v. 26 n. 2 (2021): HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO EM SUAS DIVERSAS ABORDAGENS
As pesquisas voltadas para os mais diversos âmbitos relacionados à História das mulheres e aos Estudos de Gênero têm se ampliado desde meados do século passado, e, no tempo presente, consolidam esses campos de estudos como importantes áreas de produções acadêmicas. Trabalhos realizados, tanto nas esferas da graduação quanto da pós-graduação, refletem a dinâmica das investigações realizadas e, significativamente, têm contribuído para o fortalecimento dessas temáticas sensíveis. Tendo em vista suas diversas abordagens, permeadas por diferentes fontes, bibliografias, discussões teóricas e metodológicas, essas pesquisas são capazes de conduzir estudiosas e estudiosos desses assuntos a uma gama de novos conhecimentos históricos e epistemológicos.As autoras e os autores que colaboram com seus artigos para a composição do dossiê, abordam discussões a respeito de sexualidades, construções culturais, preconceitos, desigualdades de gênero, violências, entre outros elementos, de forma que, com seus diferentes diálogos, problematizam os temas, oferecendo reflexões atualizadas e enriquecedoras.O dossiê é aberto pela seção “Discussões sobre História das Mulheres e Gênero” e o primeiro artigo é o das autoras Beatriz Berr Elias e Mônica Karawejczyk, o qual é intitulado como “Sempre à mulher, pela mulher: a coluna Feminismo no jornal O Paiz (RJ) - 1927-1930” e nele é realizada uma análise das pautas feministas tratadas na coluna do periódico, assinada por representantes da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), associação fundada em 1922, no Rio de Janeiro.Após, segue o artigo denominado “O julgamento da família Vandeput: uma análise da abordagem da mídia impressa brasileira sobre o infanticídio de Corinne” (1962), nele, as autoras Bruna Alves Lopes e Francieli Lunelli Santos, discutem a história do medicamento Talidomida e analisam o modo como a mídia impressa brasileira noticiou o julgamento de uma família pelo assassinato da filha, nascida com deficiências, e apresentam o caso como sendo representativo da medicalização do corpo feminino, das representações acerca da maternidade e das pessoas com deficiência ao longo da década de 1960.Os autores Bruno Cézar Pereira e Alexandra Lourenço analisam as experiências de migrantes nordestinas para a cidade de Orlândia, no estado de São Paulo, por meio do artigo “Mulheres e a migração: trajetórias e motivações de migrantes nordestinas na cidade das avenidas”. A análise se centra em três entrevistas e problematiza o protagonismo feminino nos processos de deslocamentos.A autora Elisiane Medeiros Chaves, no artigo intitulado “Percepções sobre a violência doméstica a partir da ótica de agressores de mulheres”, analisa a violência contra as mulheres por meio da metodologia da História oral temática. Foram realizadas entrevistas com agressores a fim de conhecer as suas versões sobre as situações nas quais eles tinham se envolvido e que motivaram seus julgamentos no Juizado da Violência Doméstica da Comarca de Pelotas, visando compreender as razões pelas quais esses tipos de violência continuam acontecendo na atualidade.Segue o artigo de Etiane Carvalho Nunes, cujo título é “Compreendamos, partilhemos dos sofrimentos da mulher escrava: duas irmãs e o abolicionismo em Pelotas e Rio Grande (1880-1888)”. A autora faz uma discussão sobre a participação de mulheres na campanha abolicionista em Pelotas e Rio Grande, durante os anos 1880 e 1888, focando especialmente na atuação de duas irmãs, Julieta e Revocata de Mello, que deixaram suas ideias sobre abolição registradas na imprensa, demonstrando a colaboração feminina no movimento.Gabbiana Clamer Fonseca Falavigna dos Reis escreveu o artigo denominado “Corpo(s) e sexualidade(s) no cinema pornográfico no contexto da ditadura civil militar: percepções a partir das pornochanchadas (1969-1986)” que reflete sobre a dimensão da censura moral, dos discursos e práticas de controle que atravessavam corpo e sexo durante a ditadura civil militar brasileira, utilizando como objeto e fonte os filmes de pornochanchada.Já Mateus Dagios, no seu artigo que tem como título “O riso da infâmia: estupro no drama satírico Ciclope de Eurípides”, analisa uma menção à violência sexual no drama satírico Ciclope de Eurípides, investigando como o corifeu transforma uma referência a um estupro de Helena em uma cena cômica.No artigo “Ela diz que os homens é quem são escravizados: Esther Vilar e as origens do antifeminismo como “guerra cultural”, Silviana Fernandes Mariz aborda o crescente antifeminismo passando pelo seu surgimento nos anos 1970 e refletindo sobre a produção bibliográfica da autora argentina Esther Pilar, através de suas obras e entrevistas, bem como apontando desdobramentos de seu pensamento na atualidade.O artigo que encerra a seção é de autoria de Thiago Romão de Alencar e se intitula “Gênero, trabalho, guerra e paz no Reino Unido: o impacto da Segunda Guerra Mundial e do imediato pós-guerra na vida das trabalhadoras britânicas (1939-1951)”. O autor, por meio de uma revisão bibliográfica, analisa a vida das mulheres trabalhadoras britânicas no contexto da Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra, refletindo sobre a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho a partir da lógica da hierarquia de gênero como estruturante do modo de produção capitalista.Por fim, a seção de tema livre é composta por dois artigos. No primeiro, intitulado “O palhaço de reis fluminense e sua máscara: performance, ritual e religiosidade” a autora, Carolina da Silva Rodrigues, faz uma análise sobre a manifestação cultural religiosa, denominada Folia de Reis, a fim de compreender o universo em que estão inseridas a figura do palhaço e a sua máscara.A seção é encerrada pelo artigo denominado “Santuário do Caraça: memórias e esquecimentos luso-brasileiros na História de Minas Gerais”, produzido por Rudiney Avelino de Castro Silva e Júlia Calvo, nele os autores analisam o processo histórico de constituição e transformação do lugar em eremitério, colégio, centro de peregrinação, espaço de cultura e destino turístico, assim como a importância que o reconhecimento pelo IPHAN tem exercido diante da preservação da memória material e imaterial do Santuário.Uma vez apresentados os artigos que fazem parte deste dossiê, desejamos a todas e a todos uma leitura enriquecedora! Daniele Gallindo | Elisiane Chaves | Silvana Moreira | Taiane MendesOrganizadoras
Publicado:
2021-08-13