Escrita, escritura, inscritura

pensando em conceitos ogúnicos na forja-útero da amefricanidade

  • Denis Moura de Quadros

Resumo

Partindo da afirmação de Audre Lorde (2019) de que as ferramentas do colonizador não nos auxiliarão a realizar uma mudança autêntica, apresento ferramentas e conceitos ogúnicos que estão ainda em formação na forja-útero da amefricanidade. Assim, trago o questionamento das formas de leitura e análise de obras de autoria negra, em especial de mulheres negras, partindo da escrita, que é coletiva, passando ao conceito de escritura, portadora de axé e documento histórico, culminando na inscritura, oralituralizada e coletiva que atravessa os corpos negrofemininos refletindo consciência histórica e refratando estereótipos gastos da democracia racial. Amefricanidade é aqui compreendida como potencialidade que nos permite pensar, formular e aplicar novos critérios epistemológicos e novas categorias de análise. Os conceitos, sobretudo, de escrevivência (Evaristo, 2005, 2007, 2010) e oralitura (Martins, 1997) nos auxiliam nesse processo, bem como outras pesquisas de intelectuais negros e negras

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Publicado
2024-02-27
Como Citar
Moura de Quadros, D. (2024). Escrita, escritura, inscritura: pensando em conceitos ogúnicos na forja-útero da amefricanidade. Revista Linguagem & Ensino, 26(3). https://doi.org/10.15210/rle.v26i3.26283