Edições anteriores

  • Quilombos: territorialidades, festejos e gênero
    v. 29 n. 1 (2024)
    Os territórios quilombolas apontam para um campo de ampla circulação e conhecimentos prévios de redes e de alianças que colaboravam para a manutenção da liberdade.Territorialidade que resiste à contemporaneidade, ressignificando relações de parentesco, de vizinhança amalgamadas pela identidade étnica. Territórios que carregam consigo lembranças ancestrais, trilhas, colheitas das lavouras, histórias de embate com proprietários locais e com o Estado, histórias de cura, de partejamento e religiosidade, lembranças de festejos e de afetos que construíram a história do território negro.Principais objetivos do dossiê: identificar a diversidade de ser e viver quilombola; debater as estratégias de territorialidades; analisar os principais festejos assentados nos quilombos; identificar projetos coletivos de liberdade e de acesso à terra; promover o debate sobre as mulheres quilombolas a partir de seus saberes e fazeres; discutir sobre letramento e educação quilombola. Temas de artigos que podem ser enquadrados: políticas públicas, luta pela terra, territorialidades, educação quilombola, resistência pela liberdade, memória, identidades, relações de parentesco, produção de saberes/fazeres, religiosidades, festejos, sabedoria e a luta das mulheres quilombolas e etc.Editoras: Dra. Claudia Daiane Garcia Molet e Dra. Natália Garcia Pinto.
  • A História Através das Mídias
    v. 28 n. 1 (2022)
    A presente edição da História em revista tem como objetivo principal refletir e analisar questões relacionados ao mundo das mídias - filmes, HQs, séries, games, entre outros. Nesse sentido, mesmo que o leitor não concorde completamente com as análises apresentadas pelos colaboradores, uma coisa é certa, as fontes selecionadas são deveras interessantes.      Os historiadores e demais intelectuais que se debruçam na tarefa de analisar as narrativas que compõem o mundo das mídias e sua relação com o seus respectivos contextos possuem uma tarefa laboriosa. Afinal de contas, a quantidade de narrativas que se proliferam é imensa. Já notaram no número de filmes de super-heróis que entraram em cartaz nos cinemas do mundo inteiro na última década? Nesse sentido, as reflexões selecionadas para o presente dossiê se fazem necessárias. Ademais, Douglas Kellner, importante teórico americano, em seus estudos a respeito da cultura da mídia, nos revela que os meios midiáticos compõem um importante campo de disputa de poder em que podemos observar grupo sociais e ideologias políticas lutando pela hegemonia do discurso.      Ao todo, selecionamos 8 artigos. Eles abrangem um leque variado de temas: de Thor, o Deus do trovão da Marvel, à repressão policial durante o Governo Vargas. Essa diversidade de temas é característica do universo das análises midiáticas.      O artigo intitulado “Trauma e testemunho em Grama, de Keum Suk Gendry-Kim: quadrinhos sobre as mulheres de conforto”, de Daniel Soares Duarte e Leticia Chrisostomo Bortt Moreira analisa a história em quadrinhos sul-coreana Grama, de Keum Suk Gendry-kim, publicada no Brasil em 2020.  A narrativa expõe o relato de uma “mulher de conforto”, expressão utilizada para designar as jovens coreanas, chinesas e japonesas que foram capturadas pelo exército japonês para servir como escravas sexuais aos soldados desse império, da Segunda Guerra sino-japonesa até os anos da 2ª Grande Guerra. Em “Thor, quadrinhos e o ensino da beleza e a justiça de Platão”, Renis Ramos Silva e Gelson Weschenfelder buscam aproximar o universo ficcional do deus do trovão com abordagens de ensino e aprendizagem. Para isso, realizaram reflexões sobre o belo e a justiça tendo como base o pensamento de Platão.      No artigo “SHAZAM: O Paradoxo da Juventude”, Diego das Neves Ribeiro e Elbert de Oliveira Agostinho propõem uma reflexão sobre as possíveis projeções desenvolvidas pelas histórias de SHAZAM e suas experiências enquanto um jovem no corpo de um super-herói adulto possuí anseios e frustrações da juventude. Carine Medineira Buss Flores, Erica Kirchhof Dias e Fernando Souto Dias Neto escreveram o texto “Quando os subalternizados tomam as cenas: o cinema como ferramenta pedagógica”, em que abordam o cinema como produto cultural voltado à educação. Um dos seus objetivos principais é promover a desubalternização da cultura de matriz africana.      A autora Tamires Ferreira Soares, no artigo “Os Astros da 5° Coluna”: Repressão Policial no Rio Grande do Sul durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945)”, analisa através da Revista Vida Policial casos de professores que foram vigiados, perseguidos e cassados por subverterem as leis de nacionalização implantadas por Getúlio Vargas durante o Estado Novo.  Já Rodrigo Aparecido de Araújo Pedroso e Rodrigo Cardoso Polatto, no seu artigo que tem como título “O horror “socialmente relevante” da EC Comics: uma análise da história em quadrinhos “The Patriots” de 1952”, analisa a HQs “The Patriots”, publicada em 1952. Em sua análise o foco está na crítica social explícita à política da Guerra Fria. Abordando temas como anticomunismo e macarthismo. No artigo “Guerra e sexo em Lost Girls, de Alan Moore e Melinda Gebbie”, Márcio dos Santos Rodrigues e Suellen Cordovil da Silva discutem uma interessante relação entre erotismo, pornografia e a memória histórica da Primeira Guerra Mundial a partir de Lost Girls, de Alan Moore e Melinda Gebbie. O foco principal do artigo é analisar como a obra estabelece uma crítica às guerras, ao colocar em evidência elementos e representações do período. Por fim, temos o artigo de Felipe Radünz Krüger, Mario Marcello Neto e Artur Rodrigo Itaqui Lopes Filho, intitulado “Destruição criativa na capital inglesa: O caso V for Vendetta”. Este artigo visa analisar a relação entre destruiução e resistência através da interpretação e análise da graphic novel V for Vendetta dos britânicos Alan Moore e David Lloyd. Uma vez apresentados os artigos que fazem parte deste dossiê, desejamos a todas e a todos uma boa leitura!   Artur Rodrigo Itaqui Lopes Filho | Felipe Radünz Krüger | Mario Marcello Neto Editores do Dossiê Dezembro de 2022.  
  • Trabalhadores e Trabalhadoras no Passado e no Presente
    v. 27 n. 2 (2022)
    Desde que o Núcleo de Documentação Histórica (NDH/UFPel) Beatriz Loner iniciou suas atividades tem como perspectiva estudar o mundo laboral, tanto é assim que serviu como espaço para a UNITRABALHO, nos anos de 1990, justamente quando iniciou seu funcionamento.A partir dessa abordagem foram vários os estudos sobre trabalhadores e trabalhadoras feitos dentro do NDH, muitos deles vinculados às questões raciais, de classe e de gênero ou ainda tendo em vista pesquisas sobre profissões em específico, como motorneiros, estivadores, tecelãs, sapateiros, alfaiates, pescadores artesanais, resultando em publicações de artigos, capítulos e livros autorais, os quais são publicizados em nosso site.A intensificação das análises neste centro de documentação se relacionou ao recebimento de dois conjuntos documentais amplos: o da Delegacia Regional do Trabalho, que abriga cerca de 630 mil fichas de qualificação profissional de várias cidades do RS, as quais eram preenchidas no momento que havia a solicitação da carteira profissional, instituída no Brasil, no ano de 1932, durante o governo Varguista; e o  segundo volume foi o de documentos relacionados à Justiça do Trabalho, o qual é composto por mais de 93 mil processos trabalhistas da cidade de Pelotas e região. Todo esse acervo foi recebido em regime de comodato no ano de 2005 e abrange os anos de 1936 e 1998 permitindo estudos sobre temáticas diversas como gênero, saúde e doença, organizações sindicais, greves, dentre outros.Desde 1994, ano de criação do periódico vinculado ao NDH, História em Revista, já se teve alguns volumes que se preocuparam com a temática, seja através da publicação de artigos, instrumentos de trabalho ou ainda entrevistas realizadas com a metodologia da História Oral, através do diálogo com trabalhadores e trabalhadoras de diferentes ramos.Este volume, em especial, tem a perspectiva de trazer novos estudos sobre o tema e, por isso, se intitulou: “Trabalhadores e Trabalhadoras no passado e no presente”. Traz, em seu interior, seis artigos para o dossiê, os quais enfatizam diferentes análises sobre o mundo laboral. Três deles se relacionam a uma perspectiva de estudos vinculados à pós-abolição: o artigo Combate à carestia nas páginas da Imprensa Negra, de Liana Severo Ribeiro, analisa notícias do jornal O Exemplo, entre os anos de 1917 e 1919, enfocando como era difícil para a população trabalhadora mais pobre ter acesso aos direitos básicos; Trabalhadores e repressão no Pós-Abolição em Alegrete/RS, de Guilherme Vargas Pedroso, tem como fontes documentações hospitalares e da cadeia municipal e busca perceber as políticas de repressão aos trabalhadores na tentativa de se estabelecer um “pretenso” ordenamento social e Trabalhadores negros criam união familiar: revivendo o mais antigo clube social negro de Santa Maria/RS, de Franciele Rocha de Oliveira, aborda, a partir de uma ampla documentação, a trajetória de uma associação negra relacionada às dinâmicas familiares e trajetórias profissionais.Os outros três textos possuem temáticas mais diversas. Este é o caso de “Maçaroca” Desigual: a luta de tecelãs da Companhia Fiação e Tecidos Pelotense pela remuneração estabelecida por lei na década de 1940, de Taiane Mendes Taborda, que trabalha com processos trabalhistas para discutir se a lei do salário-mínimo trouxe vantagens às operárias. Ainda há um texto sobre o Trabalho nas fazendas de cacau: na costa do Ouro (Gana) e no sul da Bahia (1920-1945), de Luciane Aparecida Goulart e Flávio Gonçalves dos Santos, que busca, através da história comparada, verificar as condições laborais destes trabalhadores, em diferentes contextos. E, por fim, há o artigo “Minha Gente, vamos todos reclamar”: as demandas da classe trabalhadora de Florianópolis em A Verdade (1952-1960), de Jéssica Duarte, o qual aborda as reivindicações de operários urbanos, tendo em vista reclamações postadas em um jornal da cidade.Três outros textos compõem este volume: As memórias e sociabilidades dos imigrantes brasileiros em suas chegadas e primeiros tempos em terras paraguaias, de Vanucia Gnoatto, observa, por meio da história oral,  o estabelecimento dos imigrantes brasileiros, nos departamentos paraguaios de Alto Paraná e Itapúa, bem como, investiga a criação de redes associativas e a construção de laços de sociabilidade; Saúde e Gênero: o enfrentamento citadino às epidemias na era moderna lusitana e a representação do corpo da mulher, de Audrei Rodrigo de Conceição Pizolati, tem como objetivo observar as epidemias na Portugal dos séculos XVI e XVII, com ênfase na atuação da Santa Casas de Misericórdia e no corpo feminino, a partir de uma perspectiva foucaultiana e Sistema de padroado na Comarca do Serro do Frio: a atuação do Padre Simão Pacheco na paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Vila do Príncipe, Minas Gerais, 1723-1776, de Danilo Arnaldo Briskievicz, analisa, por meio de investigação bibliográfica e documental, o sistema do padroado real na igreja de Nossa Senhora da Conceição da Vila do Príncipe da Comarca do Serro do Frio, entre os anos de 1723 e 1776.Esperamos que a leitura do dossiê traga novos olhares sobre um campo que, embora tenha muitas produções, precisa ser constantemente pensado, especialmente em um momento em que trabalhadores e trabalhadoras têm seus direitos constantemente atacados, seja por mudanças na legislação, seja pela informalidade de muitas relações de trabalho.   Que o olhar da História, sempre muito preciso, nos traga possibilidades de, com estudos sobre o passado, continuar resistindo, na perspectiva de se construir um futuro mais justo, no qual as pessoas possam trabalhar e viver com dignidade. Inverno de 2022. Lorena Almeida GillTamires Xavier SoaresMicaele Irene Scheer
  • HISTÓRIA, ARTE E PATRIMÔNIO CULTURAL: INTERLOCUÇÕES NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
    v. 27 n. 1 (2021)
    Arte, Patrimônio Cultural e História. Diálogos interdisciplinares que são a base do presente dossiê da História em Revista. Diferentes campos da História têm trabalhado em consonância com as mais diversas expressões artísticas, assim como com diferentes abordagens do patrimônio cultural. Nesse sentido, foi de interesse da publicação, pesquisas que se estruturam a partir do patrimônio cultural e das artes, sejam aquelas que compreendem as manifestações dessas áreas enquanto fontes históricas, sejam aquelas que problematizam os processos de criação ou de reconhecimento patrimonial.O patrimônio cultural, para além de fonte de pesquisa histórica em suas acepções tangíveis e intangíveis, é também um aparelho político e ideológico que engendra relações de poder, conflitos e interesses de grupos sociais e dos Estados. Portanto a análise dos processos de patrimonialização, da criação e aplicação das políticas públicas para o patrimônio e dos embates em torno dos contextos de governança nacional e internacional da cultura também são elementos que interessam à História.O mesmo ocorre com o campo das Artes. Problematizar um objeto artístico, seja ele uma pintura, uma escultura ou uma estrutura arquitetônica por exemplo, vai muito além de sua análise formal. Pensar suas potencialidades e especificidades como fonte de pesquisa a partir das inquietações que causam, dos problemas que levantam e dos elementos que silenciam é, também, colocá-los em evidência. É observar, fundamentalmente, sua relevância na construção de novos conhecimentos e na forma de apreensão da história através das inquietações que causam.Afora as linhas temáticas propriamente ditas, contemplou-se no dossiê, também, a discussão no entorno das diferentes metodologias de pesquisa no campo do patrimônio e das artes, bem como as possibilidades junto a acervos e fontes diversos. A pluralidade de trabalhos que buscamos conjugar e fazer dialogar na presente publicação, contribuirá de forma relevante para a construção de novas percepções acerca de diferentes objetos de pesquisa.Na publicação que ora apresentamos, destacamos três eixos temático que contemplam a temática. Em Acervos e espaços de arte memória, Jacqueline Custódio, no artigo A poética da carne dilacerada em Trouxas Ensanguentadas, traz a reflexão acerca da expografia das obras de arte e sua relação com as novas questões apresentadas pela Arte Moderna e Contemporânea. A autora problematiza tais elementos partindo da