, AP.

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Publicado
2022-12-12
Como Citar
Lima, J. J. S. de, Gambim Júnior, A., Carneiro, K. T. M., Silva, E. A. da, & Santos Batista, C. dos. (2022). TERRITORIALIDADE NEGRA NO ESPAÇO TRANSNACIONAL ENTRE BRASIL E GUIANA FRANCESA: O CASO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA KULUMBU DO PATUAZINHO (1990 A 2021). Cadernos Do LEPAARQ (UFPEL), 19(38), 164-189. Recuperado de https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/lepaarq/article/view/22339
Seção
Artigos