Alinhando à tese de Charles Goodwin: “o afásico é um falante competente que não pode falar”

Palavras-chave: Linguagem, Interação, Afasia.

Resumo

Este estudo objetivou investigar a competência pragmático-interacional de um sujeito afásico, partindo de dados naturais de fala em interação e alinhando-se à tese de Charles Goodwin de que afásicos são falantes competentes que não podem falar. Nele, elegemos olhar para a performance de um sujeito afásico via estratégias discursivas por ele engenhosamente utilizadas para dar conta da comunicação com o outro. Para dar suporte às nossas escolhas teóricas e metodológicas, recorremos aos fundamentos do campo da Linguística Sociointeracional, área que se caracteriza por articular diferentes tradições de pesquisa, como a AC, a Linguística, a Antropologia (etnografia), a Sociologia, a Filosofia (Pragmática) (cf. Gumperz 1982). Seguindo esse caminho, foi possível observar que o sujeito afásico se engajou proativamente na interação, empenhando-se muito (e colaborativamente) para que os seus interlocutores o compreendessem, e, assim, de um modo extremamente habilidoso, mostrou sua grande competência pragmático-interacional em performances de um falante competente.

Referências

BASTOS, L. C. Interação, múltiplas semioses e corpo: uma interlocução com Charles Goodwin. Calidoscópio, v. 8, n. 2, p. 99-102, 2010. https://doi.org/10.4013/cld.2010.82.02

BAUMAN, R. Story, performance and event. In: BAUMAN, R. Contextual studies of oral narratives. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. p. 1-10. https://doi.org/10.1017/CBO9780511620935

COULON, A. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995.

De FINA, A. Indentity in narrative: a discourse approach. In: De FINA, A. Identity in Narrative: A Study of Immigrant Discourse. Amsterdam: John Benjamins, 2003. p. 11-30. https://doi.org/10.1075/sin.3

GARFINKEL, H.; SACKS, H. On formal structures of practical actions. In:

GARFINKEL, H. (Org.). Ethnomethodological Studies of Work. London: Routledge & Kegan Paul, 1986. p. 160-193.

GOFFMAN, E. A representação do eu na vida cotidiana. 15. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.

GOFFMAN, E. Footing. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. (Orgs.) Sociolinguística Interacional. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola. 2002 [1979]. p. 107-148.

GOODWIN, C. A Competent Speaker Who Can't Speak: The Social Life of Aphasia. Journal of Linguistic Anthropology, v. 14, n. 2, p. 151-170, 2004. https://doi.org/10.1525/jlin.2004.14.2.151

GOODWIN, C. Conversational Frameworks for the Accomplishment of Meaning in Aphasia. In: GOODWIN, C. (Org.), Conversation and Brain Damage. Oxford: Oxford University Press, 2003. p. 90-116.

GOODWIN, C. Producing Sense with Nonsense Syllables: Turn and Sequence in the Conversations of a Man with Severe Aphasia. In: FOX, B.; FORD, C.; THOMPSON, S. The Language of Turn and Sequence. Oxford: Oxford University Press, 2002, p. 56-80.

GOODWIN, C. Co-constructing Meaning in Conversations with an Aphasic Man. Research on Language and Social Interaction, v. 28, p. 233-60, 1995.

https://doi.org/10.1207/s15327973rlsi2803_4

GOODWIN, C. Audience diversity, participation and interpretation. Text, v. 6, n. 3, p. 283-316, 1986. https://doi.org/10.1515/text.1.1986.6.3.283

GRICE, H. P. Lógica e Conversação. In: DASCAL, M. Fundamentos Metodológicos da Linguística. Pragmática. Campinas: Unicamp, 1982. p. 81-104.

GUMPERZ, J. J. Discourse strategies. Cambridge: Cambridge University Press, 1982. https://doi.org/10.1017/CBO9780511611834

GUMPERZ, J. J. On Interactional sociolinguistic method. In: SARANGI, S.; ROBERT, C. Talk, work and institutional order. New York: Mouton Gruyter, 1999. p. 453-471. https://doi.org/10.1515/9783110208375.4.453

GUMPERZ, J. J. Convenções de Contextualização. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. (Orgs.) Sociolinguística Interacional: antropologia, linguística e sociologia e análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998. p. 98-119.

