A presença da ausência como poética na carta de Ana Luiza
Resumo
Diferentemente da carta convencional, mais utilitária e direta, a carta literária apresenta um caráter elaborado e artístico, permitindo que a narrativa se desenvolva por meio de reflexões íntimas, críticas sociais e políticas, ou mesmo pela construção de um enredo ficcional complexo. Ana Luiza, personagem central de Essa coisa viva, de Maria Esther Maciel, tem sua história reconstruída por meio de uma carta, recurso que evidencia a potência estética e expressiva do gênero epistolar literário. Ao escolher o gênero epistolar para narrar a trajetória de Ana Luiza, Maciel também mobiliza o conceito de presença da ausência, já que a carta revela tanto o que é dito quanto o que se insinua como falta, silêncio ou memória fragmentada. Partindo do estudo das concepções literárias do gênero carta, este trabalho busca analisar como esse formato contribui para a construção do romance e de que maneira a autora utiliza a escrita epistolar para estruturar a relação entre a personagem e o enredo. Além da leitura de Essa coisa viva, serão incorporadas reflexões a partir de Carta ao pai, de Franz Kafka, articuladas a elementos da teoria psicanalítica freudiana, especialmente no que tange às dinâmicas de memória, ausência e subjetividade presentes na escrita epistolar, com vistas a estabelecer de que modo a presença na ausência é a espinha dorsal da narrativa.
Referências
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