Complexidade enunciativa na faça infantil: as hesitações
Resumo
A investigação relatada no presente artigo orientou-se pelo seguinte objetivo: verificar em que medida hesitações sinalizariam diferentes modos de negociação entre o sujeito que enuncia e os outros que se mostram como presentes (embora tidos como “exteriores”) na enunciação. Os dados foram extraídos de amostras de fala de crianças entre 5 e 6 anos, coletadas em situação escolar. A análise mostrou que as hesitações remeteram à ação de fatos das condições de produção do discurso – como a representação (i) dos papéis assumidos pelos interlocutores, (ii) da própria situação concreta de produção do discurso, (iii) dos objetos discursivos, bem como (iv) a injunção ao dizer. Remeteram, ainda, às diferentes maneiras pelas quais a complexidade da língua (em termos fonológicos, gramaticais e semânticos) se mostrou como problemática para o sujeito enunciador.Downloads
Referências
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