JACOBY, S.; OCHS, E. Co-construction: an introduction. Research on Language and Social Interaction, v. 28, n. 3, p. 171-183, 1995. https://doi.org/10.1207/s15327973rlsi2803_1

KLIPPI, A. Pointing as an embodied practice in aphasic interaction. Aphasiology, v. 29, n. 3, p. 337-354, 2015. https://doi.org/10.1080/02687038.2013.878451

LAAKSO, M. Collaborative participation in aphasic word searching: comparison between significant others and speech and language therapists. Aphasiology, v. 29, n. 3, p. 269-290, 2015. https://doi.org/10.1080/02687038.2013.878450

MERLINO, S. Assisting the Client in Aphasia Speech Therapy: A Sequential and Multimodal Analysis of Cueing Practices. Hacettepe University Journal of Education, v. 33, p. 334-357, 2018. https://doi.org/10.16986/HUJE.2018038810

MOERMAN, M. Talking Culture: Ethnography and Conversation Analysis. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1996 [1988].

MORATO, E. M. Da noção de competência no campo da linguística. In: SIGNORINI, INES (Org.). Situar a linguagem. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. p 39-66.

OCHS, E. Constructing Social Identity: A language socialization perspective. Research on Language and Social Interaction, v. 26, n. 3, p. 287-306, 1993.

https://doi.org/10.1207/s15327973rlsi2603_3

OCHS, E.; CAPPS, L. Living Narrative: Creating Lives in Everyday Storytelling. Harvard: Harvard University Press, 2001.

OLIVEIRA, L. M. A performance de pessoas com afasia na construção de narrativas em interações face a face em grupo. Rio de Janeiro, RJ. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC – Rio, 2013, 170p.

OLIVEIRA, L. M. Olhando para as trajetórias de reparo em um relato de procedimento realizado por uma pessoa com afasia durante uma conversa face a face. Cadernos do IL, v. 38, n. 38, p. 64-87, 2009.

OLIVEIRA, L. M.; BASTOS, L. C. A performance narrativa de mulheres com afasia. Revista Veredas, v. 19, p. 269-291, 2015.

OLIVEIRA, L. M.; BASTOS, L. C. Narrando em colaboração: as construções discursivas de uma pessoa com afasia. Linguagem em (Dis)curso, v. 14, n. 2, p. 247-267, 2014. https://doi.org/10.1590/1982-4017.140202.2313

OLIVEIRA, L. M.; BASTOS, L. C. Aspectos da dinâmica interacional da narração de histórias por pessoas com afasia. Calidoscópio, v. 10, n. 2, p. 194-210, 2012.

https://doi.org/10.4013/cld.2012.102.07

OLIVEIRA, L. M.; BASTOS, L. C. Uma história de AVC: a construção do sofrimento por uma pessoa com afasia. Revista Veredas, v. 15, n. 1, p. 120-135, 2011.

OLIVEIRA, L. M., DIAS, J. G. O autorreparo como estratégia adaptativa na fala em interação de um afásico. Linguagem em (Dis)curso, v. 18, n. 1, p. 49-68, 2018.

https://doi.org/10.1590/1982-4017-180103-5017

OLIVEIRA, L. M.; OLIVEIRA, M. M. O uso do discurso reportado direto por uma pessoa com afasia na construção de uma narrativa. Revista CEFAC, v. 16, n. 1, p. 131-146, 2014. https://doi.org/10.1590/1982-021620147512

SACKS, H.; SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. Sistemática elementar para a organização da tomada de turnos para a conversa. Revista Veredas, v. 7, n. 12, p. 1-67, 2005.

SACKS, H. On the preferences for agreement and contiguity in sequences in conversation. In: BUTTON, G.; LEE, J. R. E (Orgs.). Talk and Social Organization. Clevedon: Multilingual Matters, 1993, p. 54-69.

SCHEGLOFF, E. The Organization of Preference/Dispreference. Apostila do curso Conversational Structures, UCLA, 1995, p. 54-89.

SCHEGLOFF, E; JEFFERSON, G; SACKS, H. The Preference for self-correction in the organization of repair in Conversation. Language, v. 53, n. 2, p. 361-382, 1977.

https://doi.org/10.1353/lan.1977.0041

SCHIFFRIN, D. Discourse markers. Cambridge: Cambridge University Press, 1987. https://doi.org/10.1017/CBO9780511611841

TANNEN, D. “On Talking voice that is so sweet”: constructing dialogue in conversation. In: TANNEN, D. (Org.). Talking voices: repetition, dialogue and imagery in conversational discourse. Cambridge: Cambridge University Press, 1989, p. 98-133.

TANNEN, D.; WALLAT, C. Enquadres interativos e esquemas de conhecimento em interação: exemplos de um exame / consulta médica. Trad. Parmênio Camurça Citó. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. (Orgs). Sociolinguística Interacional. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002 [1987], 153-174.

Publicado
2019-05-06
Como Citar
Miranda de Oliveira, L., Gonçalves Dias, J., & Santos Leite, I. (2019). Alinhando à tese de Charles Goodwin: “o afásico é um falante competente que não pode falar”. Revista Linguagem & Ensino, 22(1), 310-336. https://doi.org/10.15210/rle.v22i1.16162