obra Trouxas Ensaguentadas de Artur Barrio. Na sequência Ana Celina Figueira da Silva, em A Pinacoteca do Museu Júlio de Castilhos, apresenta a criação do espaço no museu bem como o processo de aquisição de obras. Por meio de doações e encomendas à artistas regionais e nacionais, a análise centrou-se, também, nos discursos e narrativas selecionados para circular no espaço expositivo e de memória.A segunda parte do dossiê, Arte, imagem e patrimônio, traz dois textos que tensionam a questão da imagem e sua relação com o patrimônio. Em Relatos de uma não-viagem: o gaúcho na obra de Jean-Baptiste Debret, Luciana da Costa de Oliveira analisa a produção das aquarelas de temática gauchesca que foram elaboradas por Debret discutido, ainda, a maneira com a qual o artista, que possivelmente não conheceu a região in loco, elaborou suas imagens a partir de relatos de outros viajantes. O artigo Entre a arte e a técnica: a fotografia como suporte memorial em São Miguel das Missões/RS, assinado por Ivo dos Santos Canabarro, Juliani Borchardt da Silva e Noli Bernardo Hahn, traz importante abordagem acerca das funções e usos da fotografia no contexto da arqueologia. Problematizando, inicialmente, questões específicas da imagem, os autores analisam a forma com a qual tal suporte alia-se ao trabalho arqueológico e patrimonial.A terceira e última parte do dossiê, dedicada aos Espaços de memória e lugares do patrimônio, apresenta estudos que, mesmo com temáticas diferenciadas, dialogam ao problematizar os espaços do patrimônio e da memória. Ianko Bett e Natália Paola Laux, em O prédio do Arsenal de Guerra de Porto Alegre e a Guerra da Tríplice Aliança e o Paraguai: (novas) narrativas históricas e a ressignificação do patrimônio edificado, identifica aspectos da historicidade do prédio em questão, hoje Museu Militar do Comando Militar do Sul, observando suas diversas funcionalidades ao longo do tempo, especialmente durante a guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai. É interesse dos autores, também, observar o processo de patrimonialização dos bens culturais militares.O trabalho de Larissa Patron Chaves e Mônica Lucas Leal de Macedo, intitulado O Parque Souza Soares: espaço de representação e simbologia no enlace entre mundos, apresenta uma reflexão acerca dos torna-viagem, portugueses que migraram ao Brasil e, por seu rápido enriquecimento, retornam à Portugal laureados com e como símbolos de riqueza. Para o estudo, as autoras se utilizam do Parque Souza Soares como representação desse processo que, dentre outras coisas, é centrado na questão identitária do sujeito. Por fim, encerrando o dossiê, apresentamos o trabalho de Marcos Paulo Moraes Oliveira, Funk: um ritmo musical controverso e multicultural para nosso patrimônio. Neste, o autor traz ao debate o gênero musical do funk e o relaciona à identidade e resistência de grupos sociais menos favorecidos. Por meio de revisão bibliográfica, o autor busca ratificar o funk como patrimônio cultural brasileiro.Antes de encerrar esta breve apresentação, gostaríamos de dedicar este dossiê à memória da Professora Drª. Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos, que nos deixou este ano em decorrência de complicações da Covid-19. Elô Capovilla dedicou a vida ao ensino e a pesquisa nos campos da História e o patrimônio cultural, foi nossa mestra, nossa fonte de inspiração.  A edição infelizmente não pode contar com um texto dela, conforme convite que havíamos feito, mas ela segue presente aqui e seguirá em todos os nossos trabalhos. A ela a nossa reverência e a nossa gratidão.Desejamos a todas e todas uma excelente leitura. Novembro de 2021 Dr. Darlan De Mamann Marchi.Coordenação do GT História Cultural/ ANPUH-RS Dra. Luciana da Costa de OliveiraCoordenação do GT Acervos: História, Memória e Patrimônio / ANPUH-RS
  • HISTÓRIA DAS MULHERES E GÊNERO EM SUAS DIVERSAS ABORDAGENS
    v. 26 n. 2 (2021)
    As pesquisas voltadas para os mais diversos âmbitos relacionados à História das mulheres e aos Estudos de Gênero têm se ampliado desde meados do século passado, e, no tempo presente, consolidam esses campos de estudos como importantes áreas de produções acadêmicas. Trabalhos realizados, tanto nas esferas da graduação quanto da pós-graduação, refletem a dinâmica das investigações realizadas e, significativamente, têm contribuído para o fortalecimento dessas temáticas sensíveis. Tendo em vista suas diversas abordagens, permeadas por diferentes fontes, bibliografias, discussões teóricas e metodológicas, essas pesquisas são capazes de conduzir estudiosas e estudiosos desses assuntos a uma gama de novos conhecimentos históricos e epistemológicos.As autoras e os autores que colaboram com seus artigos para a composição do dossiê, abordam discussões a respeito de sexualidades, construções culturais, preconceitos, desigualdades de gênero, violências, entre outros elementos, de forma que, com seus diferentes diálogos, problematizam os temas, oferecendo reflexões atualizadas e enriquecedoras.O dossiê é aberto pela seção “Discussões sobre História das Mulheres e Gênero” e o primeiro artigo é o das autoras Beatriz Berr Elias e Mônica Karawejczyk, o qual é intitulado como “Sempre à mulher, pela mulher: a coluna Feminismo no jornal O Paiz (RJ) - 1927-1930” e nele é realizada uma análise das pautas feministas tratadas na coluna do periódico, assinada por representantes da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), associação fundada em 1922, no Rio de Janeiro.Após, segue o artigo denominado “O julgamento da família Vandeput: uma análise da abordagem da mídia impressa brasileira sobre o infanticídio de Corinne” (1962), nele, as autoras Bruna Alves Lopes e Francieli Lunelli Santos, discutem a história do medicamento Talidomida e analisam o modo como a mídia impressa brasileira noticiou o julgamento de uma família pelo assassinato da filha, nascida com deficiências, e apresentam o caso como sendo representativo da medicalização do corpo feminino, das representações acerca da maternidade e das pessoas com deficiência ao longo da década de 1960.Os autores Bruno Cézar Pereira e Alexandra Lourenço analisam as experiências de migrantes nordestinas para a cidade de Orlândia, no estado de São Paulo, por meio do artigo “Mulheres e a migração: trajetórias e motivações de migrantes nordestinas na cidade das avenidas”. A análise se centra em três entrevistas e problematiza o protagonismo feminino nos processos de deslocamentos.A autora Elisiane Medeiros Chaves, no artigo intitulado “Percepções sobre a violência doméstica a partir da ótica de agressores de mulheres”, analisa a violência contra as mulheres por meio da metodologia da História oral temática. Foram realizadas entrevistas com agressores a fim de conhecer as suas versões sobre as situações nas quais eles tinham se envolvido e que motivaram seus julgamentos no Juizado da Violência Doméstica da Comarca de Pelotas, visando compreender as razões pelas quais esses tipos de violência continuam acontecendo na atualidade.Segue o artigo de Etiane Carvalho Nunes, cujo título é “Compreendamos, partilhemos dos sofrimentos da mulher escrava: duas irmãs e o abolicionismo em Pelotas e Rio Grande (1880-1888)”. A autora faz uma discussão sobre a participação de mulheres na campanha abolicionista em Pelotas e Rio Grande, durante os anos 1880 e 1888, focando especialmente na atuação de duas irmãs, Julieta e Revocata de Mello, que deixaram suas ideias sobre abolição registradas na imprensa, demonstrando a colaboração feminina no movimento.Gabbiana Clamer Fonseca Falavigna dos Reis escreveu o artigo denominado “Corpo(s) e sexualidade(s) no cinema pornográfico no contexto da ditadura civil militar: percepções a partir das pornochanchadas (1969-1986)” que reflete sobre a dimensão da censura moral, dos discursos e práticas de controle que atravessavam corpo e sexo durante a ditadura civil militar brasileira, utilizando como objeto e fonte os filmes de pornochanchada.Já Mateus Dagios, no seu artigo que tem como título “O riso da infâmia: estupro no drama satírico Ciclope de Eurípides”, analisa uma menção à violência sexual no drama satírico Ciclope de Eurípides, investigando como o corifeu transforma uma referência a um estupro de Helena em uma cena cômica.No artigo “Ela diz que os homens é quem são escravizados: Esther Vilar e as origens do antifeminismo como “guerra cultural”, Silviana Fernandes Mariz aborda o crescente antifeminismo passando pelo seu surgimento nos anos 1970 e refletindo sobre a produção bibliográfica da autora argentina Esther Pilar, através de suas obras e entrevistas, bem como apontando desdobramentos de seu pensamento na atualidade.O artigo que encerra a seção é de autoria de Thiago Romão de Alencar e se intitula “Gênero, trabalho, guerra e paz no Reino Unido: o impacto da Segunda Guerra Mundial e do imediato pós-guerra na vida das trabalhadoras britânicas (1939-1951)”. O autor, por meio de uma revisão bibliográfica, analisa a vida das mulheres trabalhadoras britânicas no contexto da Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra, refletindo sobre a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho a partir da lógica da hierarquia de gênero como estruturante do modo de produção capitalista.Por fim, a seção de tema livre é composta por dois artigos. No primeiro, intitulado “O palhaço de reis fluminense e sua máscara: performance, ritual e religiosidade” a autora, Carolina da Silva Rodrigues, faz uma análise sobre a manifestação cultural religiosa, denominada Folia de Reis, a fim de compreender o universo em que estão inseridas a figura do palhaço e a sua máscara.A seção é encerrada pelo artigo denominado “Santuário do Caraça: memórias e esquecimentos luso-brasileiros na História de Minas Gerais”, produzido por Rudiney Avelino de Castro Silva e Júlia Calvo, nele os autores analisam o processo histórico de constituição e transformação do lugar em eremitério, colégio, centro de peregrinação, espaço de cultura e destino turístico, assim como a importância que o reconhecimento pelo IPHAN tem exercido diante da preservação da memória material e imaterial do Santuário.Uma vez apresentados os artigos que fazem parte deste dossiê, desejamos a todas e a todos uma leitura enriquecedora!                                        Daniele Gallindo | Elisiane Chaves | Silvana Moreira | Taiane MendesOrganizadoras
  • Dossiê: História da Saúde, das Doenças e da Assistência
    v. 26 n. 1 (2020)
    Constituída como área de pesquisa histórica, a saúde consolidou-se através de pesquisas que auxiliam a discussão acerca do contexto histórico e social.Com o surgimento da Covid-19, o mundo precisou, novamente, aprender a conviver com uma doença global. A pandemia modificou hábitos que alteraram a economia e todas as demais dinâmicas sociais. Os serviços de saúde e seus profissionais passaram a ganhar destaque no combate ao vírus, como na prevenção e na busca da cura.Pensando nessa perspectiva, ao voltarmos nosso olhar para as discussões que envolvem a história da saúde, das doenças e da assistência, podemos vislumbrar de forma apurada, as relações do passado frente às dificuldades sanitárias impostas ao longo do tempo.Assim, este dossiê se propõe a discutir estes olhares sobre os diversos períodos de tempo e de espaço, bem como as conexões e interfaces com outros campos, buscando a interdisciplinaridade, sempre mediada pelo aprofundamento teórico e metodológico no diálogo com os acervos e a bibliografia pertinente.Assim, pesquisas históricas vêm ampliando esse debate, ao promoverem o diálogo entre a saúde, as doenças e a assistência, a partir da compreensão dos seus objetos, problemas e metodologias, amparadas nas fontes.A organização desse dossiê se apresenta em seções temáticas, reunindo autores com abordagens de diversos recortes.Na primeira seção – “Saúde tem história” – comparecem autores nacionais e estrangeiros, trazendo contribuições significativas como atestam seus textos.Entre diferenças e similaridades: um estudo comparativo a respeito dos olhares sobre a “saúde” e a “doença” em “manuais de medicina popular”, homeopáticos e alopáticos, de finais do oitocentos, escrito por André Portela do Amaral é resultado de uma investigação sobre o conteúdo de três “manuais de medicina popular”, publicados no final do século XIX e amplamente divulgado no período.Escrito por Astrid Dahhur, Circulación, prácticas y medicina popular: una reflexión sobre el curanderismo en el siglo XIX argentino, o texto busca refletir sobre a importância da circulação da informação através da oralidade, nas sociedades rurais dos séculos XIX e XX na Argentina, especialmente na província de Buenos Aires, com foco em como as pessoas reuniam informações úteis para garantir o acesso à saúde para elas e suas famílias.Paulo Staudt Moreira e Nikelen Acosta Witter, no texto: O exercício de curar supõe o hábito e costume de o fazer: boticas e boticários no oitocentos no Brasil meridional buscam, com base em processos-crime, inventários post-mortem, artigos de jornais, documentos da cúria e do governo do Rio Grande do Sul, em comparação com a rica historiografia brasileira sobre o tema, apresentar um quadro da dinâmica dessas boticas e dos seus boticários e sua inserção na capital da província mais meridional do império brasileiro.O artigo intitulado Sobre as virtudes medicinais dos insetos na obra Paraguay Natural Ilustrado de José Sánchez Labrador S. J. (1776-1776), escrito pela historiadora Eliane Cristina Deckmann Fleck, apresenta a análise de um dos livros que compõem a quarta parte da obra Paraguay Natural Ilustrado, escrita pelo padre José Sánchez Labrador, a partir de suas observações da fauna e da flora das regiões que compreendiam a Província Jesuítica do Paraguai. Na obra, o autor descreve as virtudes terapêuticas e os modos de preparo de vinte e um insetos, como escorpiões, aranhas, cantáridas, grilos e piolhos.As autoras Laura Schäfer e Maria Helena Itaqui Lopes trazem o artigo denominado Do transplante de órgãos à engenharia de tecidos: a história que tem revolucionado a medicina e salvado vidas que tem como objetivo apresentar a história das descobertas relativas ao transplante de órgãos, a pesquisa desenvolvida até a atualidade e o impacto da pandemia pela Covid-19 nesses procedimentos.Em seguimento, são trazidas histórias de doenças, que ampliam os estudos neste recorte temático, reforçando o campo de pesquisa que vem granjeando vivo interesse nos últimos tempos.O artigo As doenças e o atendimento aos enfermos nos primórdios da ocupação do Continente de São Pedro (século XVIII), escrito por Rogério Machado de Carvalho se popoem a mostrar, a partir da análise e cotejamento dos documentos transcritos nos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul com a bibliografia de referência sobre o tema, as causas que motivavam as doenças que acometiam os soldados e os primeiros colonos instalados na Vila de Rio Grande, no século XVIII. Apresentando ainda, através da trajetória de Sebastião Gomes de Carvalho, primeiro cirurgião do Rio Grande de São Pedro, as condições encontradas pelos colonos e soldados instalados em uma região fronteiriça da América portuguesa.Mui Señor Mio, despues de hauer reconozido las medizinas, parese que ha encontrado de menos todo lo que parese su papel: um estudo sobre o tratamento de tumores no Paraguai Colonial (Séculos XVII E XVIII) é texto de autoria de Bernardo Ternus de Abreu. Ele investiga concepções dos jesuítas sobre tumores, através de sua documentação escrita na região da Província Jesuítica do Paraguai, no Setecentos, procurando levantar informações sobre os itens utilizados para os tratamentos, bem como algumas características das intervenções medicinais realizadas.Leonor C. Baptista Schwartsmann apresenta o artigo intitulado O fenômeno imigratório e o controle do Tracoma: repercussões da doença. Ela busca identificar as relações entre imigração e tracoma, uma doença ocular de grande incapacitação que pode levar à cegueira. Procurou fazer uma abordagem da enfermidade a partir de autores que explicaram sua presença ligada à mobilidade humana pelo Brasil.