O agronegócio e "o discurso que precisa ser dado"
discursividades no embate pelo poder institucionalizado
Resumo
Este artigo tem por objetivo discutir o processo de inserção do agronegócio na política, de modo a assegurar sua institucionalização jurídica no exercício de funções tanto ideológicas quanto repressivas. Para dar visibilidade a esse funcionamento, recortamos sequências discursivas da Carta de Achamento do Brasil e de falas de representantes do setor agropecuário. A análise do corpus se fundamenta na Análise de Discurso, iniciada por Michel Pêcheux, na França, e ampliada por Eni Orlandi, no Brasil. Nesse percurso, damos a ver os modos de constituição, formulação e circulação de um discurso que nasceu no campo e que necessitou, para assegurar poder, alcançar o espaço urbano, instalar nele seus escritórios, criar instituições em sua defesa e ocupar cargos nos poderes Legislativo e Executivo, sustentando a aprovação de leis e interferindo nas práticas política, jurídica e burocrática do país e no juridismo, uma vez que não só indicou seus representantes, como também os tornou porta-vozes desse discurso.Downloads
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