A Resistência de um bibliotecário morto retido em uma universidade: Alegres memórias de um cadáver, de Roberto Gomes

  • Cleiry de Oliveira Carvalho Universidade de Brasília - UNB
Palavras-chave: Roberto Gomes, ditadura militar, violência, política, universidade

Resumo

O romance Alegres memórias de um cadáver foi escrito e ambientado na Ditadura Militar e nos permite refletir sobre e interpretar o que esse período significou politicamente para a educação. Na obra figura uma universidade privada que prioriza o cálculo econômico (objetivando manter-se no mercado da educação) — ao ponto de os números do balanço anual se converterem em critério “acadêmico” para a manutenção de disciplinas no ou sua eliminação do currículo. A multiplicidade de focos narrativos utilizados por Roberto Gomes estabelece um ponto de vista que transcende qualquer perspectiva individual, de modo a estabelecer a própria universidade como protagonista. Assim, o romance oferece ao leitor o ensejo de transpor a sátira fantasiosa dos espaços acadêmicos para uma crítica muito mais profunda da dinâmica social mais ampla das práticas costumeiras dentro e em torno da universidade. E a volatilidade do mercado que circunscreve as atividades dessa universidade é análoga à volatilidade do bibliotecário cadáver, cujo corpo pervaga como um fantasma os espaços do campus. O autor fragmenta ao máximo a narração, de modo que o leitor possa enfim perceber que ela toda corresponde à própria universidade, ou a seu cadáver, aprendiz de fantasma. No romance, esse fantasma em potencial representa a universidade brasileira, com suas inversões hierárquicas, reformas sempre provisórias e superficiais, avaliações corporativistas e quantificadoras, discursos avançados e práticas regressivas, dilatação da burocracia, ilusões políticas e sua instrumentalização etc.

Downloads

Não há dados estatísticos.
Publicado
2020-03-19
Como Citar
de Oliveira Carvalho, C. (2020). A Resistência de um bibliotecário morto retido em uma universidade: Alegres memórias de um cadáver, de Roberto Gomes. Revista Linguagem & Ensino, 23(1), 151-180. https://doi.org/10.15210/rle.v23i1.17741