É de autoria de Bruno Chepp da Rosa o texto intitulado Páginas de um saber médico: a presença da tuberculose em trabalhos publicados no Archivos Rio-Grandenses de Medicina. O artigo está dividido em duas partes: na primeira, é comentado sobre a constituição de uma imprensa médica em Porto Alegre a partir da fundação do Archivos Rio-Grandenses de Medicina (1920-1943), periódico cujas páginas serviram aos interesses profissionais de médicos diplomados e atuaram como um canal de enunciação e difusão de um saber médico-científico no estado; na segunda parte, discute-se a presença da tuberculose em trabalhos publicados no Archivos. Para tanto, é obedecido um recorte analítico: sem dar conta da totalidade de estudos publicados a respeito dessa doença, são selecionados textos em que seus autores discutiam estratégias profiláticas, meios diagnósticos e recursos terapêuticos empregados contra a tuberculose em um período que antecedia o tratamento eficaz com antibiótico.Concepção e desenvolvimento da exposição ‘Gripe Espanhola: a marcha da epidemia’ do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul”, escrito por Angela Beatriz Pomatti e  Gláucia G. Lixinski de Lima Kulzer tem como objetivo apresentar o cotidiano da cidade de Porto Alegre, entre outubro e dezembro de 1918, período da eclosão da epidemia na cidade, abordada na exposição realizada pela instituição, além de apresentar a forma como foi pensada e organizada.Janete Abrão escreveu o texto História, memória e comportamentos sociais em tempos de Covid-19 em que realiza uma reflexão sobre a pertinência da dimensão histórica e da memória coletiva no estudo das epidemias e pandemias. A perspectiva comparada proposta pela autora parte das narrativas históricas sobre os comportamentos sociais durante a gripe de 1918-1919, a cólera no século XIX, e a peste bubônica nos séculos XIV e XVIII, dentre outras epidemias e pandemias, e os contrasta com os comportamentos que foram evidenciados com a Covid-19.As autoras Quezia Galarca de Oliveira, Milena da Silva Langhanz e Lorena Almeida Gill, no artigo intitulado “Sinto falta de abraços”: os impactos da pandemia de Covid-19 na vida cotidiana dos alunos e alunas da UFPel trata dos impactos que a pandemia do novo coronavírus trouxe para o cotidiano dos alunos e alunas dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A metodologia empregada foi uma análise quali-quantitativa, através da construção de um questionário on-line, com 46 perguntas, lançado nas redes sociais.Verificando a historiografia, é notório o crescente interesse de pesquisa dirigido às instituições voltadas à assistência. Elas vêm recebendo a atenção de pesquisadores e aqui suas apresentações enfeixem esta publicação, reafirmando que as temáticas balizadas pela saúde se firmaram e se afirmam no cenário dos estudos históricos.Nesta terceira seção dirigida à assistência, o artigo intitulado A superlotação do Hospital Psiquiátrico São Pedro: implicações na internação de crianças e jovens entre os anos de 1932 e 1937 (Porto Alegre/RS) de autoria de Lisiane Ribas Cruz expõe algumas considerações referentes à pesquisa em desenvolvimento sobre a internação de crianças e jovens no Hospital São Pedro, entre os anos de 1932 e 1937.O texto Estigma da Lepra: o manequim Lázaro na exposição do Memorial do Hospital Colônia Itapuã, de autoria dos pesquisadores Helena Thomassim Medeiros, Juliane Conceição Primon Serres e Diego Lemos Ribeiro aborda a exposição do Memorial do Hospital Colônia Itapuã, localizado no município de Viamão (RS). Discute questões vinculadas ao histórico e estigma da lepra, hoje conhecida como hanseníase, que foi a razão da construção deste hospital, único leprosário do Rio Grande do Sul. A exposição inaugurada em 2014 traz informações sobre o local e sobre a história desta doença. Contudo, um elemento expográfico se destaca em meio a esta construção narrativa: o manequim Lázaro. A partir deste objeto cenográfico, os autores visam problematizar algumas questões em relação ao imaginário coletivo acerca da lepra no tempo presente.André Mota e Rodrigo Otávio da Silva escreveram A alimentação hospitalar moderna e a (re) produção do viver social no Hospital Miguel Couto em Natal (1927-1955). O autor  analisa a alimentação no Hospital Miguel Couto, na cidade do Natal (RN), entre 1927 e 1955, buscando capturar as representações e práticas alimentares na instituição no momento transicional de um modelo hospitalar caritativo para um modelo de “hospital moderno”, enfocando, no estudo, a materialidade da produção e do consumo alimentar no hospital a partir da abordagem de Jean-Pierre Corbeau e de seu conceito de “sequência do comer”.Gabrielle Werenicz Alves escreveu o texto Centros de Saúde e Postos de Higiene: novas instituições de saúde para novas políticas públicas (Rio Grande do Sul – 1928-1945)  versando sobre a trajetória de criação e o funcionamento de duas instituições criadas no Rio Grande do Sul na área da saúde pública, entre os anos de 1928 e 1945: os Centros de Saúde e Postos de Higiene. Inicialmente, descreve os antecessores destas instituições. Além disso, aborda a trajetória de sua criação no estado do Rio Grande do Sul, bem como analisa seus objetivos, os serviços prestados e as transformações que estas instituições sofreram ao longo do período pesquisado. Os autores Caroline Pereira Damin Pritsivelis, Antonio Rodrigues Braga Neto, Antonio Carlos Juca de Sampaio, Jorge Fonte de Rezende Filho e Joffre Amim Junior apresentaram o artigo intitulado “A Maternidade do Rio de Janeiro: história, ensino e assistência no Rio de Janeiro”. Ele destaca a importância da criação da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fundada em 1904 com o nome de Maternidade do Rio de Janeiro. Também faz sua relação com a construção de um modelo de ações voltadas não apenas para a ampliação, como também para a consolidação da assistência e ensino médico, ainda carentes de espaços específicos para esses fins.Cuidar de pobres doentes nas memórias de enfermeiras religiosas na Santa Casa de Porto Alegre (1956-1973), escrito por Véra Lucia Maciel Barroso contempla oralidades registradas com Irmãs que atuaram no processo criatório e de ensino da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia Madre Ana Moeller, no mais antigo hospital do Estado. Trata também dos desafios que enfrentaram na Instituição, especialmente nos momentos de intermitentes crises e muitas carências no atendimento aos pobres.Em breve tempo foi possível reunir um expressivo número de pesquisadores que aqui compartilham suas pesquisas, seus estudos e sua produção, cujo contributo demarca esta publicação com expressividade e proeminência.Uma proveitosa leitura!                                               Angela Beatriz Pomatti | Éverton Reis Quevedo | Véra Lucia Maciel BarrosoOrganizadores
  • Dossiê: Ensino de História e Educação em Tempos de Incerteza
    v. 25 n. 2 (2020)
    A ideia de que os brancos europeus podiam sair colonizando o resto do mundo estava sustentada na premissa de que havia uma humanidade esclarecida que precisava ir ao encontro da humanidade obscurecida, trazendo-a para essa luz incrível. Esse chamado para o seio da civilização sempre foi justificado pela noção de que existe um jeito de estar aqui na Terra, uma certa verdade, ou uma concepção de verdade, que guiou muitas das escolhas feitas em diferentes períodos da história.” (KRENAK, 2019, p. 3). Assim como Ailton Krenak nos informa e nos questiona sobre a noção de "que existe um jeito de estar aqui na Terra", também existe uma concepção e um jeito de ensinar, e de ensinar História, a priori, independente do tempo, dos sujeitos, dos territórios, das sociabilidades e dos pertencimentos. Essas concepções de História, de conhecimento e de verdade também são frutos da colonialidade do ser e do saber, como é posto e problematizado por Krenak.Já se vão duas décadas do século XXI, século que nos trouxe muitas interrogações acerca da validade de nossos conhecimentos, da aceleração do tempo, concreta ou imaginária, e  que nos colocou, como nunca,  diante da obsolescência das coisas, do conhecimento e,  por que não,  da obsolescência  de em torno de três quartos da humanidade. Seres humanos que estão incluídos na sociedade capitalista e do consumo desenfreado nas franjas, nas ocupações temporárias, na catação de rebotalhos dos grandes consumidores, das elites, em sociedades marcadas pelo racismo estrutural - conceito criado pelo filósofo e jurista brasileiro Silvio Almeida (2018). Mas incluídos na engrenagem capitalista, como nos ensina Francisco de Oliveira (2008).Esses grandes contingentes humanos, no caso do Brasil, especialmente os afro-brasileiros e indígenas, continuam a ser, continuam a resistir e continuam a se organizar, como é o caso da Central Única das Favelas, que se articulou sem a ajuda dos poderes públicos para fazer frente à pandemia da Covid 19. A população negra, as  pessoas que vivem nas periferias das cidades, os indígenas brasileiros, foram, mais uma vez, as vítimas preferenciais da pandemia e da política genocida do estado brasileiro. Um genocídio que só foi amenizado pela auto-organização dessas comunidades.No contexto de uma sociedade profundamente desigual, desta sociedade pluriétnica, multicultural, etnocêntrica e racista, e diante da emergência de uma série de discursos negacionistas e de tentativas de controle sobre o currículo e o fazer docente, o que significa ensinar, aprender e pesquisar História na escola básica e na formação inicial de professores e professoras? Pensando nesses desafios, o GT de Ensino de História e Educação da ANPUH/RS organizou sua XXIV Jornada de Ensino de História e Educação: “Ensino de História e Educação em Tempos de Incerteza", realizada de 7 a 10 de outubro de 2019 na Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS/Erechim/RS.A Jornada oportunizou espaços de reflexão acerca das profundas transformações e disputas no campo da educação e do Ensino de História, buscando compreender a dimensão destas mudanças e seus desdobramentos na escola, na formação docente e nas práticas educativas que professores e professoras desenvolvem cotidianamente em sala de aula.Este conjunto de artigos que ora apresentamos são oriundos de trabalhos apresentados durante a XXIV Jornada de Ensino de História e Educação e fazem parte das reflexões e dos debates que pautaram nosso encontro.O artigo Formação de Professores: Rompendo as fronteiras históricas sobre o fazer docente, de Shirlei Alexandra Fetter, Raquel Karpinski e Denise Regina Quaresma da Silva, trata da formação de professores e professoras no Brasil. As autoras apresentam uma breve síntese do processo histórico de formação docente, no sentido de ampliar a compreensão sobre a qual se constituiu a profissionalização dos/as professores/as, entrecruzando problemas históricos com questões que marcam o tempo presente. O artigo objetiva, assim, discutir sobre as possibilidades de formar professores/as-pesquisadores/as através da composição dialógica entre o campo docente, teórico e prático. No texto Ser professor de História em tempos de criminalização do fazer docente, Elvis Patrik Katz e Andresa Silva da Costa Mutz abordam os desafios no fazer docente de professores e professoras de História, especialmente no que se refere às tentativas de controle presentes no cenário atual, entre as quais se destacam as ações do Escola Sem Partido. Para tanto, se amparam nas discussões do campo dos Estudos Culturais e nas contribuições de Michel Foucault, no sentido de explicitar esses desafios e as estratégias de resistência que tem sido mobilizadas por professoras e professoras de História. Este dossiê apresenta também importantes contribuições no que se refere a ensinar História em uma perspectiva antirracista. Luciana da Veiga, em seu texto O ensino de história da África e da cultura afro-brasileira: os desafios de uma educação antirracista na região de Erechim, apresenta resultados de uma pesquisa que teve como objetivo compreender a representação de estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental, de 10 escolas da região do Alto Uruguai do Rio Grande do Sul, sobre pessoas negras. A autora discute o caráter dessas representações e os estereótipos reproduzidos pelos/as estudantes, evidenciando os desafios que se colocam para o cumprimento da Lei 10.639/03 e para a construção de uma educação antirracista.Em outro artigo intitulado História da África e afro-brasileira: autonomia no ensinar e aprender, Aristeu Castilhos da Rocha também aborda as inquietações e percalços encontrados para a aplicação da Lei 10.639/2003 na Educação Básica. Amparado em uma pesquisa bibliográfica e documental e em suas vivências enquanto docente e pesquisador, o autor apresenta proposições didáticas para o estudo de Histórias da África e Afro-brasileiras a partir de um entrelaçamento do ensino de História com a Literatura, o Cinema e a Música. Deste modo, propõe caminhos para uma reconfiguração curricular e para a inserção dessas temáticas na sala de aula e nas práticas educativas. O artigo Ensino de História