A Escrita de /s/ e /z/ em português

Dados de crianças do segundo ano de escolaridade

Palavras-chave: Aquisição fonológica, Consoantes sibilantes, Complexidade ortográfica, Aquisição da escrita.

Resumo

Em português europeu, existem três sistemas de sibilantes: /s z s°° z°/, /s z/ e /s°° z°/. Neste artigo, analisa-se a escrita de crianças com desenvolvimento típico do segundo ano de Lisboa, Bragança, Canas de Senhorim e Mondim de Basto, que evidencia a existência de diferenças consideráveis no conhecimento fonológico das crianças observadas. Os resultados obtidos revelam uma taxa de sucesso decrescente na escrita das crianças: Mondim de Basto >> Bragança >> Canas de Senhorim >> Lisboa, como reflexo da menor opacidade da ortografia do português para as crianças do Norte. Canas de Senhorim, na zona de confluência dos dialetos setentrionais e centro-meridionais, apresenta valores intermédios face às restantes localidades na escrita dos segmentos sibilantes. Para além de ser necessário para ajustar o ensino em cada região, o estudo da escrita de diversas regiões dialetais traz contributos relevantes para o estudo (socio)linguístico do português.

Referências

AMORIM, C. Padrão de aquisição de contrastes do PE: A interação entre traços, segmentos e sílabas. 2014. 398 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade do Porto, Porto, 2014.

ALVES, I.; COSTA, P.; LOURENÇO-GOMES, M.; RODRIGUES, C. EFFE-On - Corpus online de escrita e fala. Revista Saber & Educar, v. 20, p. 24-33, 2015. https://doi.org/10.17346/se.vol20.182

ANDRADE, A.; SLIFKA, J. Estudo fonético de sibilantes produzidas por dois falantes de um dialeto português setentrional, In: OLIVEIRA, F.; BARBOSA, J. (Eds.). Actas do 21º Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, 2006a. p. 109-124.

ANDRADE, A.; SLIFKA, J. A phonetic study of sibilants produced by 2 speakers of a northern Portuguese dialect. Manuscrito não publicado, p. 1-27, 2006b.

ARCHANGELI, D. Aspects of Underspecification Theory. Phonology, v. 5, p. 183-208, 1988. https://doi.org/10.1017/S0952675700002268

CHACON, L. Para além de vínculos diretos entre características fonético-segmentais e ortográficas na escrita infantil. Revista de Estudos da Linguagem, v. 16, p. 215-230, 2008. https://doi.org/10.17851/2237-2083.16.1.215-230

CINTRA, L. F. L. Nova proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses. Boletim de Filologia, v. 22, p. 81-116, 1971.

CLEMENTS, G. N.; HUME, E. The internal organization of speech sounds. In: The Handbook of Phonological Theory. v. 7, 1995. p. 245-317.

COSTA, T. The acquisition of the consonantal system in European Portuguese: focus on place and manner features. 2010. 296 f. Tese (Doutorado em Linguística – Linguística Portuguesa) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 2010. p. 143 e p. 32 de anexos.

FREITAS, M. J. Aquisição da estrutura silábica do português europeu. 1997. Tese (Doutorado em Linguística Portuguesa) – Universidade de Lisboa, Lisboa, 1997. p. 396.

GOMES, J.; RODRIGUES, C. O grafema e o dígrafo : um estudo longitudinal do desempenho ortográfico de crianças de três dialetos portugueses. Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto, (no prelo).

GUIMARÃES, M. R. Um estudo sobre a aquisição da ortografia nas séries iniciais. 2005. 158 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, 2005.

LOURENÇO-GOMES, M. C.; RODRIGUES, C.; ALVES, I. EFFE-Escreves como falas - falas como escreves? Revue Romane, v. 51, n. 1, p. 36-69, 2016. https://doi.org/10.1075/rro.51.1.02gom

MARTINS, A. M.; SARAMAGO, J. As sibilantes em português: Um estudo de geografia linguística e de fonética experimental. In: LORENZO, R. (Org.). ATAS do XIX CONGRESO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOXÍA ROMÁNICAS - Universidade de Santiago de Compostela. v. 5: Gramática Histórica e História da Língua, A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza, Conde de Fenosa, 1993. p. 121-142.

MATEUS, M. H.; ANDRADE, E. The phonology of Portuguese. Oxford: Oxford University Press, 2000.

