Sentidos de campo da vida cotidiana na BNCC

A política de uma língua

Palavras-chave: Análise de Discurso, História das Ideias Linguísticas, Políticas linguísticas, Vida Cotidiana, BNCC.

Resumo

Com o objetivo de compreender o processo de produção de sentidos da denominação Campo da vida cotidiana na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em sua relação com as políticas linguísticas no espaço brasileiro, realizamos uma discussão com diversas pesquisas produzidas em articulação com a Análise de Discurso e a História das Ideias Linguísticas sobre essa questão. Em nossas análises, pudemos notar um efeito de sobreposição da política de uma língua – demanda do Estado – a demandas de políticas de línguas outras. Mostramos como a inserção do Campo da vida cotidiana nos Anos Iniciais do componente curricular de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental contribui para esse processo. Tal processo conduz à disciplinarização do cotidiano enquanto um campo de saber que contribui para a manutenção de um efeito de unidade linguística da língua portuguesa pelo aprendizado da leitura e da escrita com base em gêneros textuais.

Biografia do Autor

Ana Cláudia Fernandes Ferreira, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Docente da área de História das Ideias Linguísticas do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp
Juciele Pereira Dias, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Pesquisadora de Pós-doutorado sênior em Linguística e Línguas Indígenas do Departamento de Antropologia do Setor de Linguística do Museu Nacional da UFRJ

Referências

AUROUX, S. A Revolução Tecnológica da Gramatização. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Versão final publicada em 4 de dezembro de 2018. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 15 ago. 2020.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. 2018. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fbz-cpct1W4. Acesso em: 15 ago. 2020.

DE CERTEAU, M. Une culture très ordinaire. Esprit, Paris, v. 10, n. 22, 1978.

DE CERTEAU (1980). L’invention du quotidien. 1. Arts de faire. Nouvelle édition, établie et présentée par Luce Giard. Paris: Éditions Gallimard, 1990 (Impresso na Itália em 2019).

DELA SILVA, S.; FREITAS, R. A. de. “Se a base da educação é a mesma, as oportunidades também serão”? A propaganda sobre educação no governo Temer. Investigações, Recife, v. 31, n. 2, p. 26-48, 2018.

DIAS, J. P. O lugar e o funcionamento do título pela obra de Mattoso Câmara. 2008. 91 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Área de Concentração em Estudos Linguísticos, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009.

DIAS, J. P.; NOGUEIRA, L. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Sentidos em disputa na lógica das competências. Investigações, Recife, v. 31, n. 2, p. 26-48, 2018.

DIAS, J. P.; NOGUEIRA, L. Os sentidos de diversidade na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Língua, educação e propaganda. In: SILVA, D. S; SILVA, Claudemir. (Orgs.) Pêcheux em (dis)curso: entre o já-dito e o novo. Pedro & João Editores, 2021. p. 231-252.

FERREIRA, A. C. F. A noção de Políticas linguísticas ordinárias. Seminário IEL/Unicamp, 2019.

FERREIRA, A. C. F. O cotidiano na história das ideias linguísticas. Línguas e instrumentos linguísticos, Campinas, v. 23, n. 46, p. 4-30, 2020b.

FERREIRA, A. C. F. Saberes linguísticos cotidianos. Porto das Letras, Palmas, v. 6, n. 5, p. 324-351, 2020c.

FERREIRA, A. C. F. Saberes linguísticos cotidianos. Niterói: UFF, 2020d. 1 vídeo (6:52 min). Postado pelo canal EnciDIS UFF, Enciclopédia Virtual de Análise do Discurso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y0xb6Km51B4&t=8s. Acesso em: 20 out. 2020.

FERREIRA, A. C. F. Políticas linguísticas ordinárias. Niterói: UFF, 2020e. 1 vídeo (7:17 min). Postado pelo canal EnciDis, Enciclopédia Virtual de Análise do Discurso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lcZsNeEgim0&t=7s. Acesso em: 20 out. 2020.

FERREIRA, A. C. F. Ler, (d)escrever e interpretar os artefatos. In: DIAS, C.; COSTA, G.; BARBAI, M. (Orgs.) Artefatos de leitura. Campinas: Labeurb/Nudecri/Unicamp, 2020a. p. 83-102.

FERREIRA, A. C. F.; DIAS, J. Políticas linguísticas ordinárias. Simpósio Discurso, conhecimento, políticas linguísticas. IX SEAD: A Análise de Discurso e suas Condições de Produção. Recife, UFPE, 2019.

GUIMARÃES, E. Língua de civilização e línguas de cultura: a língua nacional do Brasil. In: BARROS, D. (Org.). Os discursos do descobrimento. São Paulo: Fapesp/Edusp, 2000.

LACAN, J. (1958) A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

LAGAZZI, S. O recorte e o entremeio condições para a materialidade significante. In: BRANCO, L. et al. (Orgs.). Análise de Discurso no Brasil: Pensando o impensado sempre, uma homenagem a Eni Orlandi. Campinas: RG, 2011.