Afro-Brasileira através de maquetes do LASCA-UFSM, de Valeska Garbinatto e André Luis R. Soares, trata do uso de maquetes produzidas pelo Laboratório de Arqueologia, Sociedades e Culturas das Américas – LASCA, ligado ao Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria, nas aulas de História do Colégio Estadual Elpídio Ferreira Paes, localizado em Porto Alegre. Tais maquetes, que tratam de diferentes temáticas vinculadas à história da África e dos africanos e seus descendentes no Brasil, foram apresentadas e discutidas com estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Assim, o texto discute sobre as potencialidades do uso de maquetes enquanto uma ferramenta didática para o ensino de História e para a aplicação da Lei 10.639/03.Saberes e valores das pessoas negras em movimento: ensinar história em coletividades emancipatórias, de Carla Beatriz Meinerz e Maurício da Silva Dorneles, aborda o ensino de História a partir de uma perspectiva experimentada nas coletividades negras agremiadas em Porto Alegre, com suporte no pressuposto curricular que estabelece uma estreita relação de aprendizagem com os saberes produzidos pelo movimento negro, regulado pelas Diretrizes para a Educação das Relações Étnico-Raciais.No artigo Como trabalhar com a educação patrimonial produzida nos museus e em outros espaços? Uma experiência entre o Memorial da Resistência de São Paulo e o Curso Pré-Universitário Popular UP, Capão do Leão-RS, Milena Rosa Araújo Ogawae Amanda Nunes Moreira discutem sobre os usos de materiais educativos produzidos por museus como ferramentas para a educação patrimonial. Para isso, apresentam um relato de experiência sobre a utilização do “Material de Apoio ao Professor” produzido pelo Memorial da Resistência de São Paulo nas aulas do Curso Pré-Universitário Popular UP. O Memorial, que está localizado nas antigas instalações do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS-SP), se constitui em um dos mais importantes espaços de preservação das memórias da resistência e da repressão ditatorial no Brasil. O texto relata então quais os materiais disponibilizados pelo Memorial e quais suas potencialidades no que se refere à educação patrimonial.O texto Aprendizagem histórica e gênero: uma experiência com aula oficina, de Amanda Nunes Moreira, apresenta uma investigação sobre a construção da consciência histórica de alunos/as de uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual, na cidade de Pelotas/RS. Esse estudo está fundamentado nas concepções dos estudos sobre Educação Histórica, Ensino de História e Consciência Histórica, utilizando como cenário para a análise a presença, ou não, do sujeito feminino em narrativas sobre a Revolução Russa.  No artigo “Não é preciso queimar sutiãs em praça pública”: o Dia Internacional da Mulher através do Jornal Pioneiro, de Rúbia Hoffmann Ribeiro e Eliana Gasparini Xerri, as autoras discutem o Dia Internacional da Mulher, a forma como a data é tratada historicamente e como é apresentada no Jornal Pioneiro, de grande circulação na serra gaúcha. O artigo está integrado ao Projeto Narrativas Presentes no Jornal Pioneiro - Caxias do Sul (HISENSPI).  Uma imagem vale mais do que mil palavras: considerações acerca do uso da fotografia no ensino da História, de Isabella Czamanski Rota, visa apresentar as mudanças ocorridas na maneira de se entender o conhecimento histórico e como isto afeta a maneira que a História pode ser ensinada em sala de aula, com foco no uso da fotografia e suas possibilidades no ensino de acontecimentos dos últimos dois séculos, bem como nas mudanças ocorridas na paisagem urbana, nas relações sociais e quaisquer outras informações que os/as historiadores/as sejam capazes de ler a partir das fotografias.Esperamos que a leitura dos artigos traga novas interrogações e que também contenha uma potência transformadora. Ensinar História em tempos de incerteza requer comprometimento com o/a outro/a, com as gerações em formação. Ensinar História em tempos de incerteza solicita uma pequena pausa para reflexão; olhar para nós mesmos, para os fundamentos teóricos e epistemológicos que acreditamos, revisitar as nossas posturas políticas, nossas perspectivas de futuro, a nossa relação com a docência, para mais uma vez, planejarmos as nossas aulas. E ter consciência que a ação docente é um ato político, um exercício que contribui para a formação das pessoas, da cidadania, da humanidade; é semear esperanças no chão das salas de aula.        Pelotas, Primavera de 2020.       Sirlei Teresinha Gedoz, Halferd Carlos Ribeiro Junior e Alessandra Gasoarotto (Org.)  ReferênciasALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural. Belo Horizonte: Letramento, 2018.OLIVEIRA, Francisco. Ornitorrinco: Será esse um objeto de desejo? Entrevista Café Filosófico, TV Cultura. 2008.KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
  • História Oral
    v. 25 n. 1 (2019)
    Apresentamos a vocês o novo número do periódico História em Revista, vinculado ao Núcleo de Documentação Histórica Profa. Beatriz Loner, da Universidade Federal de Pelotas.No dossiê, intitulado “História Oral” constam quatro artigos e um instrumento do trabalho. No primeiro deles, ENSINO DE TEATRO NA UFRGS: REVIRANDO MEMÓRIAS EM BUSCA DA HISTÓRIA, Juliana Wolkmer discute os caminhos metodológicos relacionados a um estudo feito durante a dissertação de mestrado, no qual realizou entrevistas com egressos de cursos de arte da Universidade Federal do RS.O segundo texto HISTÓRIA ORAL E PROFESSORES DE HISTÓRIA: UM ESTUDO DAS DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS foi escrito por Suzana Ribeiro, Eliana Mendes e Elisa Brisola e constrói narrativas com professores de História a respeito das relações étnico-raciais e do ensino de história da África e cultura afro-brasileira e africana, permitindo adentrar no cotidiano escolar e das questões de racismo, tão presentes ainda na atualidade.O terceiro artigo MELILLA-MARROCOS: (CON)JUNÇÕES FRONTEIRIÇAS. UM DEBATE TRANSDISCIPLINAR escrito por Suzanne Maria Legrady revela os caminhos de uma pesquisa em andamento, mas que já realizou 43 entrevistas em uma perspectiva multifacetada e transnacional, já que Melilla é uma cidade espanhola que faz fronteira com o país africano, Marrocos.O quarto artigo intitulado MOVIMENTO FEMINISTA NA CIDADE DE PELOTAS-RS: A ATUAÇÃO DO GRUPO AUTÔNOMO DE MULHERES DE PELOTAS (GAMP) - (1990-2019) foi escrito pela doutoranda Elisiane Medeiros Chaves e revelou a história de um grupo de mulheres que se organizaram, a partir da década de 1980 para lutar, sobretudo, contra a violência à mulher.No dossiê consta ainda um instrumento de trabalho, que apresenta uma entrevista feita com o cartunista Renato Vinícius Canini, falecido no ano de 2013. A entrevista foi construída no ano de 2008, na casa de Canini e foi bastante interessante ao revelar um pouco da produção de um cartunista que, dentre outras coisas, desenhou o personagem da Disney, Zé Carioca, durante alguns anos. A narrativa faz parte do acervo do Laboratório de História Oral da UFPel.O periódico é complementado com um texto intitulado CAIS DO VALONGO: MEMÓRIA ESCRAVISTA E HERANÇA CULTURAL escrito por Vanessa de Araújo Andrade e Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva. O artigo discute, através de uma análise bibliográfica, o papel histórico e cultural do cais, em que se fixaram africanos e afrodescendentes, considerado hoje como Patrimônio Cultural da Humanidade.Além dos artigos, o dossiê revela um encontro, de anos e de vida. Ocorre que os editores deste número se conheceram em congressos de história oral realizados no Brasil e fora dele e passaram a não só conviver, mas a trocar experiências e afetos.Nestes anos, participaram juntos de mesas de debates, de bancas julgadoras, de jornadas de estudo, mas mais do que isso experimentaram construir reciprocidades em suas trajetórias de vida.É por isso que o número desta revista é tão especial para todos e cada um de nós.Esperamos que vocês aproveitem a leitura. Lorena Almeida GillRobson LaverdiPablo Pozzi
  • Alberto Henschel, Escravos transportando homem numa liteira. Salvador, c.1869. Acervo Instituto Moreira Sales. História e Historiografia da Escravidão Negra no Brasil
    v. 24 n. 2 (2018)
    Como devaneia o poeta angolano José Eduardo Agualusa – “Nada passa, nada expira. O passado é um rio adormecido, parece morto, mal respira, acorda-o e saltará num alarido”. Foi por nos sentirmos provocados por esse caráter insubmisso do passado e da história e angustiados pelos fantasmas dos retrocessos que assolam o nosso presente, que nos sentimos motivados a organizar esse dossiê. Vai longe a parceria entre os organizadores desse dossiê, que não se esgota na proximidade das temáticas com que trabalham e nem no prazer que sentem na frequência dos arquivos, mas que se reatualiza na indignação com que olham o passado e no desconforto que os acompanha na apreciação crítica ao momento político nacional.Como docentes e pesquisadores nos acalentam os sonhos e os projetos políticos desejar um país balizado na inclusão e não na exclusão social. Almejamos uma sociedade em que as reivindicações do povo negro sejam ouvidas e acatadas, que o preconceito racial e o racismo institucional sejam debelados, onde se combata o sexismo e o feminicídio, que o ensino público, gratuito e de qualidade prospere. Por isso investimos em reunir um conjunto de textos que abordem temas da histórica presença da população negra de forma crítica.Nas últimas décadas, a historiografia brasileira tem sido palco de um grande número de estudos sobre a escravidão negra. Reunindo uma série de pesquisas com notáveis contribuições nacionais e internacionais e utilizando-se de um leque variado de fontes documentais, o panorama atual apresenta uma diversidade de temáticas e enfoques que vão desde a história social e econômica até os estudos de caráter mais político e cultural. O presente dossiê pretende reunir pesquisas que abordem os diversos temas relacionados à temática da escravidão negra no Brasil. É também uma homenagem a Beatriz Ana Loner, que em toda sua vida acadêmica se dedicou ao tema da escravidão e pós-abolição. Dedicou-se também na construção do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel e na realização da História em Revista, que em 2019  completa 25 anos de existência. Dedicamos a Beatriz o presente trabalho, por ter legado uma vasta influência às novas gerações de pesquisadores e pesquisadoras.O artigo “O 13 de Maio nos Relatos do Impresso Negro Pelotense A Alvorada (1931-1935)”, de Ângela Pereira Oliveira Balladares, trata a comunidade negra da cidade de Pelotas de forma plural. Localizada na região sul do mais meridional estado brasileiro, Pelotas sempre se caracterizou pela consistente e ativa presença negra. Uma das formas pelas quais a população negra local afirmou suas reivindicações e constituiu-se enquanto ágil e contestadora coletividade, foi a militância associativa e a publicação de periódicos. Recentemente, a imprensa negra tem sido tratada pelos historiadores com mais cuidado, mostrando através dela a agência de intelectuais/letrados negros e a constituição de agendas reivindicativas próprias. O artigo ora publicado toma como tema central a forma como o periódico A Alvorada, abordou as comemorações sobre o 13 de maio, captando os significados que aquelas comunidades atribuíam a essa data comemorativa.Já o texto dos historiadores Ane Caroline Câmara Pimenta e Elaine Leonara de Vargas Sodré – “A escravidão no Arraial do Tejuco (1731-1733): ensaio acerca da dinâmica social e hierarquização, sob a ótica dos registros batismais”, analisa a escravidão negra no arraial do Tejuco, na então capitania de Minas Gerais. A pesquisa maneja os batismos católicos de escravizados, ocorridos entre os anos de 1731 a 1733 naquela paróquia, tratando de temas como comportamentos, hierarquias sociais, compadrios e relações conjugais.O historiador Matheus Batalha Bom investiga há anos a presença negra na região fronteiriça entre o Brasil e o Uruguai e esta é a temática de seu artigo – “Margens de Liberdade: controle e autonomia nas últimas décadas da escravidão em Jaguarão (1870-1888)”. Visando discutir e descrever as porosas diferenciações entre escravidão e liberdade no período final do escravismo brasileiro, Bom se serve de fontes primárias diversas, como inventários post-mortem e processos judiciários, montando um mosaico qualitativo e quantitativo da escravidão sulina e fronteiriça.Também observando a presença negra escravizada e forra na região sul do Rio Grande do Sul, a historiadora Natália Garcia Pinto se serviu de abundantes fontes documentais para produzir o artigo – “De Euzébio escravo, filho da preta nagô Ângela, a Euzébio Barcellos, liberto: projetos de liberdade na comunidade escrava do Comendador Cipriano Rodrigues Barcellos”. Dialogando com uma atualizada e diversa historiografia que renovou a história social da escravidão nos últimos anos e sob a perspectiva da micro-história, Pinto aborda a “importância dos laços afetivos e familiares nos projetos de liberdade” na sociedade pelotense oitocentista, evidenciando a potencialidade e a possibilidade do investimento da pesquisa em trajetórias individuais e familiares, mesmo no período escravista.No artigo – “Manipanços, feitiçarias, alcorões: africanos muçulmanos no Brasil meridional (Porto Alegre, século XIX)”, o pesquisador Paulo Roberto Staudt Moreira aborda a pluralidade e complexidade da diáspora transatlântica. Costurando vestígios documentais de origem diversa (jornais, documentos policiais e judiciários) o autor pensa nas experiências diaspóricas de africanos muçulmanos no Rio Grande do Sul, tema ainda incipiente na historiografia nacional e que demanda ainda futuros investimentos em pesquisa.“Entre a Permissão e a Proibição: batuques, danças e conflitos na capitania de Pernambuco durante o século XVIII”, texto de autoria dos historiadores Josinaldo Sousa de Queiroz e Priscila Gusmão de Andrade aborda a religiosidade negra em Recife, na Capitania de Pernambuco. Acessando registros jurídico-administrativos, custodiados no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa, Portugal) e documentos do Tribunal do Santo Ofício português, os pesquisadores traçam as mentalidades religiosas que se opunham àquelas manifestações religiosas negras, ao mesmo tempo que usam os documentos produzidos por agentes responsáveis pelo controle social como indícios dessas experiências sociais devocionais e lúdicas.Inseridas no campo do pós-abolição, as historiadoras Lisiane Ribas Cruz e Priscilla Almaleh nos trazem o artigo – “É uma negra feiticeira, mulher ruim: Relações de gênero, raça e masculinidade. Análise de um processo-crime, 1918 (Santa Maria –RS)”. Abordando com criatividade e sensibilidade um documento judiciário produzido por uma série de desavenças cotidianas, as autoras nos conduzem por uma análise que evidencia estarem intimamente vinculadas variáveis sobre gênero, classe e raça, seja nos xingamentos proferidos, nas relações estabelecidas com os órgãos públicos, seja nas reputações sociais comunitárias. Além disso, outro mérito desse texto é a consideração da masculinidade como item importante de análise.Encerrando este dossiê, temos o texto – “O protagonismo feminino no centro abolicionista e nas festas da abolição em Porto Alegre (RS/ Séc. XIX)” – de autoria da pesquisadora Tuane Ludwig Dihl. Usando como observatório nominativo do abolicionismo de Porto Alegre, capital da província do Rio Grande do Sul, o Livro de Atas do Centro Abolicionista local e o Livro de Ouro, a historiadora visibiliza a agência feminina naqueles anos finais do escravismo brasileiro. Documentos redigidos e preservados como uma espécie de memória oficial das meritórias (mesmo que tardias e incompletas) ações emancipacionistas das elites locais, esses registros, mesmo que involuntariamente, permitem-nos entrever a ação feminina nesse processo histórico.Jonas Moreira VargasPaulo Roberto Staudt MoreiraCaiuá Cardoso Al-Alam
