Ler a Constituição de 1988 “hoje”

dispositivos (inter)discursivos

  • Iago Moura Melo dos Santos Universidade Estadual de Santa Cruz
Palavras-chave: Presente sobredeterminado, Práticas constitucionais, Materialidades discursivas, Formações jurídicas

Resumo

O que é ler a CRFB/88 “hoje”? Antes, o que significa “ler”? As imagens e representações do Estado e da Constituição são construções intelectuais e não descrições da realidade, as quais, devidamente contextualizadas, transportam, desde logo, um ímpeto político-ideológico particularmente forte – como formula Canotilho em “O Estado adjetivado e teoria da Constituição” (2002). Partindo dessa tomada construcionista do objeto Constituição, propomos uma leitura materialista (inter)discursiva. Trata-se de um percurso epistemológico que compreende o primado do não-dito sobre o que se diz (da/na Constituição) no presente sobredeterminado, uma vez havido o discurso como efeito de sentido entre interlocutores, “relação a” constituída na interlocução, em que se cruzam as ordens da língua e dos processos discursivos (ordem da história), e estando o campo do sujeito discursivo governado pela forma-sujeito moderna (ilusão jurídica da autonomia).

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Biografia do Autor

Iago Moura Melo dos Santos, Universidade Estadual de Santa Cruz
Doutor e Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA. Especialista em Direito Constitucional (UniAmérica). Licenciado em Letras (Unime/Unopar). Bacharel em Direito (UESC). Advogado (OAB/BA). É membro do Grupo de Estudos Discursivos (GED/UESC), do Grupo de Estudos Pecheutianos (GEP) e do Coletivo Contradit (Coletivo de Trabalho - Discurso e Transformação).

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Publicado
2025-01-16
Como Citar
Moura Melo dos Santos, I. (2025). Ler a Constituição de 1988 “hoje”: dispositivos (inter)discursivos. Revista Linguagem & Ensino, 27(3), 507-521. Recuperado de https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/rle/article/view/27827