Da subjetividade na linguagem fotográfica: as categorias de pessoa e não-pessoa na narração de si

Palavras-chave: Linguística da Enunciação, fotografia, subjetividade

Resumo

Este trabalho interroga-se quanto ao lugar da linguagem fotográfica no contexto da economia das trocas simbólicas no cenário contemporâneo, acentuadamente marcada pela presença de imagens (notadamente autorretratos) postadas, compartilhadas e comentadas em redes sociais. Entende-se, com Benveniste (1989; 1995), que a mobilização de diferentes sistemas semióticos para construção de um sentido nunca tem um mesmo efeito, tendo em vista que não há sobreposição de sistemas e que o sistema da língua é o principal entre todas as formas simbólicas humanas. Assim, se o sujeito contemporâneo tem sua subjetividade expressa fortemente por meio do recurso a uma linguagem de base representacional mais icônica, temos o que parece ser uma enunciação sem diálogo, pois que esvazia o caráter de alteridade ao tornar o “eu”, pessoa que enuncia, em um “ele”, não-pessoa (BENVENISTE, 1995), em virtude do caráter de exposição apontado por Han (2017).

Biografia do Autor

Paula Ávila Nunes, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Professora de linguística do Departamento Acadêmico de Linguagem e Comunicação (DALIC) e membro do quadro permanente dos docentes do Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagens (PPGEL) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

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Publicado
2020-08-19
Como Citar
Nunes, P. Ávila. (2020). Da subjetividade na linguagem fotográfica: as categorias de pessoa e não-pessoa na narração de si. Revista Linguagem & Ensino, 23(3), 764-783. https://doi.org/10.15210/rle.v23i3.17760