Das práticas sociais ao conteúdo temático: interfaces da intervenção no gênero redação do Enem
Resumo
Este trabalho analisa as propostas de intervenção apresentadas nas redações modelares do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano de 2016. A partir da propositura do tema intolerância religiosa, a interculturalidade é gestada em um contexto de admissão do acirramento das lutas por reconhecimento de identidades e de direitos nas sociedades contemporâneas. O espaço destinado à intervenção emerge como campo de tensão, forjado no embate de forças entre diferentes agentes sociais aos quais é atribuído o papel de dirimir, controlar e aplacar conflitos. Utilizando-nos do aparato teórico-metodológico da Análise do Discurso de matriz francesa, dos pressupostos foucaultianos acerca de poder e discurso, e considerando as peculiaridades do itinerário histórico nacional, pretendemos examinar as ocorrências, a complementariedade de ação e a hierarquização dos agentes atuantes na intervenção e, assim, reconhecer os desdobramentos e as nuanças da complexa trama discursiva formada em torno da convivência e dos intercâmbios culturais no Brasil.Downloads
Referências
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 277-326. Original publicado em 1952-53.
BLANCHOT, Maurice. Foucault como o imagino. Lisboa: Relógio D’Água, 1986.
BRASIL. Cartilha do Participante: ENEM. 2017. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2017/manual_de_redacao_do_enem_2017.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2018.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
CANDAU, Vera Maria F. Interculturalidade e educação escolar. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2018.
FLEURI, Reinaldo Matias. Educação intercultural no Brasil: a perspectiva epistemológica da complexidade. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 80, p. 277-289. 1999.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 6. ed. Tradução de Luís Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 13. ed. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. 19. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2004.
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 231-249.
FOUCAULT, Michel. Resposta a uma questão. FOUCAULT, Michel. Repensar a política. Ditos e escritos VI. Tradução de Ana Lúcia Paranhos Pessoa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 01-23.
MORATO, Rodrigo A.; PRADO, Daniela de Faria. A redação do ENEM como gênero textual discursivo: uma breve reflexão. Cadernos ESPUC, n. 29, 2016. https://doi.org/10.5752/P.2358-3231.n29p205-219
OLIVEIRA, Irene Dias de. Religião e as teias do multiculturalismo. São Paulo: Fonte Editorial, 2015.
ORLANDI, Eni. Análise de discurso. 5. ed. Campinas, SP: Pontes, 2003.
RODRIGUES, Maria Beatriz. Interculturalidade: por uma genealogia da discriminação. Psicologia & Sociedade [online]. 2007, v. 19, n. 3, p. 55-61. https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000300009
SEN, Amartya. Identidade e violência: a ilusão do destino. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2015.
SILVA, Lucilia da; SOARES, Katia. A intolerância religiosa face às religiões de matriz africana como expressão das relações étnico-raciais brasileiras: o terreno do combate à intolerância no município de Duque de Caxias. Revista EDUC, v. 1, n. 3, 2015.
WALSH, Catherine. La educación intercultural en la educación. Peru: Ministerio de Educación, 2001. Mimeografado. In: CANDAU, Vera (Org.). Diferenças culturais e educação: construindo caminhos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2011. 212p.