  • História da Educação e Ensino de História
    v. 24 n. 1 (2018)
    História da Educação e do Ensino de História: temas, fontes e problematizações Nas últimas décadas observa-se a emergência de dois importantes campos de pesquisa na historiografia brasileira – História da Educação e Ensino de História – cujas efervescências de produções acadêmicas podem ser atestadas pelos inúmeros trabalhos de pós-graduação defendidos no Brasil, pela criação de associações nacionais de pesquisadores, pelos significativos eventos realizados, pelas publicações de/em revistas científicas e pela consolidação de vários grupos de pesquisa.Nos dois campos ressalta-se o fato de terem sido constituídos em zona de fronteira, no limiar entre a História e a Educação, resultando na emergência de discursos que expressam os diferentes lugares de fala, com abordagens, problemas e metodologias próprias. Em ambos os espaços, a História da Educação e o Ensino de História são áreas de investigação consolidadas e que vem sendo repensados a partir de novos desafios epistemológicos.Reunimos, neste dossiê, oito artigos resultantes de pesquisas que, de algum modo, refletem essa dimensão do campo, a partir da mediação entre diferentes modos de pensar, conceber e analisar a relação entre a História da Educação e o Ensino de História. Destacamos que ao agregar contribuições destes dois campos, encontraremos textos que se propõem a realizar problematizações em diferentes contextos, bem como a partir de distintas fontes, abordagens temáticas e perspectivas teóricas. Nesse sentido, as pesquisas aqui divulgadas tomam como referências a historicidade dos processos culturais escolarizados e não-escolarizados, as práticas e discursos mobilizados para ensinar e aprender saberes e conhecimentos (históricos), a dinâmica legislativa sobre aspectos educativos em geral e do ensino de História em particular, os agentes intelectuais que pensaram a escola, a educação e o ensino de História, as memórias sobre práticas, normas, regimes e instruções, de modo a constituir significativas e importantes discussões para o campo das Ciências Humanas.Os diferentes objetos e problematizações, centrados nos dois campos de pesquisa, que os autores dos artigos deste dossiê acionam, evidenciam distintas fontes textuais, bem como demonstram os variados modos com que os pesquisadores operaram conceitualmente. Assim, foram mobilizados conceitos e métodos como representação, cultura escolar, formação de professores, através da análise iconográfica, do discurso e da revisão bibliográfica. Destacando, assim, emergentes temáticas como a história indígena, oficina de educação profissional de meninos, assistência de meninas desvalidas, educação de mulheres, alfabetização de adultos, reforma pedagógica, ensino na educação básica e constituição do sujeito docente de História.Para abrir o dossiê contamos com texto de Martha Victor Vieira, intitulado A escrita e o ensino da História no século XIX e a representação dos indígenas nas Lições de Joaquim Manuel de Macedo, que analisa a produção da escrita da história do Brasil, dando ênfase ao ensino da história indígena no século XIX. Para a autora, o manual didático Lições de História de Brazil para uso das Escolas de Instrução Primária (1861/63), de autoria de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), foi um importante impresso não apenas como material pedagógico para o ensino de História, mas como suporte de enunciação da temática indígena.Na sequência, o texto de Jeane dos Santos Caldeira e Jezuina Kohls Schwanz, denominado por As representações do Asilo de Órfãs São Benedito na imprensa local pelotense durante a primeira metade do século XX, investiga as representações de um asilo assistencial para meninas órfãs enunciadas nos jornais da cidade de Pelotas/RS. De acordo com as autoras, o conjunto de representações, constituídas em torno da instituição, indicavam principalmente a existência de uma proteção “benevolente” dos membros da sociedade pelotense que colaboravam com a manutenção do asilo, garantindo o amparo e subsídio às meninas negras desvalidas durante a primeira República.O artigo de Hardalla Santos do Valle, Imagens das oficinas profissionalizantes salesianas na cidade do Rio Grande/RS (1910-1960), se propõe a compreender o processo de educação de meninos e jovens realizado em oficinas profissionalizantes do Liceu Salesiano de Artes e Ofícios Leão XIII na cidade do Rio Grande/RS, na primeira metade do século XX. A autora destaca que o uso de fotografias, associadas à outras fontes como relatórios e jornais locais, possibilitam uma melhor compreensão dos elementos, das práticas e das materialidades da cultura escolar presentes na instituição analisada.Fernanda Costa Frazão no texto A educação feminina entre a normalização e a resistência: uma análise dos discursos da revista Careta (1914-1918) apresenta uma análise do discurso acerca do processo histórico de educação para meninas e jovens. Tendo como principal objeto de investigação uma série de edições da revista ilustrada e de variedades Careta, publicadas na década de 1910, a autora discorre sobre o processo de normalização e conformação de papéis sociais destinados às mulheres, bem como os possíveis mecanismos de negações e resistências utilizados para enfrentar a regulação e prescrição de condutas pretensamente “desejadas” para o universo feminino.O texto Da materialidade ao conteúdo: análise do material didático do Movimento Brasileiro de Alfabetização de Leide Rodrigues dos Santos, revela como um dispositivo pedagógico adotado pelo Mobral, na década de 1970, se tornou um importante meio discursivo para propagar valores, ideologias e cultura, podendo, assim, ter sido um instrumento eficiente de reprodução do saber oficial posto por setores do poder e do Estado.O próximo texto é de Simôni Costa Monteiro Gervasio e Alessandro Carvalho Bica, cujo título é “Educar é construir para o infinito”: análise dos discursos transformadores relativos à reforma de 1971 nos editoriais da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1972-1974). O artigo descreve como os editorias da Revista de Ensino veiculou ideias, metodologias, propostas, sugestões e conselhos que estavam regulados pela Reforma do Ensino de 1971. Seus autores concluem que a Revista do Ensino funcionou como um canal direto de comunicação entre a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e os professores, transmitindo ideias sobre práticas e métodos que deveriam ser implantados na prática dos docentes.Em O ensino de História e as práticas pedagógicas: os desafios dos professores no Ensino Fundamental, os autores Helena Gouveia da Silva Oliveira, Irlanda do Socorro de Oliveira Mileo e Renato Pinheiro da Costa, examina as práticas pedagógicas de professores da educação básica para o desenvolvimento do ensino de História no estado do Pará. Neste artigo os autores problematizam a preocupação de professores em participarem, cada vez mais, de formações continuadas, por entenderem que estas podem contribuir no aperfeiçoamento das práticas de sala de aula e com o conhecimento de metodologias inovadoras que possibilitem “melhorar” suas práticas docentes.Encerramos com a reflexão de Felipe Nóbrega Ferreira que, em Nas voltas que a formação em História dá: um relato de experiência sobre o estar coordenador pedagógico na rede básica de ensino, narra a experiência do constituir-se professor de História. A partir de uma reflexão crítica, o autor descreve três momentos de sua formação profissional, sobretudo, na atuação como coordenador pedagógico em uma escola do Rio Grande do Sul, seja os de buscar um saber ambientalizado, a prática apreendida pela documentação e atribuição da mantenedora da instituição em que atua e o desenvolvimento de uma proposta de formação na área de História, a qual denominou como “do ouvir e do falar”.Por fim, cumpre dizer que ordenamos o dossiê a partir da temporalidade dos objetos que os artigos apresentam. Os oito textos seguem a cronologia ascendente, permitindo a leitura de certa dinâmica entre os campos da História da Educação e do Ensino de História. Neste dossiê, o leitor encontrará uma representativa mostra de investigações que vêm sendo realizadas em diferentes regiões do Brasil, que têm se dedicado a analisar, sob diferentes aspectos e enfoques conceituais e metodológicos os campos da História da Educação e do Ensino de História.Desejamos a todos uma boa leitura! Natal/RN e Pelotas/RS, agosto de 2018. Magno SantosFernando Ripe
  • História e Literatura (13ª Jornada de História Cultural)
    v. 23 (2017)
    Prezado (a) leitor (a),É com satisfação que disponibilizamos aos leitores da História em Revista, publicação do Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas, os trabalhos apresentados na 13ª Jornada de História Cultural - História e Literatura. O evento, organizado pela Gestão 2016-18 do GT História Cultural RS[1], vinculado à ANPUH em sua Seção RS, foi realizado em Porto Alegre em 31 de agosto e 01 de setembro de 2017, no Santander Cultural.O presente dossiê temático é fruto de uma primeira e muito bem-vinda parceria entre o GT História Cultural RS e a revista do NDH da UFPel. Uma parceria que agradecemos e que almejamos seja repetida futuramente, permitindo, como agora, que as pesquisas apresentadas pelos estudantes de pós-graduação e pesquisadores pós-graduados de diferentes universidades brasileiras possam ser socializadas, ampliando o acesso público aos conhecimentos produzidos na academia e incrementando os diálogos multidisciplinares.Este tem sido um dos objetivos da Jornada de História Cultural, evento bienal cuja primeira edição ocorreu em 1997, ano da fundação do GT História Cultural RS, que está comemorando vinte anos de atividades. As Jornadas têm sido empreendidas visando-se aprofundar uma temática previamente escolhida. A programação integra uma conferência, uma mesa-redonda e mesas de comunicações, oportunizando a divulgação e discussão das investigações. Especialistas na temática do evento são convidados para apresentar suas produções e reflexões. Neste ano de 2017, dedicamos o encontro à exploração das relações entre a História e a Literatura. A conferência de abertura foi proferida pela Profª Drª. Luciana Murari (PUCRS). Já a mesa redonda de encerramento contou com as palestras dos professores Dr. Mauro Nicola Póvoas (FURG) e o Dr. Charles Monteiro (PUCRS).O presente dossiê, que é aberto com a conferência da Profa. Luciana, reúne onze das quinze comunicações apresentadas no evento, mantendo-se a organização original das exposições. Para a publicação, elas foram desenvolvidas e ampliadas para o formato artigo, possibilitando aos autores uma melhor elaboração das preocupações, metodologias de trabalho e resultados das suas pesquisas.Os trabalhos selecionados investigam e problematizam as relações entre a História e a Literatura em suas diferentes possibilidades. O eixo que mais motivou estudos foi a apropriação da literatura pela história como objeto ou fonte, com suas implicações teórico-metodológicas. Outra questão que perpassou diversos trabalhos foi a do entrecruzamento dos discursos histórico e literário no âmbito de diferentes gêneros: a produção literária de conteúdo histórico, a literatura como objeto cultural e a história como matéria literária. Em boa parte das pesquisas, as reflexões sobre as relações entre o ficcional, o literário e o histórico foram motivadas por indagações relacionadas à identidade, ao imaginário e à memória. O estudo da história do livro, da impressão e da leitura, ou das práticas de produção, circulação e apropriação dos objetos e narrativas literárias, também marca presença no dossiê, contribuindo com as investigações pautadas pela percepção da literatura como fenômeno histórico e sistema de criação, produção e consumo das obras e visões de mundo. Os estudos mais instigantes e motivadores são aqueles que se situam justamente no entrecruzamento das diferentes problemáticas e linhas de pesquisa elencadas, dando conta da potencialidade dos diálogos entre a História e a Literatura para o melhor conhecimento e reflexão sobre a sociedade, em sua história e dinâmica.Nosso intento é contribuir, mediante a aproximação com novos parceiros, para a constante reformulação dos problemas, temáticas e objetos da História Cultural, considerando-se as relações entre os historiadores e as fontes e objetos literários, bem como entre os profissionais das áreas de Letras e de História, de modo que suas práticas investigativas possam ser aperfeiçoadas e novos conhecimentos possam ser produzidos a partir de tais experiências.   Desejamos a todos uma profícua leitura! Alice Dubina Trusz[2][1] Constituem a Coordenação do GT História Cultural RS em sua Gestão 2016-18: Coordenadora: Prof.ª Dr.ª Alice D. Trusz; Vice-coordenadora: Prof.ª Dr.ª Carmem A. Ribeiro; 1º Secretário: Prof.ª Dr. Eduardo R. J. Knack; 2ª Secretária: Prof.ª Dr.ª Viviane V. Herchmann. Contato: gthistoriacultural@anpuh-rs.org.br Site: http://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalrs/index.htm Facebook: https://www.facebook.com/gthistoriaculturalrs[2] Historiadora, Coordenadora do GT História Cultural RS – Gestão 2016-18.
