A Língua como pátria ou a língua como direito?

A identidade de um estrangeiro professor de PLE

  • Gabriel Nascimento Universidade Federal do Sul da Bahia
  • Maria D'Ajuda Alomba Ribeiro Universidade Federal de Roraima/ Universidade Estadual de Santa Cruz
Palavras-chave: Língua como pátria, Língua como direito, PLE.

Resumo

O presente artigo questiona a ideia de língua como pátria no mundo moderno, de maneira a criar a categoria de “estrangeiro” e “conterrâneo” no ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE). Para complicar essa discussão com fins de aprofundar essa questão, trazemos contribuições da área de identidade e ensino-aprendizagem de línguas, a visão de língua como invenção, inclusive no ensino de PLE, e um histórico da pesquisa e realização de cursos no PLE com vistas a questionar o papel do acolhimento, a identidade e a contribuição de um professor de PLE que é participante desta pesquisa. Seus dados, coletados através de um estudo de caso que, neste artigo se apresenta como uma história de vida, revelam que a “desestrangeirização” por meio de uma abordagem comunicativa no ensino de línguas, e, sobretudo no PLE, não pode se tornar uma categoria construída somente pelo viés do especialista/professor “nativo” banco de PLE, mas uma categoria co-construída com o desejo do aprendiz. Por último, reforçamos a necessidade de se ver a língua como direito, como espaço onde os sujeitos podem existir legitimamente. 

Biografia do Autor

Gabriel Nascimento, Universidade Federal do Sul da Bahia
Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), tendo recebido o título de mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu a graduação em Letras Inglês Português pela Universidade Estadual de Santa Cruz. É professor de Língua Inglesa/Ensino de Línguas/Campo da Educação na Universidade Federal do Sul da Bahia, Campus Sosígenes Costa, em Porto Seguro-BA, tendo sido Visiting Scholar na University of Pennsylvania, Estados Unidos. Consultor ad-hoc da CAPES e membro do corpo editorial do periódico Ethical lingua (Publicado pela Universitas Cokroaminoto Palopo- Indonésia), é autor dos livros "Racismo linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo" (Letramento Editorial), "O Maníaco das Onze e Meia" (Editora Multifoco) e "Este fingimento e outros poemas" (Editora García), líder do Grupo de Pesquisa em Linguagem e Racismo (UFSB) e membro dos grupos de pesquisa "Projeto Nacional de Letramentos: Linguagem, Cultura, Educação e Tecnologia (USP)", "Perspectivas linguísticas contemporâneas sobre identidade, subjetividade e conhecimento (UFG)" e "Identidades, Letramentos e Emoções no ensino-aprendizagem de línguas e na formação docente (UnB)". Tem experiência na área de Linguística Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Formação de professores de linguas estrangeiras, Identidade e Ensino/aprendizagem de Língua Estrangeira (Inglês) e Construção/representação de identidades etnicorraciais e de classe social no ensino de línguas.
Maria D'Ajuda Alomba Ribeiro, Universidade Federal de Roraima/ Universidade Estadual de Santa Cruz
Possui graduação em Letras Português Inglês pela Universidade Estadual de Santa Cruz (1986), graduação em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz (1993), graduação em Psicanálise pelo Centro de Estudos Especializados e Psicanalíticos (2018) e doutorado em Lingüística Aplicada pela Universidade de Alcalá, Departamento de Filologia (2005). Professora permanente do Programa de Pós-graduação em Letras: linguagens e Representações, da Universidade Estadual de Santa Cruz; e Professora Visitante da Universidade Federal de Roraima, bolsista CAPES. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de português, ensino, leitura, ensino/ aprendizagem e portugues como língua estrangeira. 

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Publicado
2021-03-29
Como Citar
Nascimento, G., & D’Ajuda Alomba Ribeiro, M. (2021). A Língua como pátria ou a língua como direito? A identidade de um estrangeiro professor de PLE. Revista Linguagem & Ensino, 24(2), 242-262. https://doi.org/10.15210/rle.v24i2.19353