Escrit(ur)a e autoria na língua do outro
Língua, discurso e resistência(s)
Resumo
Fundamentado no escopo teórico-metodológico da Análise de Discurso pecheuxtiana, este artigo desenvolve uma discussão sobre a relação que se estabelece entre escrit(ur)a e autoria em língua estrangeira. Traçamos como objetivo compreender os movimentos que constituem as formas de inscrição dos sujeitos-alunos em língua espanhola, a partir dos seus gestos de autoria no espaço acadêmico, e dos gestos de revisão-correção do professor-leitor que sobre o texto trabalha, observando os momentos em que as falhas na língua nos provocam a olhar para a equivocidade no discurso, pensando a relação entre inscrição e resistência na língua do outro. O corpus foi formado por sequências discursivas recortadas das práticas discursivas de estudantes do curso de Letras-Espanhol da UFRPE em situação de intercâmbio na Universidade de Buenos Aires (UBA). Os resultados das análises mostram-nos que, a partir dos seus gestos interpretativos, o sujeito toma a palavra e se diz enquanto tal, produzindo, nessa outra língua, gestos de autoria e inscrevendo-se numa nova ordem e seu funcionamento.Downloads
Referências
AUTHIER-REVUZ, J. Palavras incertas. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1998.
BRAGA, S.; SENEM, J. A escrita acadêmica do aluno na universidade: na tensão dos discursos científico, acadêmico e pedagógico. In. FLORES, G.G. B.; GALLO, S. M. L.; LAGAZZI, S.; NECKEL, N. R. M; PFEIFFER, C. C.; ZOPPI-FONTANA, M. G. (orgs.). Análise de discurso em rede: cultura e mídia, v. 3. Campinas: Pontes Editores, 2017.
CAVALLARI, J. S. O equívoco no discurso da inclusão: o funcionamento do conceito de diferença no depoimento de agentes educacionais. RBLA, Belo Horizonte, v. 10, n. 3, p. 667-680, 2010.
CELADA, M. T. Linguagem/sujeito. Forçando a barra em língua estrangeira. In: CARMAGNANI, A. M. e GRIGOLETTO, M. (orgs.). Língua, discurso e processos de subjetivização na contemporaneidade. São Paulo: Humanitas, 2013. p. 43-76.
CELADA, M. T. O que quer, o que pode uma língua? Língua estrangeira, memória discursiva, subjetividade. Revista Letras, Santa Maria, n. 37, p. 145–168, 2008.
COURTINE, J.-J. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos: EdUFSCar, 2009
COURTINE, J. J.; MARANDIN, J. M. Que objeto para a análise do discurso? In: CONEIN, B.; COURTINE, J. J.; GADET, F.; MARANDIN, J. M.; PÊCHEUX, M. (Orgs). Materialidades discursivas. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016.
DE NARDI, F. S. Entre a rejeição e o acolhimento na língua do outro. Revista Desenredo, Passo Fundo, v. 5, n. 2, p. 182-193, 2010.
GALLO, S. L. Autoria: questão enunciativa ou discursiva? Revista Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 1, n. 2, p. 1-3, 2001.
GALLO, S. L. Como o texto se produz: uma perspectiva discursiva. Blumenau: Nova Letra, 2008.
HENY, P. De l'Enonce au Discours. Pressuposition et Processus Discursifs. Ronéo CNRS-EPHE, 1974.
INDURSKY, F. As determinações da prática discursiva da escrita. Revista Desenredo, Passo Fundo, v. 12, n. 1, p. 30-47, 2016.
INDURSKY, F. A escrita à luz da Análise do Discurso. In: CORTIN, A.; NASSER, S. M. G. C. (Orgs.). Sujeito e linguagem. São Paulo: Cultura Acadêmica, Série Trilhas Linguísticas, n. 17, p. 117-131, 2009.
MARIANI, B. (Org.). A escrita e os escritos: reflexões em análise do discurso e psicanálise. São Carlos: Claraluz, 2006.
MILNER, J. O amor da língua. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
ORLANDI, E. Discurso e texto – formação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes Editores, 2012.
ORLANDI, E. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2006.
ORLANDI, E. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes, 1996.
PAYER, M. O.; CELADA, M. T. Relação sujeito língua(s) – materna, nacional, estrangeira. In: SILVEIRA, Eliane Mara. (Org.). As bordas da linguagem. 1 ed. Uberlândia: EDUFU, v. 1, 2011. p. 67-94.
PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. 2. ed. Campinas: Pontes Editores, [1983] 2015.
PÊCHEUX, M. Análise de discurso: três épocas. In: GADET, F.; HAK, T. (Orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Trad. B.S. Mariani et. al. 4 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, [1975]1997. p. 311-318.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4. ed. Trad. Eni P. Orlandi. Campinas: Editora da UNICAMP, [1975] 1995.
PÊCHEUX, M. e GADET, F. A língua inatingível: o discurso na história da linguística. 2. ed. Campinas: Editora RG, [1981] 2010.
REVUZ, C. A Língua estrangeira entre o desejo de um outro ugar e o risco do exílio. In: SIGNORINI, I. (Org.) Linguagem e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado. 4 ed. São Paulo: FAPESP, 2001.
SCHONS, C. R. e RÖSING, T. M. L. (Orgs). Questões de Escrita. Passo Fundo: UPF, 2005.
SERRANI, S. M. Memórias discursivas, línguas e identidades socioculturais. ORGANON, Porto Alegre, v. 17, n. 35, p. 283-297, 2003.
SERRANI, S. M. Singularidade discursiva na enunciação em segundas línguas. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 38, p. 109-120, 2000.
SERRANI, S. M. Identidade e segundas línguas: as identificações no discurso. In. SIGNORINI, I. (Org.). Língua(gem) e identidade. Campinas: Fapesp/Faep/Mercado de Letras, 1998.