  • II Encontro Discente de Pesquisadores de História-UFPel: Perspectivas teóricas Contemporâneas
    v. 21 n. 22 (2016)
    Prezado (a) leitor (a),Os artigos que compõem os presentes números de História em Revista, 30 no total, constituem os resultados dos projetos de pesquisa de discentes de pós-graduação apresentados no II Encontro Discente de Pesquisadores de História-UFPel: Perspectivas teóricas contemporâneas realizado entre os dias 21 e 23 de outubro de 2015.O Encontro foi promovido pelo corpo discente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pelotas, reunindo cinquenta e sete comunicadores oriundos de diferentes programas de pós-graduação (UFPel, FURG, UFRGS, UFSM, IFF, IFSUL, PUCRS, PUCRJ e UDESC).A abertura do evento contou com uma mesa redonda constituída pelos professores pós-doutorandos do PPGH/UFPel Alexandre de Oliveira Karsburg, Carolina Kesser Barcellos Dias, Clarice Gontarski Speranza e João Júlio Gomes dos Santos Júnior.As conferências foram proferidas pelos professores doutores Valdei Lopes de Araújo, da Universidade Federal de Ouro Preto, e, no encerramento, Jurandir Malerba, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.O Encontro proporcionou trocas acadêmicas entre os conferencistas e os alunos de pós-graduação e, como se trata de um evento direcionado ao público constituído por jovens pesquisadores, também promoveu o diálogo e o compartilhamento de experiências de pesquisas entre os comunicadores.Os artigos que ora foram agrupados nestes números de História em Revista demonstram, assim, parte do resultado da proposta alcançada pela organização do Encontro.No número 21 o leitor encontrará artigos que dialogam com a historiografia, discussão de fontes, práticas de ensino e escrita de história. O número 22 tem temas diversos que vão da História Geral a História Regional, passando pela discussão de raça, trabalho e outros temas de pesquisa dos pós-graduandos.Desejamos a todos uma boa leitura!Comissão Organizadora do II Encontro Discente de Pesquisadores de História-UFPel: Perspectivas teóricas ContemporâneasComitê Editorial da História em Revista
  • v. 20 (2014)
    Prezado (a) leitor (a),Rememorar a Guerra do Contestado é um dever, um compromisso ético e político com aqueles que morreram. Esse compromisso não se restringe à memória dos mortos. Ele está vinculado ao desejo de conferir visibilidade a situação dos remanescentes do Contestado na atualidade.O movimento do Contestado foi duramente reprimido. A violência contra os sujeitos que atuaram nessa experiência histórica complexa e ousada,  foi tanto física quanto simbólica. Ocorreu no campo de batalha, mas também nas trincheiras do discurso e da memória.Movidos pelos lemas de progresso e esclarecimento, instituições políticas e militares moveram seu arsenal bélico contra homens, mulheres e crianças que ousaram colocar em prática um mundo novo.  Neste, seriam abolidas a dominação dos coronéis, da igreja oficial e dos adversários de cristo e dos santos. Findaria também a exploração econômica personificada, na região, pelas empresas internacionais Brazil Railway Company e sua subsidiária Southern Brazil Lumberand Colonization Company. A organização de comunidades santas avessas ao propalado progresso era algo ousado demais para ser aceito. A reprimenda não tardou. No primeiro ato o governo catarinense enviou forças policiais contra José Maria e seus seguidos que estavam reunidos em Curitibanos. No segundo ato (outubro de 1912), tropas da força policial paranaense atacaram o mesmo grupo nos campos do Irani. Resultado: dezenas de mortos e feridos. Entre eles José Maria. No terceiro ato os habitantes do planalto catarinense se reuniram em Taquarussú para aguardar o retorno dos monges, dos santos e de todos os mortos. Seguiram-se novos ataques militares orquestrados pelos governantes em conluio com os coronéis locais. No quarto ato forças bélicas federais foram organizadas para destruir as cidades santas que se alastravam como barril de pólvora pelo planalto catarinense. Um dos quadros mais dramáticos dessa tragédia foi a organização de uma verdadeira campanha de guerra contra populações brasileiras. Um terço do efetivo do exército foi mobilizado para a região. O desfecho foi a destruição de milhares de casas, pessoas presas e assassinadas. Tudo em nome da ordem, da justiça e do progresso. Com essas estratégias os coronéis locais reforçaram sua liderança, as empresas internacionais foram protegidas e as elites brasileiras celebraram o combate ao malfadado fanatismo que imperava nos sertões brasileiros.Passada a luta armada, intensificou-se a batalha de desqualificação do movimento e dos sujeitos que nele atuaram. Fanáticos, beligerantes, bárbaros, ignorantes, ingênuos, vítimas, desordeiros, bandidos. São esses os qualificativos erguidos na vasta produção memorial sobre o Contestado. Esses adjetivos compõem um cortejo triunfal que, sob a máscara da imparcialidade, mantém uma guerra cruel contra os rebeldes do Contestado.   Essa guerra desqualifica a experiência passada, mas também destitui de autoridade todo e qualquer movimento que se organize em termos semelhantes ao do Contestado na atualidade. Trata-se, portanto, de uma guerra contra o sonho de mudança, contra a experiência de luta, contra a possibilidade de um mundo novo. Nesse sentido, uma batalha atemporal que lança mão de todos os instrumentos disponíveis.Contra essa iniciativa, algumas vozes se ergueram. Pesquisadores identificados com a causa sertaneja tem revisitado os arquivos, revisado a história, criticado a memória dos vencedores. O dossiê que ora apresentamos, contempla, em sua composição, artigosdesses novos sujeitos. Podemos dizer que eles fazem parte da romaria de pesquisadores contrários ao cortejo dos vencedores. São descendentes de intelectuais identificados com a causa dos sertanejos do Contestado que remonta aosinovadores trabalhos publicados entre as décadas de 60 e 70 do século XX por Maurício Vinhas de Queiroz e por Duglas Teixeira Monteiro.É preciso salientar que a proposta desse dossiê está relacionada às iniciativas promovidas pelo grupo de pesquisa certificado pelo CNPq  intitulado Movimento do Contestado. Trata-se de uma rede de pesquisadores de diversas instituições (UFPEL, UFSC, UDESC, UFFS) que desde 2012 tem organizado seminários, promovido debates na imprensa e na academia e incentivado a pesquisa e publicação sobre o Contestado.Contra o cortejo triunfal que teima em desqualificar a memória dos fiéis de João Maria, acreditamos congregar uma romaria de pesquisadores identificados com os mortos do Contestado, mas também com aqueles que ainda hoje sofrem as agruras da violência movida contra as populações pobres do interior do país. Talvez nosso cortejo pareça pequeno e insignificante na atualidade, mas ele cresce, a cada ano, em número de pessoas, de publicações e de iniciativas acadêmicas. Temos esperança que esse grupo consiga vencer a batalha pela memória do conflito e, com isso, reverter a interpretação que desqualifica as experiências de luta do passado. Quem sabe, dessa forma, conseguiremos repensar não só o que passou, mas também abrir nossas cabeças para refletir sobre o tempo presente, as lutas presente, o mundo presente. O Contestado é um convite à reflexão ao universo místico, mas também político e utópico.Boa leitura!