LUZ, M. N. S. da; HÜBNER, J.; KONZEN, M. C. H. Diversidade na aula de Língua Portuguesa: um olhar discursivo ao que diz a BNCC. Investigações, Recife, v. 31, n. 2, p. 26-48, 2018.

MARIANI, B. Colonização Linguística. Campinas: Pontes, 2004.

ORLANDI, E. Língua imaginária e língua fluida. Seminário IEL/Unicamp, 1985.

ORLANDI, E. Confronto pela linguagem. In: ORLANDI, E. (Org.) Política linguística na América Latina. Campinas: Pontes, 1988.

ORLANDI, E. Terra à Vista. Discurso do confronto: velho e novo mundo. São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Unicamp, 1990.

ORLANDI, E. Ética e Política Linguística. Línguas e Instrumentos Linguísticos, Campinas, n. 1, 1998a.

ORLANDI, E. O próprio da análise de discurso. Escritos, 3. Discurso e Política. Campinas: Labeurb/Unicamp, 1998b.

ORLANDI, E. Apresentação: há palavras que mudam de sentido, outras... demoram mais. In: ORLANDI, E. (Org.) Política linguística no Brasil. Campinas: Pontes, 2007a. p. 7-10.

ORLANDI, E. Teorias da linguagem e discurso do multilinguismo. In: ORLANDI, E. (Org.) Política linguística no Brasil. Campinas: Pontes, 2007b. p. 53-62.

ORLANDI, E. Língua brasileira e outras histórias: Discursos sobre língua e ensino no Brasil. Campinas: RG, 2009.

ORLANDI, E. Espaços linguísticos e seus desafios: convergências e divergências. Rua, Campinas, v. 2, n. 18, 2012.

ORLANDI, E. (Org.) Discurso e políticas públicas: a fabricação do consenso. Campinas: RG, 2010.

ORLANDI, E.; GUIMARÃES, E. Língua e cidadania: o português no Brasil. Campinas: Pontes, 1996.

ORLANDI, E.; SOUZA, T. C. Língua imaginária e língua fluida: dois métodos de trabalho com a linguagem. In: ORLANDI, E. (Org.). Política linguística na América Latina. Campinas: Pontes, 1988.

PAGOTTO, E. O Linguista e o burocrata: a universalização dos direitos e os processos normativos. In: ORLANDI, E. (Org.) Política linguística no Brasil. Campinas: Pontes, 2007.

PAGOTTO, E. A norma das constituições e a constituição da norma no século XIX. Revista Letra. Rio de Janeiro, v. 1-2, p. 31-50, 2013.

PFEIFFER, C. R. C.; DIAS, J. P.; NOGUEIRA, L. (Orgs.). Língua, ensino, tecnologia. Campinas: Pontes Editores, 2020.

PÊCHEUX, M. (1975) Semântica e Discurso. Uma Crítica à Afirmação do Óbvio. Campinas: Editora da Unicamp, 1997.

PÊCHEUX, M. (1982) Delimitações, inversões, deslocamentos. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 19, p. 7-24, 1990.

PÊCHEUX, M. (1982) Ler o Arquivo Hoje. In: ORLANDI, Eni (Org.). Gestos de Leitura: Da História no Discurso. 2 ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1997.

PÊCHEUX, M. (1983) O discurso: estrutura ou acontecimento. 3. ed. Campinas: Pontes, 2002.

PÊCHEUX, M; GADET, F. (1977) Há uma via para a linguística fora do logicismo e do sociologismo? In: Escritos 3. Discurso e Política. Campinas: Labeurb/Unicamp/Fapesp, 1998.

PFEIFFER, C.; GRIGOLETTO, M. Reforma do Ensino Médio e BNCC – Divisões, Disputas e Interdições de Sentidos. Investigações, Recife, v. 31, n. 2, p. 7-25, 2018.

SCHERER, A. Disciplinarização e Manualização. Niterói: UFF, 2020. 1 vídeo (7:59 min). Postado pelo canal EnciDIS UFF, Enciclopédia Virtual de Análise do Discurso. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SLLEfmy_ZqM&t=19s. Acesso em: 20 out. 2020.

SILVA, M. V da. Uma Base Nacional Curricular Comum para a leitura nas escolas brasileiras: a política e o político. In: FLORES, G. B. et. al (Orgs.). Análise de discurso em rede: cultura e mídia. 1. ed. Campinas: Pontes Editora, 2017. v. 3. p. 315-332.

SILVA, M. V da. Estado, escola, língua: unidades divididas. In: ORLANDI, E. et al. (Orgs.) Linguagem, instituições e práticas sociais. Pouso Alegre: Univás, 2018. p. 103-117.

Publicado
2021-10-01
Como Citar
Cláudia Fernandes Ferreira, A., & Pereira Dias, J. (2021). Sentidos de campo da vida cotidiana na BNCC: A política de uma língua. Revista Linguagem & Ensino, 24(3), 603-624. https://doi.org/10.15210/rle.v24i3.20058