(De)colonialidade na educação bilíngue para surdos/as no Brasil

trajetórias para gretar

  • Thatiane do Prado-Barros
  • Valdicéia Tavares-Santos
  • Rodrigo Albuquerque
Palavras-chave: Educação, Bilinguismo, Surdos/as, Decolonialidade, Minoria linguística

Resumo

Este trabalho busca refletir sobre os tensionamentos entre diferentes perspectivas no que tange à educação de Surdos/as no cenário histórico brasileiro, trazendo entrelaçamentos com bases teóricas da decolonialidade. Adotou-se a abordagem metodológica qualitativa, de cunho exploratório. Os resultados indicam que as políticas educacionais, regulamentadoras do processo de escolarização para os/as alunos/as Surdos/as, apresentam avanços nas últimas duas décadas. No entanto, longe de serem pacíficos, tais avanços foram conquistados pela permanente mobilização da comunidade Surda a favor de direitos e de políticas públicas direcionadas a esse grupo linguístico minorizado. Concluise que a promoção de práticas assistencialistas e capacitistas deflagram fortes vestígios coloniais, os quais só podem ser mitigados por meio de uma Educação Bilíngue verdadeiramente intercultural.

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Publicado
2023-11-17
Como Citar
do Prado-Barros, T., Tavares-Santos, V., & Albuquerque, R. (2023). (De)colonialidade na educação bilíngue para surdos/as no Brasil: trajetórias para gretar. Revista Linguagem & Ensino, 26(1), 67-83. Recuperado de https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/rle/article/view/25705