  • v. 19 (2013)
    A presente edição de História em Revista reúne os textos completos das comunicações apresentadas na VII Jornadas Regionais do GT Mundos do Trabalho da Associação Nacional de História, seção Rio Grande do Sul (Anpuh-RS), evento realizado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) entre 11 e 13 de junho de 2013. O leitor encontrará aqui nestes anais uma ampla gama de temas que enfocam desde aspectos mais tradicionais do campo de pesquisas da história social, como organização sindical, militantes e lutas operárias, até novas abordagens, como trabalho livre e escravo antes da abolição, regulação legal e representações do trabalho na arte e na imprensa.Durante o evento, os trabalhos foram agrupados em 10 simpósios livres, contando no total com 61 trabalhos inscritos. O evento contou ainda com mini-cursos, mesas-redondas, uma conferência de abertura com a professora doutora Angela de Castro Gomes, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRio), e um painel de encerramento que uniu a professora doutora Magda Biavaschi e o professor doutor Fernando Teixeira da Silva, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Embora nem todos estejam presentes neste dossiê, a seleção aqui proposta (a partir da entrega dos textos revisados pelos autores), dá bem a medida da diversidade de temas e da fertilidade do campo.O tema geral do evento foi os 70 anos da promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Tal escolha tinha como objetivo refletir não apenas as discussões fora do âmbito acadêmico sobre a atualidade e a pertinência desta legislação, mas também o momento presente das pesquisas na área. O advento da CLT em 1943 é um marco simbólico importante do processo (que nasceu bem antes) da institucionalização de um arcabouço jurídico de regulação e proteção ao trabalho no país. As formas pelas quais esta regulação foi apropriada pelos trabalhadores, militantes ou agentes jurídicos são, ao nosso ver, temas essenciais para compreender a história do trabalho no país, ou melhor dizendo, a história do Brasil per se.Das leis referentes à escravidão até as tentativas de desregulamentações recentes, cada vez mais intensas, o universo dos direitos sociais se confunde e se molda em conjunto com o universo do Direito. Se o campo jurídico o define, a princípio, como diretriz de conduta da sociedade, estudos atuais mostram que os trabalhadores tomaram normas e tribunais como campos de luta e de possibilidades, esgarçando os limites das próprias definições legais.A realização das VII Jornadas só foi possível pela parceira ativa do GT Mundos do Trabalho com o Núcleo de Documentação Histórica (NDH), com o Programa de pós-graduação em História, e com o PET Diversidade e Tolerância da UFPel. O evento demonstrou, por um lado, a consolidação do GT como polo aglutinador de pesquisas e discussões em torno das temáticas do trabalho e, sobretudo, dos trabalhadores, e, por outro, a importância da articulação de diferentes instituições no âmbito da historiografia.Boa leitura! Alisson DroppaCoordenador do GT Mundos do Trabalho da ANPUH-RS, 2013Clarice Gontarski SperanzaComissão Organizadora do evento
  • v. 17 n. 18 (2012)
    Nestes números – 17 e 18 – referentes aos anos de 2011 e 2012, História em Revista publica os 26 trabalhos apresentados no I Encontro Estadual do GT História, Imagem e Cultura Visual realizado na Universidade Federal de Pelotas. Ainda, publica-se o artigo O Fotógtrafo, o olhar e a História de autoria de Ivo Canabarro. Nas linhas a seguir, serão apresentados um histórico do GT e da realização do encontro.Durante o VIII Encontro Estadual de História da Associação Nacional de História – Seção Rio Grande do Sul realizado em julho de 2010 na Universidade Federal de Santa Maria foi criado o Grupo de Trabalho (GT) História, Imagem e Cultura Visual da ANPUH-RS. Nos meses seguintes ao encontro a coordenação do GT começou a desenvolver a proposta de um encontro estadual que reunisse professores, alunos de graduação e pós-graduação e demais pesquisadores interessados pelos estudos que envolvem a História e as manifestações visuais. Dessa forma, o I Encontro do GT História, Imagem e Cultura Visual da ANPUH-RS foi realizado entre os dias 24 e 25 de novembro de 2011 nas dependências do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas.No primeiro dia aconteceu a conferência de abertura proferida pela Doutora Ana Maria Mauad, professora da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI) vinculado a UFF. No dia seguinte, pela manhã, se desenvolveram, simultaneamente, quatro sessões de comunicações nas quais foram apresentados 26 trabalhos desenvolvidos por mestrandos, mestres, doutorandos e doutores de diferentes instituições: UFPel, UFRGS, PUCRS, FEEVALE, UNISINOS, UDESC, UFSC, FACCAT, IENH, UCS, ISEI e Museu da Baronesa (Pelotas-RS). Na tarde do dia 25 de novembro duas mesas-redondas reuniram professores que pesquisam as imagens em seus diferentes suportes. A primeira mesa, intitulada História e fotografia, foi composta pelos professores doutores Charles Monteiro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Zita Rosane Possamai da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e por Francisca Ferreira Michelon da Universidade Federal de Pelotas. A segunda mesa, intitulada imagem e cultura visual, foi formada pelos professores doutores Daniela Pinheiro Machado Kern da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Aristeu Elisandro Machado Lopes da Universidade Federal de Pelotas e por Juarez José Rodrigues Fuão da Universidade Federal do Rio Grande.O encontro contou com 117 inscritos ouvintes formando um público de origem acadêmica bastante diversificada oriundo, em sua maioria, dos cursos de graduação da Universidade Federal de Pelotas. Além dos graduandos do Bacharelado em História e da Licenciatura em História, alunos dos cursos de teatro, artes visuais, museologia, conservação e restauro, ciências sociais, letras e antropologia se inscreveram. Essa diversificação do público demonstra que as discussões que envolvem a história e as suas manifestações visuais não se restringem a um determinado aspecto acadêmico, mas possuem interessados em diversas áreas.O I Encontro foi uma promoção do GT História, Imagem e Cultura Visual da ANPUH-RS realizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação em História da UFPel e com o Núcleo de Documentação Histórica da UFPel e contou com o apoio do Instituto de Ciências Humanas e da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura através dos serviços prestados pela Gráfica e Editora da UFPel. Assim sendo, ficam registrados os agradecimentos a coordenadora do PPGH e do NDH, Profª. Drª Beatriz Ana Loner, a Vice-Diretora do ICH, Profª Drª Lorena Almeida Gill e ao pró-reitor da PREC, Professor Manoel de Souza Maia. A coordenação do GT, composta pelo coordenador Aristeu Lopes, pela vice-coordenadora Carolina Martins Etcheverry e pela secretária Daniel Görgen dos Reis, agradece a fundamental participação dos alunos dos cursos de História da UFPel que trabalharam como monitores nos dias do encontro.A todos, uma boa leitura!Aristeu Elisandro Machado LopesCoordenador do GT História, Imagem e Cultura Visual da ANPUH-RS(2010-2012)Professor da Universidade Federal de Pelotas
  • v. 16 (2010)
    Prezado leitor,Com este número História em Revista chega ao seu 16º ano. Um ano de comemorações visto que o Núcleo de Documentação Histórica, do qual esta revista é a sua publicação, celebra seus 20 anos de atividades relacionadas a pesquisa, ao ensino e a extensão. Novamente com este número pretendemos divulgar no meio acadêmico os resultados de trabalhos científicos que apresentam rigor metodológico na abordagem de suas fontes. Assim, nesta edição História em Revista publica em suas páginas uma seleção de artigos acadêmicos relacionados a diferentes temáticas de pesquisas.Eduardo Palermo inaugura este número como o artigo Cautivos en las estancias de la frontera uruguaya. Trafico de esclavos en la frontera oriental en la segunda mitad del siglo XIX O objetivo principal do autor é analisar a situação de escravos e libertos capturados e sequestrados na fronteira entre o Uruguai e o Brasil. Esses escravos da fronteira acabavam servindo como mão-de-obra nas charqueadas de Pelotas ou então eram enviados para o Rio de Janeiro, sobretudo após o fim do tráfico negreiro Atlântico.No artigo seguinte Por se ter queimado uma preta escrava, com o pretexto de bruxaria: fronteira, impunidade e crença dos senhores no poder mágico-religioso de seus cativos (Rincão de Artigas / 1856) de autoria de Paulo Roberto Staudt Moreira continuamos na fronteira Brasil-Uruguai e na temática sobre a escravidão. O autor analisa um crime contra uma escrava acusada de ter poderes mágico-religiosos e, devido a isso, queimada num jirau por seu senhor.  Ao longo do artigo o autor verifica que além de ser um crime ocorrido na fronteira, o que poderia dificultar as frágeis relações entre brasileiros e orientais, o crime, apesar de cruel e desumano, não despertou o interesse das autoridades em investigá-lo.Já em Rede social e prestígio familiar nas cartas da Baronesa de Três Serros, Débora Clasen de Paula analisa as cartas de Amélia Hartley de Brito Antunes Maciel, a Baronesa de Três Serros, enviadas para sua filha Amélia Aníbal Hartley Antunes Maciel. No artigo a autora trata da questão do prestígio familiar e como se construíam as redes sociais em torno da Família Antunes Maciel, importante no cenário político e social pelotense no século XIX e início do XX.Alexandre Kohlrausch Marques no artigo A invasão da Abssínia e o jornal A Alvorada enfoca como o conflito no continente africano foi noticiado em A Alvorada, o principal jornal direcionado para a comunidade negra de Pelotas. Ao longo do trabalho o autor analisa as opiniões dos colaboradores do jornal demonstrando como a invasão da Etiópia serviu para a construção de uma identidade negra local.O artigo O comunismo e a União Soviética nas páginas da Revista do Globo (1930-1945) de autoria de Marisângela Martins analisa reportagens e artigos de opinião veiculados na Revista do Globoque trataram do comunismo e da URSS no período da Era Vargas. Ao longo do desenvolvimento do artigo a autora demonstra que as mudanças na direção da Revista do Globo também implicavam na veiculação de pontos de vista diferentes sobre o comunismo e a URSS.O artigo Voando com o Leão alado de São Marcos: a invenção do talian no Rio Grande do Sul foi escrito por Paulo César Possamai. Averiguar como ocorreu o processo de construção da identidade ítalo-sul-rio-grandense é o objetivo principal do autor. No desenvolvimento do artigo são analisadas como as identidades desse grupo étnico se construíram até a elaboração de um sentimento regionalista italiano denominado talian, como uma reafirmação da pertença étnica e da valorização dos costumes camponeses.Na seção Instrumento de trabalho Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill, Lóren Nunes da Rocha, Marciele Vasconcellos e Micaele Irene Scheer apresentam os procedimentos e alguns resultados do projeto desenvolvido no Núcleo de Documentação Histórica com os cerca de 100.000 processos da Justiça do Trabalho da Comarca de Pelotas pertencentes ao seu acervo. Os processos abrangem o período entre as décadas de 1940 e 1990 e possibilitam, por exemplo, averiguar as relações que os trabalhadores mantinham com as políticas trabalhistas.Boa leitura!
  • v. 15 (2009)
    Com este número, História em Revista completa seus 15 anos de existência. Se fosse uma mulher, diríamos “quinze primaveras” e, pelas normas dos tempos antigos, ela estaria apta a participar da vida em sociedade e a escolher/escolherem seu par para toda a vida. Se fosse um homem, aos 15 anos, estaria estudando ou se iniciando nas artes da profissão para a qual sua família/necessidade o destinara. De todas as formas, 15 anos é um marco, mesmo hoje em dia, em que as antigas regras não mais nos governam, o que, por sua vez, é um imenso progresso.Mas nosso tema aqui é uma revista, uma revista cientifica sobre a história e seu fazer, uma revista que foi fruto do esforço conjunto de vários professores e pesquisadores, ao longo de todo esse tempo e que, embora renovada continuamente em sua comissão e seu conselho editorial e, inclusive, em seu estilo gráfico, guarda ainda as marcas de uma produção artesanal, reiterada a cada número. Foi somente graças a persistência de sua equipe que ela conseguiu, ano após ano, trazer a luz um novo número e fazê-lo circular entre o meio acadêmico, para que o objetivo maior de sua criação fosse cumprido: discutir as novas produções na área de ciências humanas, especialmente aquelas feitas nas latitudes mais ao sul do nosso país. Este marco reflete também o apoio que recebemos da comunidade científica, historiadores principalmente, que atenderam ao nosso convite e enviaram seus textos, frutos de árduo trabalho, teórico e prático, para que ela pudesse refletir em suas páginas, um pouco da composição extremamente variada dos estudos em nossa área.E como para acentuar essa composição variada, neste número trazemos artigos bem diferenciados em relação a seus temas, embora alguns compartilhem uma preocupação fundamental com a memória e outros busquem analisar propostas/políticas de estado. Assim, Cathy Oullette, apresenta, com base em processos judiciais, um estudo sobre a moral sexual dos positivistas especialmente em relação à mulher no contexto da república gaúcha. Dois artigos remetem ao Estado e suas demandas: Joana Darc dos Santos analisa as formas possíveis da participação popular em Diadema, em anos recentes e José Antonio Fernandes nos remete a política do estado português em relação a suas (ex) colônias africanas no século XX.Com relação à construção da memória, suas implicações e caminhos temos a discussão de Maria Angélica Zubaran sobre as comemorações negras do 13 de maio em Porto Alegre, entendido como uma forma pedagógica de atuação na/da comunidade negra. A tentativa de construção da memória nacional uruguaia, a partir da comemoração das datas pátrias, é tema de Juarez Rodrigues Fuão, com base em dois periódicos do século XIX, El Siglo e La Nación. Contudo, há outros tipos de memória, e as memórias da infância podem ser dolorosas em casos como o analisado por Denise Bussoletti, que nos traz um ensaio sobre as crianças dos guetos de Terezin, na Segunda Guerra. Afortunadamente, uma infância mais feliz, é o objeto do trabalho de Carla Gastaud e Beatriz Zechlinski, que versa sobre uma experiência concreta de educação patrimonial no Museu da Baronesa, em Pelotas, realizada recentemente.Por fim, em Instrumentos de Trabalho, Caiuá Al-Alam e Marcelo Correa nos brindam com alguma luz sobre quem eram os indivíduos escravizados presos na cadeia de Pelotas, a partir dos poucos dados existentes sobre o assunto.Boa leitura! 
