v. 9 (2003): Caminhos da história

História em Revista, em seu 9º número, se dedica a incursionar pelos caminhos da história, tanto revisitando fontes e temas, quanto detendo-se na análise e teorização do conhecimento histórico e historiográfico atual.Cada novo momento propõe novos desafios, mas também traz perigos à ciência histórica e não são poucos aqueles que prevêem seu fim como ciência e sua substituição por formas variadas do fazer literário. Entretanto, a enorme vitalidade da disciplina, sua incrível flexibilidade quanto a temas e sua abertura a novos enfoques, deixam claro que ela é, das ciências humanas, a que possui maior vitalidade e possibilidade de, aceitando as novas contribuições, continuar em seu papel básico, que é conhecer e interpretar o passado humano.Os artigos incluídos nesse número, não tem uma resposta comum a essa questão, e muitos sequer se preocupam explicitamente com ela, mas trazem, individualmente, propostas diferenciadas de como lidar com os novos modos de fazer história.Com relação à teoria e historiografia, temos o artigo de Silvia Petersen sobre a historiografia brasileira contemporânea, que, embora seja um trabalho feito para ser apresentado a um público estrangeiro, não perde nenhuma das qualidades necessárias a uma boa análise das influências, temas e tendências em voga atualmente no Brasil. Quanto ao artigo de Fernando Nicolazzi procura esmiuçar o pensamento de Paul Ricoeur com relação ao discurso historiográfico.Quanto à forma de trabalho com as fontes, um instigante exemplo de utilização da poesia como fonte para a análise histórica é apresentado pelo estudo de Carlos Rangel, que versa sobre dois poetas de Rivera, no Uruguai, fronteira com o Brasil. Através de sua pesquisa, que incluiu a manipulação de outras fontes tradicionais, como documentos escritos e dados estatísticos, Rangel conseguiu explorar de forma inovadora a representação identitária dessa comunidade fronteiriça através dos versos de Olintho Simões e Agustín Bisio, bem como suas relações com o universo cultural e social brasileiro, que transparece nos próprios versos estudados.Maria Cecília Pilla contextualiza o surgimento e evolução da noção de civilidade na sociedade européia, utilizando-se dos manuais de boas maneiras, que procuravam orientar as relações entre iguais nas classes superiores. Seu trabalho consegue nos apresentar uma interessante visão do desenvolvimento da noção de civilidade e boas maneiras na sociedade ocidental européia e na brasileira.Mas, mesmo fontes já consagradas, como são as correspondências epistolares, ainda se constituem em campos abertos para a atuação histórica, como o comprova o artigo de Paulo Ricardo Pezat, baseado na correspondência trocada entre um membro da Igreja Positivista do Brasil, médico e militar, durante a Revolução Federalista, com lideranças positivistas do Rio de Janeiro, na qual se mesclam as visões do médico sobre a barbárie da guerra, as convicções do positivista sobre a difusão de sua doutrina e as simpatias do militar republicano para com os castilhistas durante a revolta. Embora bem explorada pelo autor, o próprio artigo deixa entrever vários outros usos dessa correspondência, especialmente em relação ao cotidiano e as relações familiares estremecidas pela guerra.Ana Teresa Gonçalves traz, baseada em grande erudição, uma reflexão sobre a forma como os Severo, em Roma, utilizaram-se de várias estratégias, entre elas a representação de imagens, na formação de apoios entre alguns segmentos sociais, lidando com a evolução dessa representação ao longo das etapas da vida de Septimio Severo.Por último, temos o artigo de uma recém egressa do curso de história da UFPel, Beatriz Zechlinski, sobre as relações entre literatura e história, tema de sua monografia de conclusão de curso. Até aqui, a revista sempre procurou oportunizar a publicação dos resultados dos trabalhos finais dos alunos, como forma de valorização do seu trabalho. Este artigo foi escolhido, entre outros três, por uma comissão de professores do curso.
Publicado: 2017-07-19