MATZENAUER, C; COSTA, T. Aquisição da fonologia em língua maternal: os segmentos. In: FREITAS, M.; SANTOS, A (Eds.). Aquisição de língua materna e não materna: Questões gerais e dados do português. (Textbooks in Language Sciences 3), Berlim, Language Science Press, 2017. p. 51-70.

MIRANDA, A. R. M. A grafia das estruturas complexas na escrita de crianças das séries iniciais. In: PINHO, S. (Org.). Formação de Educadores: o papel do educador e sua formação. São Paulo: UNESP, 2009. p. 409-426.

MIRANDA, A. R. M.; PACHALSKI, L. Dados de aquisição da linguagem e sistema pretônico das vogais do Português: fonologia e ensino. Veredas – Revista de Estudos Linguísticos, v. 24, n. 3, p. 368-390, 2020.

MONTEIRO, C. A aprendizagem da ortografia e o uso de estratégias metacognitivas. 2008. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas, 2008.

PASCHOAL, L.; PEZARINI, I. de O.; VAZ, S.; CHACON, L. Características da ortografia de consoantes fricativas na escrita infantil. Audiol Commun Res.; v. 19, n. 4, p. 333-337, 2014. https://doi.org/10.1590/S2317-64312014000400001448

PASCHOAL, L. Características fonético-fonológicas e ortográfica de fonemas fricativos na escrita infantil. 2017. 86 f. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2017.

PÉREZ, X. A. Á. Isoglossas portuguesas nos materiais do Atlas Lingüístico de la Península Ibérica: análise crítica da Nova Proposta de Lindley Cintra. Zeitschrift für romanische Philologie, Berlim, v. 131, n. 1, p. 185-223, 2015. https://doi.org/10.1515/zrp-2015-0008

RAMALHO, M. Aquisição fonológica na criança: tradução e adaptação de um instrumento de avaliação interlinguístico para o PE. 2017. 387 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade de Évora, Évora, 2017.

RAMALHO, A. M., FREITAS, M. J. Ainda o ponto de articulação das sibilantes na alteração fonológica primária: dados de crianças portuguesas. Fórum Linguístico, v. 16, n. 2, p. 3790-3808, 2019. https://doi.org/10.5007/1984-8412.2019v16n2p3790

RODRIGUES C.; LOURENÇO-GOMES, M. C.; ALVES, I.; JANSSEN, M.; LOURENÇO, I. G. EFFE-On - Escreves como falas - Falas como escreves? (Online corpus of writing and speech of children in the early years of schooling), Lisboa: CLUL. 2015. ISLRN: 716-103-425-482-9. Disponível em: http://teitok.clul.ul.pt/effe. Acesso em: 03 abr. 2021.

SCHIER, A.; BERTI, L.; CHACON, L. Desempenho perceptual-auditivo e ortográfico de consoantes fricativas na aquisição da escrita. Codas, v. 25, n. 1, p. 45-51, 2013. https://doi.org/10.1590/S2317-17822013000100009

SEBASTIÃO, I. A competência da escrita e o erro ortográfico. Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia, p. 2585-2597, 2009.

SEGURA, L. Variedades dialetais do português europeu. In: RAPOSO, E.; NASCIMENTO, M. F. B. do; MOTA, M. A.; SEGURA, L.; MENDES, A. (Orgs.). Gramática do português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, v. I, 2013. p. 85-142.

TREIMAN, R. Why spelling? The benefits of incorporating spelling into beginning reading instruction. In: METSALA, J. L.; Ehri L. C. (Eds.). Word recognition in beginning literacy. Lawrence Erlbaum Associates Publishers, 1988. p. 289-313.

VELOSO, J. A língua na escrita e a escrita da língua. Algumas considerações gerais sobre transparência e opacidade fonémicas na escrita do português e outras questões. Da Investigação às Práticas. Estudos de Natureza Educacional, v. 6, n. 1, p. 49-69, 2005.

VELOSO, J. Primeiras produções escritas e operações metafonológicas explícitas como pistas para a caracterização inferencial do conhecimento fonológico. Cadernos de Educação, v. 35, p. 19-50, 2010.

VELOSO, J. Da Influência do conhecimento ortográfico sobre o conhecimento fonológico. Estudo Longitudinal de um Grupo de Crianças Falantes Nativas do Português Europeu. 2003. 521 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Porto, 2003. p. 505.

Publicado
2022-03-29
Como Citar
Gomes, J., & Rodrigues, C. (2022). A Escrita de /s/ e /z/ em português: Dados de crianças do segundo ano de escolaridade. Revista Linguagem & Ensino, 24(4), 799-824. https://doi.org/10.15210/rle.v24i4.21282