  • v. 12 n. 13 (2007)
    Este exemplar de “História em revista” traz, pela primeira vez, dois números reunidos na mesma edição, resultado da coincidência de alguns problemas, tanto de edição, quanto da infra-estrutura necessária, especialmente nestes últimos dois anos, causados, em parte, pelos transtornos de uma greve de docentes e técnico-administrativos, e seu conseqüente reflexo na vida acadêmica e administrativa das universidades federais.Assim, para ficarmos em dia com a sua periodicidade, estamos lançando um número duplo com dois dossiês diferentes, embora relacionados. Nossa intenção é procurar manter a revista em dia a partir de agora, buscando uma qualificação crescente de seus artigos.Nesta procura pelo aperfeiçoamento, depois de intensa discussão, procuramos modificar sua apresentação gráfica, embora preservando a sua estrutura interna, de forma a torná-la mais atraente e atualizada. Esperamos que os leitores apreciem estas modificações, como nós apreciamos fazê-las.Quanto ao seu conteúdo, no primeiro dossiê, “História e Cidade”, aparecem os artigos de Paulo César Possamai, que analisa o papel que a Colônia de Sacramento desempenhou dentro do Império Colonial português.Aristeu Lopes faz uma abordagem inovadora no estudo sobre jornais, concentrando-se nas representações da proclamação da República que aparecem em charges do periódico A Ventarola, jornal literário de finais do século XIX em Pelotas.Por fim, três artigos se concentram na análise de uma Pelotas que apresenta inúmeras deficiências, podendo ser vista como extremamente contraditória. Ao lado de espaços de riqueza e opulência, proporcionados ainda pela produção do charque, existia uma enorme população marginalizada. Lorena Almeida Gill analisa esta dualidade a partir das histórias de vida de Francisco Lobo da Costa, um poeta e Salvador Duarte, um jornaleiro; Rosa Rolim de Moura concentra o seu olhar na expansão urbana e na construção das chamadas vilas proletárias pelotenses; já Cíntia Vieira Essinger avança no tempo e observa alguns aspectos da vida de trabalhadoras de fábricas de tecidos, nas décadas de 1940 e 1950, numa visão ampla, que transcende as limitações decorrentes ao gênero no quotidiano da fábrica, discutindo seus locais de moradia e a espacialização dessas casas dentro da cidade.O segundo dossiê ganhou o nome de “As difíceis artes do bem viver”, porque tem como unidade a trajetória de setores ou indivíduos das classes oprimidas, em várias situações e momentos, e as formas pelas quais eles tentaram resolver seus problemas, com ou sem sucesso.Caiuá Cardoso Al-Alam discute a organização da força policial na cidade de Pelotas, como uma instituição que servia para impor o controle sobre os escravos e os populares, mas centrando seu olhar sobre os conflitos internos entre os próprios membros da força policial, a  instituição e seus superiores.Jovani de Souza Scherer propõe-se a discutir dois tipos de experiências vivenciadas pelos escravos durante a Guerra dos Farrapos: a fuga e a libertação, através das cartas de alforria, evidenciando que, no segundo caso, a maioria das alforriadas eram mulheres.Rodrigo de Souza Weimer analisa um caso criminal envolvendo uma contratada e sua ex-senhora em São Francisco de Paula, e, pela própria construção do texto, elabora as várias leituras propiciadas pelo escabroso processo, enquanto o historiador se aprofunda no desvelamento das causas do crime e da trajetória da criminosa.Fechando o dossiê, Carla Gabriela Cavini Bontempo, aborda a situação desalentadora em que foram jogados os imigrantes  trazidos especialmente para Pelotas nos últimos anos da década de 1880, período final  do império e início da República.Na seção “Instrumentos de trabalho” o professor Paulo Ricardo Pezat apresenta uma listagem das publicações da Igreja Positivista do Brasil pertencentes ao acervo do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel e disponíveis para consulta. Tais documentos são bastante raros e importantes para aqueles pesquisadores que se dedicam à temática.Este número encerra com a publicação de duas resenhas: uma de um professor do Mestrado em Ciências Sociais, William Héctor Gómez Soto, que analisa a obra “Freaknomics – o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta” e a outra, de uma mestranda do mesmo curso, Marília Flôor Kosby, que reflete  sobre o livro “No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira”.Desejamos a todos uma ótima leitura.Lorena Almeida Gill 
  • v. 11 (2005)
    Durante o VII Encontro Estadual de História da ANPUH, em Pelotas, em 2004, foi realizada uma reunião de pesquisadores, cujas preocupações giravam em torno da saúde e da doença, na qual se decidiu pela formação de um Grupo de Trabalho Nacional denominado “História e Saúde” e pela organização de um número da “História em Revista”, com este tema, em um dossiê especial.A organização desse dossiê foi muito fácil, pois recebemos uma significativa quantidade de artigos, os quais foram responsáveis pela revista ter ultrapassado seu número normal de páginas. Desses, selecionamos aqueles mais adequados ao nosso propósito, que aqui entregamos com alegria aos leitores.Assim, nas páginas seguintes os leitores poderão apreciar a contribuição de pesquisadores como Nikelen Acosta Witter (Coordenadora do GT Nacional) que escreveu sobre a história da doença no RS entre os séculos XVIII e XIX, apontando para o fato de que havia uma espécie de idealização do ambiente do Estado, embora a presença de inúmeras e mais diferentes doenças.Já André Luiz Vieira de Campos, estudou o Serviço Especial de Saúde Pública, uma agência brasileiro-americana, criada em 1942, com o objetivo de propor novas políticas sanitárias para determinadas regiões brasileiras e que atuou fortemente como instrumento de expansão da autoridade pública, especialmente nos sertões.Com relação à lepra, Juliane Conceição Primon Serres centrou sua abordagem nos discursos e nas práticas sobre a doença, enfatizando a campanha contra a moléstia no Rio Grande do Sul, a partir do trabalho desenvolvido no Hospital Colônia Itapuã.Outros artigos trataram principalmente da relação da doença com o conjunto da população atingida, como o de Viviane Trindade Borges, cuja temática baseia-se em experiências de história oral com pacientes portadores de sofrimento psíquico internados em Viamão/RS e o de Lorena Almeida Gill, uma discussão sobre a existência de várias epidemias na cidade de Pelotas (RS) e de uma em especial, a tuberculose, causadora de um contingente impressionante de mortes.Também houve análises buscando a relação das práticas de medicina com a tolerância social, como a de Sandra da Silva Carelli, que tratou da construção da idéia de maternidade e aborto provocado, utilizando-se da imprensa rio-grandense entre 1850 e 1919; outro artigo versou sobre enfermidade e cura nas reduções jesuítico-guaranis, no século XVII – na pesquisa de Eliane Cristina Deckmann Fleck, com a análise das mudanças nas práticas mágico-terapêuticas dos guaranis, tendo em vista a convivência com missionários jesuítas.Na seção “Instrumentos de Trabalho” publica-se uma coleção de três artigos denominados “Em favor dos operários – casas baratas”, publicado no jornal diário pelotense vinculado à maçonaria, A Tribuna, de 1911. Tal material possibilita discutir sobre a habitação dos mais pobres a partir da freqüente dicotomia cortiços X vilas operárias.Na seção resenhas, se continuou a discussão do mesmo tema, pois  Sidney Gonçalves Vieira apresentou “Visões do Feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX”, de Ana Paula Vosne Martins, que apoiada em uma metodologia foucaultiana, discorre sobre as várias representações sobre o corpo feminino no transcorrer do tempo.Esperando ter cumprido com a tarefa de traçar um breve panorama das pesquisas atualmente em curso nesta área, resta desejar a todos, uma ótima leitura.
  • v. 10 (2004)
    Este é um número especial de História em Revista, que contém os Anais do VII Encontro Estadual de História da Associação Nacional de História, ANPUH, núcleo Rio Grande do Sul, ocorrido de 19 a 23 de julho de 2004, na UFPel e que congregou um expressivo número de pesquisadores e estudantes de história.O evento teve por título “História, memória e testemunho”, mas em sua programação, muitos outros assuntos e temas foram discutidos, como o comprova o próprio conjunto dos textos que agora são disponibilizados por escrito. A diretoria da ANPUH priorizou, na conferência de abertura e em um dos painéis, o tema do encontro, enquanto outro dava conta da necessária reavaliação do golpe de 64 em seu quadragésimo aniversário. Quanto as mesas redondas, elas foram propostas e organizadas pelos vários GTs em funcionamento no estado.Aqui se encontram publicados os textos referentes aos painéis e mesas redondas que aconteceram durante o evento. Alguns palestrantes decidiram por não disponibilizar seus textos para publicação. Mesmo assim, sobrou suficiente material e de qualidade, para montar este número que agora vocês têm em mãos. Entretanto, como algumas mesas ou painéis ficaram sem a integra das contribuições apresentadas, optamos por colocar os artigos por ordem da apresentação no próprio encontro.O fato deste número da revista representar os anais do encontro, de certa forma trouxe modificações em sua padronização interna, pois esta edição não contempla seções normais, como instrumentos de trabalho e resenhas, além de não ter mantido a exigência de resumos/abstracts, devido à própria diversidade das contribuições apresentadas. Essa mesma variedade fica evidente nos artigos, com alguns mantendo uma liberdade maior, própria de “papers” apresentados oralmente e outros seguindo as regras acadêmicas formais, alguns deles baseados em trabalhos acadêmicos de seus autores.Entretanto, no seu conjunto, eles refletem boa parte do que se constituiu no evento, salutar e renovada experiência de encontro de historiadores oriundos de realidades diversas, tanto em termos de locais de ensino, quanto das metodologias de pesquisa, sem falar na multiplicidade de objetos e temas de pesquisa. Essa diversidade é por nós saudada com orgulho e estará presente em cada um dos textos que fazem parte deste número especial de nossa revista.Finalmente, temos que lembrar que este número também apresenta diferenças em sua editoria, que é conjunta, representando um momento de transição. A acumulação de tarefas, necessária em departamentos pequenos para a qualificação de seus quadros, finalmente foi encerrada e torna-se possível uma renovação editorial, representada na pessoa da professora Lorena Almeida Gill, que já está encaminhando a próxima edição comemorativa dos 10 anos de História em Revista.Beatriz Ana Loner
  • Caminhos da história
    v. 9 (2003)
    História em Revista, em seu 9º número, se dedica a incursionar pelos caminhos da história, tanto revisitando fontes e temas, quanto detendo-se na análise e teorização do conhecimento histórico e historiográfico atual.Cada novo momento propõe novos desafios, mas também traz perigos à ciência histórica e não são poucos aqueles que prevêem seu fim como ciência e sua substituição por formas variadas do fazer literário. Entretanto, a enorme vitalidade da disciplina, sua incrível flexibilidade quanto a temas e sua abertura a novos enfoques, deixam claro que ela é, das ciências humanas, a que possui maior vitalidade e possibilidade de, aceitando as novas contribuições, continuar em seu papel básico, que é conhecer e interpretar o passado humano.Os artigos incluídos nesse número, não tem uma resposta comum a essa questão, e muitos sequer se preocupam explicitamente com ela, mas trazem, individualmente, propostas diferenciadas de como lidar com os novos modos de fazer história.Com relação à teoria e historiografia, temos o artigo de Silvia Petersen sobre a historiografia brasileira contemporânea, que, embora seja um trabalho feito para ser apresentado a um público estrangeiro, não perde nenhuma das qualidades necessárias a uma boa análise das influências, temas e tendências em voga atualmente no Brasil. Quanto ao artigo de Fernando Nicolazzi procura esmiuçar o pensamento de Paul Ricoeur com relação ao discurso historiográfico.Quanto à forma de trabalho com as fontes, um instigante exemplo de utilização da poesia como fonte para a análise histórica é apresentado pelo estudo de Carlos Rangel, que versa sobre dois poetas de Rivera, no Uruguai, fronteira com o Brasil. Através de sua pesquisa, que incluiu a manipulação de outras fontes tradicionais, como documentos escritos e dados estatísticos, Rangel conseguiu explorar de forma inovadora a representação identitária dessa comunidade fronteiriça através dos versos de Olintho Simões e Agustín Bisio, bem como suas relações com o universo cultural e social brasileiro, que transparece nos próprios versos estudados.Maria Cecília Pilla contextualiza o surgimento e evolução da noção de civilidade na sociedade européia, utilizando-se dos manuais de boas maneiras, que procuravam orientar as relações entre iguais nas classes superiores. Seu trabalho consegue nos apresentar uma interessante visão do desenvolvimento da noção de civilidade e boas maneiras na sociedade ocidental européia e na brasileira.Mas, mesmo fontes já consagradas, como são as correspondências epistolares, ainda se constituem em campos abertos para a atuação histórica, como o comprova o artigo de Paulo Ricardo Pezat, baseado na correspondência trocada entre um membro da Igreja Positivista do Brasil, médico e militar, durante a Revolução Federalista, com lideranças positivistas do Rio de Janeiro, na qual se mesclam as visões do médico sobre a barbárie da guerra, as convicções do positivista sobre a difusão de sua doutrina e as simpatias do militar republicano para com os castilhistas durante a revolta. Embora bem explorada pelo autor, o próprio artigo deixa entrever vários outros usos dessa correspondência, especialmente em relação ao cotidiano e as relações familiares estremecidas pela guerra.Ana Teresa Gonçalves traz, baseada em grande erudição, uma reflexão sobre a forma como os Severo, em Roma, utilizaram-se de várias estratégias, entre elas a representação de imagens, na formação de apoios entre alguns segmentos sociais, lidando com a evolução dessa representação ao longo das etapas da vida de Septimio Severo.Por último, temos o artigo de uma recém egressa do curso de história da UFPel, Beatriz Zechlinski, sobre as relações entre literatura e história, tema de sua monografia de conclusão de curso. Até aqui, a revista sempre procurou oportunizar a publicação dos resultados dos trabalhos finais dos alunos, como forma de valorização do seu trabalho. Este artigo foi escolhido, entre outros três, por uma comissão de professores do curso.
  • v. 8 (2002)
    O volume 8 de História em Revista traz algumas modi-ficações na estruturação interna da revista, resultado de trans-formações do próprio Núcleo de Documentação Histórica, consolidando-se como um núcleo de pesquisadores mais ligados aos temas de História Social. Entretanto, a edição da Revista continuará contemplando, tanto em sua Comissão, como no Conselho Editorial, um espectro mais amplo de historiadores e, em suas páginas, continuará fiel aos seus objetivos iniciais, de promover o desenvolvimento da pesquisa e divulgar a produção historiográfica ou de áreas afins, com ênfase na região sul do nosso Estado.            Dentro destes eixos, este número traz artigos que analisam aspectos da vida social e cultural da cidade no século XIX e/ou sua relação com a literatura ali produzida. Há, ainda, um alentado trabalho sobre o contrabando nas fronteiras do Estado gaúcho. Embora reconheçamos que alguns artigos extrapolam os limites de páginas estabelecidos pela própria Revista, entendemos também que esse tipo de limite serve como recomendações à escrita e não devem ser obstáculos à publicação de textos relevantes.            Também fazem parte artigos sobre assuntos de pertinência nacional, como é o caso da análise sobre o Código Eleitoral de 1932 e as formas da representação classista na Constituição de 1934, ou internacional, como o trabalho sobre aborto e contracepção na Grécia Antiga. Ainda publica-se um artigo, elaborado inicialmente como trabalho de conclusão do curso de História, de discussão historiográfica sobre a Guerra do Paraguai. Por fim, uma resenha sobre a obra de François Hartog, historiador francês da atualidade, dá a exata dimensão da orientação plural da Revista.            A seção Instrumentos de Trabalho apresenta-se com maior espaço neste volume, consubstanciando-se em três textos repre-sentativos das preocupações com o tema. Assim, temos um trabalho sobre a colonização irlandesa na zona sul, a análise e descrição da Liga Operária de Uberabinha-MG e um depoimento analítico sobre as dificuldades de trabalho com acervos históricos.            Desejamos a todos uma boa leitura. Beatriz Ana Loner
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