Influências temporais do pomerano na produção de vogais suarabáticas no português de contato

O timing como um padrão específico de língua

Palavras-chave: Fonologia Gestual, Vogal suarabáctica, Pomerano, Línguas em contato, Fonética e Fonologia

Resumo

O presente trabalho visa investigar a influência do pomerano, língua de imigração baixo-alemã, na produção de vogais suarabácticas em grupos consonantais [Cɾ] e [ɾC] do português falado no município de São Lourenço do Sul (RS). Para tanto, foram entrevistadas dez participantes bilíngues e monolíngues, residentes do referido município e de Pelotas (RS). Foram realizados três experimentos para montagem do córpus: descrição de imagens, nomeação de imagens e leitura de palavras, que buscavam emular um contexto naturalístico e controlar variáveis intralinguísticas. Os resultados indicaram uma influência do pomerano tanto na produção das vogais suarabácticas, já que as participantes bilíngues produziram um número significativamente menor desses elementos vocálicos na posição pós-vocálica, quanto na duração das vogais suarabácticas produzidas, dado que as bilíngues produziram elementos vocálicos mais longos. Adicionalmente, a análise de 111 produções em pomerano revelou vogais suarabácticas significativamente mais longas do que aquelas produzidas em português, corroborando a influência da língua dominante.

Referências

ALLEN W. S. Phonetics in Ancient India. London Oriental Series, Vol. I. London: Oxford University Press, 1953.

BILHARVA DA SILVA, F. O contato português-pomerano na produção dos grupos [Cɾ] e [ɾC]: o caso das vogais suarabácticas. 2019. 279 f. Tese (Doutorado em Linguística) - Escola de Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2019.

BILHARVA DA SILVA, F. Produção dos róticos em sequências consonantais [CR] e [RC] no português de contato com o pomerano. A cor das letras, v. 21, n. 1, p. 132-154, 2020. https://doi.org/10.13102/cl.v21i1.4974

BROWMAN, C. P.; GOLDSTEIN, L. Towards an articulatory phonology. Phonology Yearbook, v. 3, p. 219-252, 1986. https://doi.org/10.1017/S0952675700000658

BROWMAN, C. P.; GOLDSTEIN, L. Articulatory gestural as phonological units. In: Haskings Laboratories Status Report on Speech Research, SR-99/100, p. 69-101, 1989. https://doi.org/10.1159/000261913

BROWMAN, C. P.; GOLDSTEIN, L. Articulatory Phonology: an overview. Phonetica, v. 49, n. 3-4, p. 155-180, 1992. https://doi.org/10.1159/000261913

DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. 10 ed. São Paulo: Cultrix, 1997.

FOWLER, C. A. Coarticulation and theories of extrinsic timing. Journal of Phonetics, v. 8, p. 113-133, 1980. https://doi.org/10.1016/S0095-4470(19)31446-9

GAFOS, A. A grammar of gestural coordination. Natural language and linguistic theory, v. 20, n. 2, p. 269-337, 2002. https://doi.org/10.1023/A:1014942312445

GEWEHR-BORELLA. S. A influência da fala bilíngue hunsrückisch-português brasileiro na escrita de crianças brasileiras em séries iniciais. 2010. 205 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Católica de Pelotas – UCPEL, Pelotas, 2010.

GROSJEAN, F. Studying bilinguals. Oxford: Oxford University Press, 2008.

HALL, N. Gestures and segments: Vowel intrusion as overlap. 2003. Ph.D. dissertation, University of Massachusetts Amherst, Amherst, 2003.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2020.

JACOB, H. Aprenda pomerano. Santa Maria do Jetibá: Solvus Aplicativos, 2016.

OHALA, J. J. The integration of phonetics and phonology. Proceedings of the XIIth International Congress of Phonetic Sciences, Aix en Provence, p. 19-24, 1991.

QUILIS, A. Tratado de fonologia y fonética españolas. 2 ed. Madrid: Gredos, 1999.

RAMÍREZ, C. J. 2006. Acoustic and Perceptual Characterization of the Epenthetic Vowel between the Clusters Formed by Consonant + Liquid in Spanish. Selected Proceedings of the 2nd Conference on Laboratory Approaches to Spanish Phonetics and Phonology, ed. Manuel Díaz-Campos, 48-61. Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project.

SCHAEFFER, S. C. B. Descrição fonética e fonológica do pomerano falado no Espírito Santo. 2012. 130 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Espírito Santo, 2012.

SILVA, A. H. P. Para a descrição fonético-acústica das líquidas do português brasileiro: dados de um informante paulistano. Dissertação (Mestrado) – UNICAMP/IEL, Campinas, 1996.

SILVA, A. H. P. O estatuto da análise acústica nos estudos fônicos. Cadernos de Letras da UFF, n. 41, p. 213-229, 2010.

SILVA, A. H. P. CLEMENTE, F. C.; NISHIDA, G. Para a representação

dinâmica do tap em grupos e codas: evidências acústicas. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, v. 4, n. 7, p. 1-26, 2006.

SPROAT, R.; FUJIMURA, O. Allophonic variation of American English /l/ and its implications for phonetic implementation. Journal of Phonetics, v. 21, p. 291-311, 1993. https://doi.org/10.1016/S0095-4470(19)31340-3

STERIADE, D. Gestures and autosegments. In: BECKMAN, M.; KINGSTON, J. (eds.) Papers in Laboratory Phonology, Cambridge University Press, 1990. p. 382-397. https://doi.org/10.1017/CBO9780511627736.021

TRESSMANN, I. Bilinguismo no Brasil: o caso da comunidade pomerana de Laranja da Terra. Associação de Estudos da Linguagem (ASSEL-Rio), Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro, 1998.

WEINREINCH, U. Languages in contact. The Hague: Mouton Publishers, 1963 [1953].

WEISS, H. E. Fonética Articulatória: guia e exercícios, 2 ed. Brasília: Summer Institute of Linguistics, 1980.

WILLIAMS, B. E. Do latim ao português: fonologia e morfologia históricas da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1961.

YAVAS, M.; HERNANDORENA, C. L. M.; LAMPRECHT, R. R. Avaliação fonológica da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

Publicado
2020-11-06
Como Citar
Bilharva da Silva, F. (2020). Influências temporais do pomerano na produção de vogais suarabáticas no português de contato: O timing como um padrão específico de língua. Revista Linguagem & Ensino, 23(4), 937-961. https://doi.org/10.15210/rle.v23i4.18568